Um dos principais comerciantes da história do município é o lojista Pedro Peçanha, fundador das Lojas Peçanha. Porém, poucos sabem que quando começou sua atividade, sapateiro não era dono de loja, mas sim quem consertava e fabricava sapatos. Leia como ele conseguiu superar as dificuldades da infância e construir uma família cujos filhos são atualmente pessoas respeitas por toda Itaocara.
O Patriarca do Clã Peçanha, Pedro Peçanha, com a esposa Dionéia Gomes Peçanha e os filhos, todos empresários, Liete, Rosendo e Jaffer |
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– Que lembranças têm de sua família na infância?
Pedro
Peçanha
– Nós éramos muito pobres. Meu pai se chamava Amaro Ribeiro Peçanha e era
pescador. Minha mãe, Natalina do Couto Peçanha. Eu tive treze irmãos. Certa
época passamos tantas dificuldades, que fomos morar de favor na casa do Eurico
de Assis.
Nova
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– Como era a Itaocara antiga?
Pedro
Peçanha
– O calçamento existia em raríssimos lugares. O resto era de terra batida.
Muitos cavalos. Não havia iluminação. Poucos tinham rádios. Era comum as
pessoas se reunirem do lado de fora das casas, para escutar o rádio do vizinho.
A chegada do trem na cidade, sempre causava rebuliço. Todos iam ver quem estava
vindo. Alguns garotos buscavam a bagagem na estação, para levar para os hotéis
da cidade.
Nova
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– O trem tinha um papel importante naqueles tempos?
Pedro
Peçanha
– Uma das coisas que nos prejudicou bastante foi o fim das ferrovias. Levamos
décadas para superar a perda que tivemos. Lembro-me de ir, com 12 anos, até São
Gonçalo, na Maria Fumaça. Saímos 7 horas e chegamos ao destino às 17 horas. Foi
uma grande aventura. Acredito que a simplicidade do modo de vida daqueles
tempos, deixou lembranças positivas, mesmo dos momentos mais árduos.
Nova
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– Com quantos anos você começou a trabalhar?
Pedro
Peçanha
– Meu pai, com muita dificuldade, conseguiu comprar uma pequena sapataria, que
na época era atividade de consertar e fazer sapatos. Não era loja, como nos
dias de hoje. Ali, quando tinha 8 anos, aprendi o ofício de sapateiro, graças à
paciência do Moacyr Peçanha e do Washington Rimes. Quando meu pai precisou
vender o negócio, não quis continuar na profissão e fui trabalhar de servente
de pedreiro, já com a idade de 12 anos. Tenho orgulho de dizer, que o prédio do
João Dias, ajudei a construir com o suor do meu trabalho. Depois o pai do José
Romar, Sr. José Cortat, me contratou para trabalhar na cerâmica de tijolos.
Nova
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– Quando voltou a trabalhar com sapatos?
Pedro
Peçanha
– Essa história está ligada ao meu casamento. Sou batizado na Congregação
Cristã do Brasil, desde os 12 anos. Foi nos cultos que conheci minha esposa. Eu
tinha então cerca de 16 anos. Ao completar 19, casei-me com minha esposa,
Dioneia Gomes Peçanha. Tendo que sustentar minha nova família, resolvi me
dedicar à profissão que aprendi: a de sapateiro. Da nossa união, surgiram três
filhos: Liete, Roseno e Jaffer.
Nova
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– O início foi difícil?
Pedro
Peçanha
– Bastante. O primeiro lugar em que trabalhei, foi próximo a rodoviária. Depois
mudamos para aonde está hoje o José Peçanha. Meu trabalho básico era concertar
sapatos. Porém, certo dia, resolvi fabricar sandálias. Fui a Niterói, me lembro
que rodei bastante, até achar um lugar que vendia matéria prima. Ao voltar para
Itaocara, às mulheres passaram a me procurar na sapataria. Mostravam-me nas
revistas compradas nas bancas de jornal, o que queriam, e eu, sem ninguém
jamais me dar uma aula de como fazer, fabricava as sandálias. Aos poucos, minha
atividade foi ficando conhecida, e a clientela aumentou bastante.
Nova
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– E a loja?
Pedro
Peçanha
– O grande sonho era abrir minha loja de sapatos. Economizei bastante, até que
um dia Deus me abençoou e pude comprar aonde hoje é a Pés e Pés Calçados, do
meu filho Jaffer. Trabalhava bastante. Era comum, por exemplo, começar o dia às 5
horas da manhã e ir até 22 horas. Sábados, domingos e feriados, eram dias de
trabalho. Hoje posso e dizer que isto tudo foi uma maravilha. Considero o
trabalho como uma coisa digna, não importa o que seja, desde que honesto.
Nova
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– Seus filhos foram criados com estes valores?
Pedro
Peçanha
– Meus filhos nunca ficaram perambulando pelas ruas à toa. Respeito os que
gostam, mas digo com orgulho que eles nunca fumaram, nem nunca beberam. Sempre
respeitaram bastante, tanto a minha pessoa, quanto a mãe deles. Por vezes quem
preza a família é taxado de antiquado. Se for assim, não tenho nenhum medo de
ser antiquado. O respeito entre pais e filhos é essencial. Hoje posso dizer
feliz, que faz muitos anos meus filhos conquistaram a independência profissional
e financeira. Eu também não sou pesado a eles.
Nova
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– Quem é o José Maria Fernandes para você?
Pedro
Peçanha
– Ele é o maior amigo que eu tenho. Um homem integro, companheiro dos bons e
maus momentos. Cansei de vê-lo deixar suas coisas, para ir ao Rio de Janeiro,
tratar do problema dos outros. Às vezes penso como perdemos por ele nunca ter
sido Prefeito. Para mim, é o político numero um da historia de Itaocara.
Nova
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– Entre os Prefeitos, quais foram os principais?
Pedro
Peçanha
– O Joaquim Monteiro e o José Romar Lessa são os melhores. O Joaquim não tinha
muito estudo, mas administrou o município como nenhum outro. Quando viajava,
deixava as ordens sobre o que deveria ser feito em sua ausência, que era
seguido na risca. Grande parte das coisas importantes são frutos da gestão do
Joaquim. O estilo do José Romar, bem mais político, tanto que ele era amado
pelo povo. Falar mal do José Romar, em alguns lugares do município, dava até
briga. Tenho ótimas lembranças dele.
Nova
Voz On Line
– Que outros Itaocarenses são ainda dignos de menção?
Pedro
Peçanha
– O José Sabino Catete e Silva tinha um coração grandioso. Era professor e
tratava todos os alunos, pobres e ricos, da mesma maneira. Lembro que às vezes
íamos pescar em suas terras, quando sabia que estávamos por lá, exigia que
fossemos a sua casa, sentar a mesa e almoçar junto com ele. Alias, peço a todos
que não se esqueçam do Sabino, quando falarem dos grandes itaocarenses. Também
o senhor Biloco, pai do Abel e do Johenir Viegas. A esposa deste último, Dona
Ieda, sempre tratava a todos com educação e gentilezas. Durante muitos anos,
fui eleitor cativo do Otílio Pontes, farmacêutico respeitadíssimo por todos.
Nova
Voz On Line
– Que mensagem deixa para os itaocarenses na data do aniversário do município?
Pedro
Peçanha
– Sugiro aos amigos e aqueles que lerem está matéria, que no dia 28 de outubro,
começássemos o dia pedindo a Deus que abençoe o município, trazendo progresso
para Itaocara. Nossa cidade é linda e a responsabilidade de fazê-la melhor, é
de cada um de nós.
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