“Cigarra
cantando, fim de ano chegando”... As celebrações e confraternizações
que culminam o encerramento de um ciclo temporal vêm com inúmeras perspectivas
e reflexões. Enquanto algumas pessoas ficam animadas com o encerramento do ano
e a inauguração de um novo período na vida, cheio de novas possibilidades e
desafios, a verdade é que nem todas as pessoas estão no clima festivo ou
alegre, típico da época em nossa sociedade. Há quem receba a época das
confraternizações e do fim do ano com certa melancolia e essa sensação pode ser
mais comum do que se imagina. Ao caminharmos para o fim de mais um ano, trago
considerações sobre as avaliações e expectativas pessoais com notas e dicas que
podem ajudar a todos.
Drª Erilza Faria é Psicóloga Clínica, Mestre em Ensino e Docente na UFF |
Um dos motivos que podem provocar
forte angústia e ansiedade ou até mesmo atenuar sentimentos depressivos (em
qualquer época, mas nessa principalmente) é a exibição constante de imagens e
situações felizes que ocorre na mídia a que temos acesso diariamente. Esses
conteúdos podem fazer com que muitos de nós questionemos a qualidade de nossas
próprias vidas e relacionamentos, a partir da consideração de que os outros
estão sempre em situações melhores, parecendo destacar que algo nos falta para
ter a mesma felicidade. Outro fator interligado a todos os demais é a busca por
dar um sentido à sua existência que muitas vezes acontece de forma equivocada,
sem autenticidade, com alta cobrança pessoal e busca para alcançar pontos que
não fazem sentido ou não são possíveis no momento, o que provoca grande
angústia, ansiedade, insatisfação e procrastinação ou fuga das situações.
O fim do ano também pode se tornar
particularmente difícil para aqueles que lidam com conflitos familiares ou com
rompimentos ou perdas por trazer a lembrança do que um dia já aconteceu ou do
que gostaria muito que acontecesse, mas não é possível. Esses e outros fatores
podem funcionar como um gatilho para pessoas com quadros de depressão e
ansiedade, podendo tanto evidenciar a tendência a reagir dessas maneiras ou a
dificuldade para lidar com a situação de vida atual quanto ampliar quadros já
identificados.
Parece haver uma exigência social de
estar feliz nessa época. E como isso não é bem verdade, muitas pessoas se
cobram por não estarem “no clima” e podem sofrer ainda mais. Como o fim do ano
marca o fim de um ciclo, é o momento em que fazemos um balanço de nossas
realizações e projetos estabelecidos durante o ano que passou. Quando as coisas
não acontecem da maneira como sonhamos, tendemos a focar nas metas não
cumpridas, em tudo o que deixou de ser realizado ou não foi satisfatório, e aí
surgem a culpa e a frustração, que causam uma angústia com a qual muitos não
conseguem lidar bem.
Além disso, pensar no ano que se
aproxima cria uma sensação de que tudo precisa ser diferente e surge novamente
as cobranças e estabelecimento de metas revolucionárias que, muitas vezes, mais
pressionam do que motivam. Só de pensar o coração dispara, a respiração se
descontrola, o pensamento e as ações se desorganizam gerando uma enorme
ansiedade com a qual se torna difícil lidar sozinho. A falta de um planejamento
prévio pode transformar situações que seriam simples em verdadeiros desafios ou
então acontece de se planejar demais, começando a pensar e produzir os
preparativos muito tempo antes, vivenciando o estresse antecipadamente, em
ambos os casos a ansiedade aumenta e o controle emocional diminui.
Como Vivenciar as Emoções
do Fim de Ano?
do Fim de Ano?
Para lidar com essas emoções é muito
importante compreender que isso faz parte de um ciclo da vida e que de alguma
forma, em algum momento, isso vai passar. Tem muito valor se utilizar desses
momentos para se conhecer melhor, reconhecer suas forças e fraquezas, respirar
fundo e gerenciar melhor seus projetos, metas e expectativas. Muitas vezes a
insegurança frente ao desconhecido nos paralisa e gera bloqueios maiores que a
realidade, e quando o desconhecido somos nós mesmos, podemos não compreender o
momento que estamos passando do melhor ponto de vista. Desse modo, ao invés de
encontrar nossas forças, vamos nos diminuindo cada vez mais, sentindo-nos cada
vez mais fracos e ficando cada vez menos capazes de lidar com as situações que
acontecem na nossa vida. Por isso é importante que se busque ajuda profissional
do Psicólogo para te orientar e acompanhar para a mudança de perspectiva e
reduzir os sintomas da ansiedade e depressão.
