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domingo, 11 de novembro de 2018

Pedro Peçanha: O Sapateiro que conquistou o respeito dos Itaocarenses


Um dos principais comerciantes da história do município é o lojista Pedro Peçanha, fundador das Lojas Peçanha. Porém, poucos sabem que quando começou sua atividade, sapateiro não era dono de loja, mas sim quem consertava e fabricava sapatos. Leia como ele conseguiu superar as dificuldades da infância e construir uma família cujos filhos são atualmente pessoas respeitas por toda Itaocara.

O Patriarca do Clã Peçanha, Pedro Peçanha, com a esposa Dionéia Gomes Peçanha e os filhos, todos empresários, Liete, Rosendo e Jaffer
Nova Voz On Line – Que lembranças têm de sua família na infância?
Pedro Peçanha – Nós éramos muito pobres. Meu pai se chamava Amaro Ribeiro Peçanha e era pescador. Minha mãe, Natalina do Couto Peçanha. Eu tive treze irmãos. Certa época passamos tantas dificuldades, que fomos morar de favor na casa do Eurico de Assis.


Nova Voz On Line – Como era a Itaocara antiga?
Pedro Peçanha – O calçamento existia em raríssimos lugares. O resto era de terra batida. Muitos cavalos. Não havia iluminação. Poucos tinham rádios. Era comum as pessoas se reunirem do lado de fora das casas, para escutar o rádio do vizinho. A chegada do trem na cidade, sempre causava rebuliço. Todos iam ver quem estava vindo. Alguns garotos buscavam a bagagem na estação, para levar para os hotéis da cidade.

Nova Voz On Line – O trem tinha um papel importante naqueles tempos?
Pedro Peçanha – Uma das coisas que nos prejudicou bastante foi o fim das ferrovias. Levamos décadas para superar a perda que tivemos. Lembro-me de ir, com 12 anos, até São Gonçalo, na Maria Fumaça. Saímos 7 horas e chegamos ao destino às 17 horas. Foi uma grande aventura. Acredito que a simplicidade do modo de vida daqueles tempos, deixou lembranças positivas, mesmo dos momentos mais árduos.

Nova Voz On Line – Com quantos anos você começou a trabalhar?
Pedro Peçanha – Meu pai, com muita dificuldade, conseguiu comprar uma pequena sapataria, que na época era atividade de consertar e fazer sapatos. Não era loja, como nos dias de hoje. Ali, quando tinha 8 anos, aprendi o ofício de sapateiro, graças à paciência do Moacyr Peçanha e do Washington Rimes. Quando meu pai precisou vender o negócio, não quis continuar na profissão e fui trabalhar de servente de pedreiro, já com a idade de 12 anos. Tenho orgulho de dizer, que o prédio do João Dias, ajudei a construir com o suor do meu trabalho. Depois o pai do José Romar, Sr. José Cortat, me contratou para trabalhar na cerâmica de tijolos.

Nova Voz On Line – Quando voltou a trabalhar com sapatos?
Pedro Peçanha – Essa história está ligada ao meu casamento. Sou batizado na Congregação Cristã do Brasil, desde os 12 anos. Foi nos cultos que conheci minha esposa. Eu tinha então cerca de 16 anos. Ao completar 19, casei-me com minha esposa, Dioneia Gomes Peçanha. Tendo que sustentar minha nova família, resolvi me dedicar à profissão que aprendi: a de sapateiro. Da nossa união, surgiram três filhos: Liete, Roseno e Jaffer.

Nova Voz On Line – O início foi difícil?
Pedro Peçanha – Bastante. O primeiro lugar em que trabalhei, foi próximo a rodoviária. Depois mudamos para aonde está hoje o José Peçanha. Meu trabalho básico era concertar sapatos. Porém, certo dia, resolvi fabricar sandálias. Fui a Niterói, me lembro que rodei bastante, até achar um lugar que vendia matéria prima. Ao voltar para Itaocara, às mulheres passaram a me procurar na sapataria. Mostravam-me nas revistas compradas nas bancas de jornal, o que queriam, e eu, sem ninguém jamais me dar uma aula de como fazer, fabricava as sandálias. Aos poucos, minha atividade foi ficando conhecida, e a clientela aumentou bastante.

Nova Voz On Line – E a loja?
Pedro Peçanha – O grande sonho era abrir minha loja de sapatos. Economizei bastante, até que um dia Deus me abençoou e pude comprar aonde hoje é a Pés e Pés Calçados, do meu filho Jaffer. Trabalhava bastante. Era comum, por exemplo, começar o dia às 5 horas da manhã e ir até 22 horas. Sábados, domingos e feriados, eram dias de trabalho. Hoje posso e dizer que isto tudo foi uma maravilha. Considero o trabalho como uma coisa digna, não importa o que seja, desde que honesto.

Nova Voz On Line – Seus filhos foram criados com estes valores?
Pedro Peçanha – Meus filhos nunca ficaram perambulando pelas ruas à toa. Respeito os que gostam, mas digo com orgulho que eles nunca fumaram, nem nunca beberam. Sempre respeitaram bastante, tanto a minha pessoa, quanto a mãe deles. Por vezes quem preza a família é taxado de antiquado. Se for assim, não tenho nenhum medo de ser antiquado. O respeito entre pais e filhos é essencial. Hoje posso dizer feliz, que faz muitos anos meus filhos conquistaram a independência profissional e financeira. Eu também não sou pesado a eles.

Nova Voz On Line – Quem é o José Maria Fernandes para você?
Pedro Peçanha – Ele é o maior amigo que eu tenho. Um homem integro, companheiro dos bons e maus momentos. Cansei de vê-lo deixar suas coisas, para ir ao Rio de Janeiro, tratar do problema dos outros. Às vezes penso como perdemos por ele nunca ter sido Prefeito. Para mim, é o político numero um da historia de Itaocara.

Nova Voz On Line – Entre os Prefeitos, quais foram os principais?
Pedro Peçanha – O Joaquim Monteiro e o José Romar Lessa são os melhores. O Joaquim não tinha muito estudo, mas administrou o município como nenhum outro. Quando viajava, deixava as ordens sobre o que deveria ser feito em sua ausência, que era seguido na risca. Grande parte das coisas importantes são frutos da gestão do Joaquim. O estilo do José Romar, bem mais político, tanto que ele era amado pelo povo. Falar mal do José Romar, em alguns lugares do município, dava até briga. Tenho ótimas lembranças dele.

Nova Voz On Line – Que outros Itaocarenses são ainda dignos de menção?
Pedro Peçanha – O José Sabino Catete e Silva tinha um coração grandioso. Era professor e tratava todos os alunos, pobres e ricos, da mesma maneira. Lembro que às vezes íamos pescar em suas terras, quando sabia que estávamos por lá, exigia que fossemos a sua casa, sentar a mesa e almoçar junto com ele. Alias, peço a todos que não se esqueçam do Sabino, quando falarem dos grandes itaocarenses. Também o senhor Biloco, pai do Abel e do Johenir Viegas. A esposa deste último, Dona Ieda, sempre tratava a todos com educação e gentilezas. Durante muitos anos, fui eleitor cativo do Otílio Pontes, farmacêutico respeitadíssimo por todos.

Nova Voz On Line – Que mensagem deixa para os itaocarenses na data do aniversário do município?
Pedro Peçanha – Sugiro aos amigos e aqueles que lerem está matéria, que no dia 28 de outubro, começássemos o dia pedindo a Deus que abençoe o município, trazendo progresso para Itaocara. Nossa cidade é linda e a responsabilidade de fazê-la melhor, é de cada um de nós.

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