Abaixo texto escrito pela escritora Itaocarense, com coração Aperibeense, Valéria Leão, apresentado na noite do sábado, dia 13 de Julho, na Feira Literária Internacional de Paraty - FLIP - principal evento brasileiro do gênero.
Valéria apresentou A Noite de São João na FLIP |
Naquela noite fria de cerração abaixo
do olhar, em um arraial perdido no meio do nada, a jovem zeladora da pequena e
singela capela rural de São João da Serra estava concentrada em executar bem
suas tarefas para o bom andamento da quermesse que acontecia na pequena
localidade.
Tudo corria bem. As beatas rezavam, as
crianças brincavam de roda, moças e rapazes trocavam olhares sob a vigilância
severa de seus pais; os homens se distraiam nas barraquinhas de jogos, entre um
e outro trago para esquentar o corpo e a alma.
O tempo foi passando naquela
velocidade acelerada típica dos momentos de lazer. No adiantado das horas
daquela noite fria, quando a festa já se encaminhava para o seu final, o
inesperado acontece, levantando a poeira da estrada de terra batida, em seu
jeep, acompanhado por alguns amigos, eis que chega o belo rapaz.
Não era tão jovem quanto a bela morena
de longos cabelos negros, mas esbanjava auto confiança e tinha o charme dos
grandes sedutores. A fama que o precedia era de ser um homem de bom coração,
mas, também, a de ser um conquistador dos corações das mulheres indefesas.
A bela morena e o recém chegado
trocaram o primeiro olhar. Ninguém poderia prever, naquele momento, que o amor
iria fazer morada naqueles corações.
Eram outros os tempos. O divórcio não
era permitido no país e a sociedade não via com sentimentos de generosidade e
aprovação os relacionamentos entre pessoas solteiras e seus pares que já haviam
sido casados anteriormente.
A diferença de idade entre ambos era,
também, um fator desfavorável ao novo casal que surgia sob as bênçãos de São
João.
Mesmo diante de tantos obstáculos, ela
enfrentou a oposição de sua família, a resistência inicial da família do seu
amado, os preconceitos e as maledicências da época e, com o coração transbordando
de amor e coragem, seguiu o seu destino.
O tempo se encarregou de acomodar lentamente
as relações familiares. O nascimento da primeira filha não foi o bastante para
apaziguar os ânimos; o novo casal precisaria ainda vencer muitas provas.
Aquele homem sedutor não era o mais fiel dos
parceiros, mas, paradoxalmente, era um companheiro de primeira grandeza.
A bela morena dos longos cabelos
negros precisou de muita fé, persistência e de um amor infinito para superar
tantas dificuldades.
Os anos se passaram. Vieram outros
filhos. A vida seguiu seu rumo. E, de repente, a velhice chegou trazendo com
ela todas as fragilidades humanas.
Cinqüenta anos se passaram, era hora de dizer
adeus. Ele partiu para o descanso eterno e ela, de coração partido lhe disse
" até um dia na eternidade".
Nos últimos anos, as noites de São
João trazem com elas, além de muita saudade, as lembranças de um amor que
resistiu ao tempo e deixou como fruto, uma família unida e consciente de que a
vida nos é dada para vencermos os obstáculos em defesa dos nossos sonhos e
projetos.
Eles poderiam se chamar Maria e José,
poderiam ser os pais de muitos de nós. Essa linda história de amor é real, sou
um dos frutos gerados por ela.
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