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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Um Coração que nunca Endurece - Texto: Ronald Thompson -

“Possua um coração que nunca endurece, um temperamento que nunca pressiona, e um toque que nunca magoa”. Esta frase é do escritor inglês, Charles Dickens, autor, entre outras, de obras como Oliver Twist e David Copperfield. O personagem Scrooge, criado pelo autor, inspirou Walt Disney a conceber o famoso Tio Patinhas. Os escritos de Dickens têm uma temática social contundente. Quase sempre há os órfãos, os operários, pessoas pobres e boas, em contraste a esnobe sociedade inglesa. Principalmente a exploração dos homens, que teve um capítulo terrível durante a Revolução Industrial. Porém, pelo menos para mim, o que chama mais atenção é sua origem. O pai de Dickens, John, era funcionário da Marinha Britânica e, pressionado pela sociedade da época, tentava ter uma vida acima das suas possibilidades financeiras. Certo dia, sem conseguir pagar a maioria das contas, foi detido e enviado a um presídio para devedores. Seus bens foram confiscados, e a família Dickens deixou o bairro nobre onde morava, indo para parte mais pobre de Londres, residir em quartos minúsculos, e passar grandes dificuldades. Se para qualquer um de nós, hoje, no século XXI, isto já seria terrível, imaginem durante o século XIX, dentro da sociedade mais estratificada que existe, à britânica, cujo preconceito contra a pobreza e as classes mais baixas, é infinitamente maior do que a brasileira dos tempos de hoje. Outra grande humilhação foi ter que vender os bens pessoais, como talheres e louças, para sobreviver, a outras famílias ricas, das quais frequentavam a casa, mas agora só podiam entrar pelas portas dos fundos. Nesse contexto, Charles Dickens, então com 12 anos, começou a trabalhar numa fábrica que produzia graxa para sapatos, colando rótulos nos frascos, ganhando o dinheiro que era todo usado para alimentar a família, e ainda ajudar o pai preso. Até conseguir publicar o primeiro grande sucesso, com cerca de vinte um anos, teve que lutar muito. Apesar de todo motivo do mundo para se tornar amargo, escreveu nossa frase: - "Possua um coração que nunca endurece, um temperamento que nunca pressiona, e um toque que nunca magoa". Isso é realmente belo e ilumina os personagens principais de suas obras. Uma bondade que parece não existir mais no Mundo. Enquanto isso, numa época como a nossa, cujas oportunidades são infinitamente maiores, pessoas se lamentam pela falta de sorte. Muitas se considerando vítimas do acaso, prisioneiras do destino. Estes dias trocava e-mails com um grande amigo de São Paulo e comentei sobre outra frase que venho ouvindo muito ultimamente: “foi Deus quem quis assim”. Que ótimo, não é mesmo? Tal atitude justifica nossos fracassos. Assumimos o papel de pobre coitado, colocando na conta de Deus. Pronto: estamos absolvidos.

Em O Rei Lear, obra prima de William Shakespeare, o personagem Edmundo, faz a seguinte reflexão: - Eis a sublime estupidez do mundo; quando nossa fortuna está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres; como se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por influência celeste; escroques, ladrões e traidores por influência do zodíaco; bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obediência a determinações dos planetas; como se toda perversidade que há em nós, fosse por influência divina. É a admirável desculpa do homem devasso - responsabiliza uma estrela por sua própria devassidão. Podemos escolher entre seguir em frente e usarmos nossas dificuldades como aprendizado e inspiração para caminhos que nos levam aos valores realmente importantes na vida, ou deixarmos a canalhice que habita o homem tomar conta, nos tornando amargos, cruéis e egoístas. Incapazes de enxergar que o mundo não existe para saciar nossas necessidades. E que exatamente a maior beleza está em repartir, ao invés de receber. Já que estamos citando escritores ingleses, lembrei-me da frase de John Ruskin: “Quando um homem está envolvido em si mesmo, ele se torna um pacote muito pequeno”.

O mágico na vida é que a toda hora podemos mudar de direção. Basta querer e ter coragem para executar. Fundamental é deixar de lado todo sentimento de inferioridade que nos habita. Insegurança, inveja, remorso, ciúmes, mesquinhez, são como ancoras, que não deixa que saiamos do lugar. Ilumine-se com amor, gratidão, fé e generosidade. Assim novas portas hão de abrir para que possa conquistar muitos sonhos e escrever uma história de sucesso.
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