Para aqueles que se sentem em algum
dos exemplos citados acima – por estarem vivenciando um quadro de depressão, de
ansiedade, sentindo vazio devido ao caminhar de certas situações em sua vida ou
pela perda de algum relacionamento ou ente querido, ou qualquer outro momento
que provoque uma angústia exacerbada – é importante lembrar que você não está (e
nem precisa estar) sozinho para lidar com tudo isso. Fale de seus sentimentos e
angústias a alguém de confiança, busque ajuda profissional e meios para
conseguir passar por esse momento. Muitas vezes, quando se sente mais sozinho e
perdido, não conseguindo encontrar sentido para sua vida, o pensamento suicida
pode ocorrer. Mas lembre-se antes que ainda que não esteja conseguindo ver,
existem outras perspectivas e soluções para sua existência antes que ela se
encerre na inconcretude. Não deixe de buscar ajuda!
ALGUMAS DICAS
Muitas coisas ainda podem ser faladas
e trabalhadas em cada caso, mas, por hora, quero deixar aos leitores algumas
dicas e orientações para lidar com essas emoções difíceis e com a chegada do
fim do ano. Na verdade, não há fórmulas prontas para resolver as situações da
vida que são tão subjetivas, mas a mudança é um processo contínuo e mais
possível do que pode parecer.
O
primeiro passo
é o autoconhecimento, ou seja, identificar seus sentimentos e aceitá-los.
Reconhecer e aceitar o seu estado de espírito é importante para passar pelos
momentos difíceis de forma autêntica. Não existem pessoas 100% felizes todo o
tempo, todos nós estamos em uma batalha pessoal, por isso não se sinta na
obrigação de parecer feliz e satisfeito em todos os lugares. Se dê o direito de
ficar mais reservado e aproveite a fase para exercitar seu autoconhecimento;
encare as frustrações tentando entender o porquê de se manifestarem; se o
coração apertar demais, chore e alivie a pressão. Não fugir dessas emoções é
muito importante para que elas sejam superadas.
Outras
atitudes reflexivas importantes são olhar para você mesmo sem buscar
comparações com as outras pessoas; não acentue reclamações e lamentações, pois
elas não te mostram soluções; não seja tão rigoroso com as metas não alcançadas
– permita-se reorganizar seus planos; não fique preso ao passado, crie metas
mais realistas para o próximo ano; liste compromissos elegendo as prioridades; saiba
dizer não e se priorizar; faça o bem a si mesmo e aos outros, mas não queira
dar conta de tudo sozinho.
Lembre-se
de avaliar não apenas os resultados, mas o esforço feito e o tanto que
alcançou, ainda que não tenha sido a meta estabelecida. Considere que muitos
fatores interferem e que cabe a você dar a melhor interpretação para eles em
sua vida. Planeje um passeio com familiares e amigos para sair da rotina,
participe de ações voluntárias para se sentir útil e recompensado, exercite-se
e conecte-se com a natureza fazendo uma caminhada para liberar e consumir
energias e cultive as amizades que têm um significado especial.
Se você não se sente da maneira
citada, mas conhece alguma pessoa que está assim, busque ajudá-la sendo uma
presença próxima, não a recriminando, dando soluções rápidas ou dizendo para
não ficar assim. Esteja com ela, apoie oferecendo conforto e esperança de que
as soluções surgiram quando pararmos de olhar somente para o(s) problema(s).
Desejo um fim de ano e início de ano
novo repleto de reflexões produtivas e cheias de força e esperança,
disponibilizando desde já minha escuta e acolhimento profissional para aqueles
que sentem necessidade de orientações mais específicas. Uma vida plena a todos!
Me.
ERILZA FARIA RIBEIRO – CRP 05/46629
Psicóloga
Clínica, Mestre em Ensino e Docente na UFF, Especializada em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial.
Contato: (22) 981286108
instagram@erilza_faria
facebook@erilzafariapsicóloga
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