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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Ronald Thompson: "A Bondade e a Ética do Príncipe Míchkin nos agridem por expor nossas hipocrisias"

Pergunte a qualquer um, até aos bandidos mais cruéis, se o modo correto de viver é respeitar e amar uns aos outros? Verá que a resposta é SIM. Porém, no dia a dia, bandidos e não bandidos, quando estão em situações que podem se beneficiar, desrespeitando os outros, a gigantesca maioria vai pisar no pé de quem está no caminho.

Os alunos colam nas provas, os motoristas bebem e dirigem, homens e mulheres pulam o muro nas relações amorosas, jogam lixo no chão, furam fila e etc. A diferença é que os bandidos são mais honestos do que os não bandidos. Não justificam o que fazem com desculpas que nem eles mesmos acreditam. Neste sentido os bandidos são mais verdadeiros.

O escritor Russo, Fiódor Dostoiévski, é autor da obra O Idiota, cujo personagem central é o Príncipe Míchkin. Este livro não é para ser lido por qualquer um, porque suas lições são dolorosas. É a história de um homem que acredita de corpo e alma na bondade humana. Quando é enganado, passado para trás, o nobre Míchkin tem plena certeza que quem o traí vai reconhecer o erro e se apresentar publicamente para assumir responsabilidade. Ele é O Idiota do título.

Durante toda obra o que se lê são situações que vão expondo as crenças que muitos têm sobre o valor da bondade. Não que a bondade não seja fundamental, mas porque nós só a praticamos da boca para fora. Num mundo competitivo, vamos atropelando quem se opõe ao que queremos conquistar. “eu ou ele, eu primeiro”. O cotidiano dá razão a Thomas Hobbes que escreveu que O HOMEM É O LOBO DO HOMEM.

Do meu ponto de vista, o mais triste é a hipocrisia que a maioria adota. Vão a igreja orar e cultuar o bem, mas desrespeitam completamente seus semelhantes.

Willian Shakespeare escreveu no livro O Rei Lear:

Eis a sublime estupidez do mundo; quando nossa fortuna está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres; como se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por influência celeste; escroques, ladrões e traidores por comando do zodíaco; bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obediência a determinações dos planetas; como se toda a perversidade que há em nós fosse pura instigação divina. É a admirável desculpa do homem devasso - responsabiliza uma estrela por sua devassidão. Meu pai se entendeu com minha mãe sob a Cauda do Dragão e vim ao mundo sob a Ursa Maior; portanto devo ser lascivo e perverso. Bah! Eu seria o que eu sou, mesmo que a estrela mais virginal do mundo tivesse iluminado a minha bastardia.

Palavras fortes, mas se formos honestos veremos quão verdadeiras. Pense: como conciliar o amor ao próximo com atitudes que agridem nossos semelhantes? Aplausos e prazer por “vencer” os que se opõe a nós, sem se preocupar o quanto a derrota vai afetar a vida do outro? Imagine ceder a vitória, escolher a derrota, só porque o outro precisa mais da conquista. Quem faz isso? Só mesmo o Príncipe Míchkin, o Dom Quixote criado por Dostoiévski.

Jean-Paul Sartre escreveu que "o inferno são os outros”. Mas se pensar direito, vai ver que “o inferno somos nós”. Não há bondade alguma na falta de ética, em agir com egoísmo para satisfazer nossas necessidades narcisistas.

Gostaria de fazer-lhe um pedido, se chegou até aqui. Vamos mudar o mundo de verdade. Pare de iludir-se, pensando que um dia vamos eleger um bom político e tudo vai ser melhor. Os políticos são eleitos por nós e só vamos eleger um bom político, que realmente se preocupe conosco, quando nós deixarmos de ser egoístas. Não responsabilize os políticos por sua falta de generosidade.

Dostoiévski escreveu que se queremos vencer o mundo inteiro, o primeiro a conquistar somos a nós mesmos. Qualquer coisa de verdadeiro valor só surge quando genuinamente fazemos o máximo para tornar nosso ambiente melhor. A base disto é a ética, na família, no trabalho, na vizinhança, nas redes sociais e etc.

Se a vida for além dos sentidos que percebemos, será justamente na hora da morte que vamos perceber que é melhor ser o Idiota do Príncipe Míchkin, a ser os “espertos” que nos derrubam e riem pensando que foram vitoriosos. Pobres coitados.


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