O autor do texto, Augusto Pimentel com a esposa, a também professora, Sonia Santos, estão participando neste momento do Congresso Educação |
Lendo a entrevista do Prof. Eduardo Sebastiani Ferreira na Revista
da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, deparei com a seguinte reflexão:
- Para se formar um
cidadão, em primeiro lugar ele deve respeitar o seu próprio saber e o do seu
grupo social, para depois entender e respeitar o saber do outro. É evidente que
o apoio institucional é imprescindível para que a escola possa funcionar com as
condições necessárias e seus profissionais sejam respeitados e valorizados na formação
de cidadãos. Ou seja, toda educação tem que ser contextualizada.
Ainda na entrevista havia
o seguinte trecho:
- A escola hoje não tem
somente responsabilidade de formar seus alunos no saber-fazer, mas também no saber-ser.
Formar o cidadão é um atributo da escola.
E diz ainda:
- Hoje o professor, como o
operário, é um simples repetidor de ações comandadas por instâncias, muitas
delas fora da escola e na maioria das vezes fora do contexto educacional.
Temos, com urgência, devolver a esse profissional dois status: o de sábio e o
de didata.
Nesse momento, me vem à
pergunta: será que o que estamos fazendo, ou melhor, "ensinando" aos
nossos alunos é o saber-fazer? E o saber ser? Ou simplesmente estamos fazendo
com que sejam meros repetidores de técnicas de cálculos que mais tarde serão
esquecidas, pois não terão utilidade nenhuma em suas vidas?
Quando vejo um menino
vendendo picolé nas ruas, me pergunto: Por que esse menino, que na hora do
troco sabe fazer contas de cabeça, ao entrar na escola desaprende tudo? Por que
temos que dar ênfase a uma apresentação excessivamente formal para essa criança
se, até então, ela nunca precisou disso?
Lembro-me bem de que,
quando ministrei um curso para professores de uma cidade do interior do Estado,
uma professora fez a seguinte pergunta: “O aluno deve colocar o sinal + do lado
direito ou do lado esquerdo da conta?”. Repare: a preocupação dessa professora,
não era se o aluno sabia ou não fazer a operação. A preocupação era com o
formalismo. Como diz o Professor Geraldo Ávila:
- É preciso ter presente que
o objetivo de todo ensino, seja de Matemática, seja de qualquer outra
disciplina, é transmitir idéias, estimular o pensamento independente e a
criatividade.
Esse excesso de formalismo
ficou patente com o desastre que foi o período que se rotulou de Matemática
Moderna. Em 1973, o professor Morris Kline enfatizou muito bem em seu livro "O fracasso da Matemática
Moderna":
- Todo mundo foi envolvido
por ela, as crianças começaram a falar em conjuntos, a linguagem dos mestres se
complicou e os alunos não aprenderam a somar.
Precisamos parar de
ensinar tópicos da matemática porque, simplesmente, nos ensinaram ou constam
nas ementas. A escola está fora da realidade de nossos alunos. A informática
está aí, presente em nossas vidas e, até hoje, não deixamos nossos alunos
utilizarem a calculadora em nossas aulas. Nossos alunos possuem computadores e
nós não sabemos como utilizá-los em nossas aulas. É bem verdade que muitos de
nossos professores não possuem computador. Mas não podemos virar as costas para
esse fato. Quando falo em computadores, estou me referindo à informática
educativa, em que os programas são desenvolvidos juntamente com professores da
matéria.
É importante ressaltar,
também, a necessidade da História da Matemática na nossa prática educativa. Em
algumas Universidades, essa disciplina só é ministrada em cursos de Especialização.
O Professor Ubiratan D'Ambrósio (gostaria de registrar aqui minha admiração por
esse grande mestre que, graças a Deus, continua nessa luta de melhoria do
Ensino da Matemática) escreveu um artigo muito interessante chamado "A Interface entre História e
Matemática", que eu recomendo a todos os professores interessados em
Educação Matemática. Nele, o Professor D'Ambrosio faz a seguinte colocação:
- Ninguém contestará que o
professor de matemática deve ter conhecimento de sua disciplina. Mas a
transmissão desse conhecimento através do ensino depende de sua compreensão de
como esse conhecimento se originou, as principais motivações para o seu
desenvolvimento e quais as razões de sua presença nos currículos escolares.
Destacar esses fatos é um dos principais objetivos da História da Matemática.
Fico preocupado quando
vejo em alguns livros didáticos a História da Matemática sendo confundida com
biografia do descobridor daquele tópico. No IV Seminário de Pesquisa em
Educação Matemática, promovido pela SBEM – RJ, fiz um alerta nesse sentido. A
História da Matemática não pode ser uma "forçação de barra", um
modismo. Precisamos fazer um encadeamento dos fatos históricos para que
possamos chegar a, por exemplo, uma determinada fórmula matemática.
O Professor Jaime Carvalho
e Silva, da Universidade de Coimbra, afirma:
- Cada vez mais se ouve
falar em História da Matemática associada ao ensino da Matemática. No ensino
superior parece-me inquestionável que não deve haver formação que não inclua
História da Matemática.
Voltando ao currículo,
será que teremos uma justificativa para saber por que e para que, um
determinado conteúdo deve ser ensinado e exigido de todos?
O Professor D'Ambrosio
afirma:
- Ao professor foram
ensinadas muitas técnicas e teorias que ele jamais teve, e nem terá,
oportunidade de praticar. E o professor parte para ensiná-las, sem nenhum
momento de reflexão, de crítica. A última vez que viram aquele 'ponto' do
programa foi quando lhes ensinaram isso. E agora está vendo de novo esse ponto
ao ensiná-lo. Desafio o professor a negar que só viu certos temas quando era
aluno e só viu esse tema novamente quando foi ensinar.
D'Ambrosio ainda afirma:
- A matemática que vem
dominando os programas é, em grande parte, desinteressante, obsoleta e inútil
para as gerações atuais.
Gostaria de finalizar com
uma reflexão do Professor Pedro Paulo Scandiuzzi, do Departamento de Educação
da UNESP/IBILCE no II Congresso Internacional de Etnomatemática:
- Uma das verificações que
qualquer educador atento observa é a de que no sistema educacional o aluno
chega ao espaço escolar com informações que muitas vezes são desconhecidas do
professor. Mesmo antes da internet ela já era verdadeira, mas silenciada ante o
'poder do saber' do professor. Mas ultimamente os meios de comunicação
tornaram-se mais real. Esta afirmação é perceptível em uma frase mencionada em
Barra do Garça - MT pelo professor norte americano Daniel Orey: “imaginem
uma escola com crianças que lêem e escrevem, mas com professores que não sabem
ler e escrever. Você tem assim uma metáfora da Era da Informação, na qual
estamos vivendo”.
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