Desenvolver um
trabalho de Musicalização na Educação Infantil é a chave para que os alunos
desenvolvam a psicomotricidade e uma série de habilidades que vão torna-los
estudantes e pessoas muito melhores, é o que concluiu a Professora Gabriela de
Abreu Silva, em sua pesquisa científica de conclusão de curso.
A professora Gabriela com seus alunos do Colégio SEI |
Nova
Voz On Line
– Pode nos falar um pouco sobre seu trabalho de Conclusão de Curso de
Licenciatura em Pedagogia, que tem o título “A importância da musicalização
para o desenvolvimento da psicomotricidade na educação infantil”?
Gabriela
de Abreu Silva
- A escolha do tema deste trabalho que apresentei para a conclusão do curso de
Licenciatura em Pedagogia foi feita através das minhas experiências
profissionais e pessoais. Desde pequena sempre estive ligada a arte e a música.
Aos oito anos, uma professora de música, maestrina do coral da Igreja Batista
de Niterói, descobriu em mim o dom do canto lírico. A partir de então, passei a
fazer aulas com professores renomados como a Maria José Chevitarese, maestrina
do Coral Infantil da UFRJ.
Nova
Voz On Line
– Que coisa mais interessante!
Gabriela
de Abreu Silva
– Frequentei, durante algum tempo, o Conservatório Brasileiro de Música e
depois de passar no teste para o Coral Infantil da UFRJ, frequentava a UFRJ
duas vezes por semana, para os ensaios do coral. Realizei diversas
apresentações, inclusive no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Além disso,
aos 10 anos, fiquei entre as 10 finalistas de um concurso musical realizado
pela TV Globo, no programa TV Xuxa, dentre milhares de inscritos.
Nova
Voz On Line
– Nosso município é mesmo um barato. Pensamos em fazer um tipo de entrevista, e
descobrimos coisas novas, que levam até a outros assuntos. Formidável!
Gabriela
de Abreu Silva
– Risos. Hoje sou professora de Expressão Corporal no Colégio SEI e professora
de Zumba no Projeto Esporte e Lazer da Cidade. Com todo esse histórico Musical,
meu trabalho não poderia ter um tema diferente, pois penso que através das
ferramentas que a musicalização oferece podemos despertar em nossas crianças a
coragem de se expressar, o gosto pela cultura e a inteligência psíquica e
motora.
Nova
Voz On Line
– Como foi seu trabalho de pesquisa?
Gabriela
de Abreu Silva
– O meu trabalho se pautou na reflexão através das minhas experiências como Professora
Auxiliar na etapa da Educação Infantil e professora de Expressão Corporal;
minhas experiências com a música e a arte, e minha maternidade, já que tenho um
filho, Pedro Lucas, de seis anos de idade, vivenciando esta etapa da Educação
Infantil. Em meu trabalho procurei responder algumas questões que sempre me
deixaram com uma “pulga atrás da orelha” e uma vontade enorme de fazer a
diferença, como: “Qual a importância do trabalho com musicalização para as
crianças da Educação Infantil?”, “Por que para os professores é tão difícil
trabalhar a musicalização com os alunos?”, “Será necessário contratar
profissionais exclusivamente para este trabalho?”.
Gabriela apresentando seu trabalho de TCC no Polo Cederj Itaocara |
Nova
Voz On Line
– A quais as conclusões chegou?
Gabriela
de Abreu Silva
– Diante do que foi apontado no decorrer do meu artigo, e através da aplicação
destas teorias na prática, é perceptível que a criança que é estimulada
musicalmente, desenvolve-se em vários sentidos. Através das minhas observações
durante as aulas, constatei que ao se tratar dos aspectos emocionais, muitos
alunos antes tímidos, ao longo do tempo foram ficando mais desinibidos,
adquirindo confiança em mim, como professora, e em seu próprio corpo. Passaram
a se sentir confortáveis com as atividades propostas, mostrando grande
interesse e satisfação em estar nas aulas de musicalização. E, além disso, os
pais passaram a perceber mudanças de comportamento no relacionamento com os
familiares e na socialização com outras crianças. Em relação aos avanços nos aspectos cognitivos, através da música
a criança realiza exercícios de concentração, cálculos matemáticos diversos, rimas
e muitos outros.
Nova
Voz On Line
– Que interessante.
Gabriela
de Abreu Silva
– O desenvolvimento dos aspectos motores é bastante considerável. Através dos
exercícios com dança, os alunos adquirem coordenação motora ampla,
conhecendo-se, percebendo seu corpo no espaço e o que ele pode fazer neste
espaço. Ao tocar um instrumento, além de estimular a percepção auditiva, a
criança desenvolve sua coordenação motora fina, ao precisar, por exemplo,
dedilhar um violão ou tocar uma flauta. Por fim, O trabalho com musicalização
na Educação Infantil tem sido alvo de estudo de muitos pesquisadores da área,
pois constatou-se que este trabalho é uma excelente e indispensável ferramenta
para o desenvolvimento da psicomotricidade. Porém, é necessário que seja posto
em pauta a importância do fazer docente neste processo, visto que na maioria
das vezes a instituição escolar não investe em profissionais que trabalhem
exclusivamente nesta área.
Nova Voz On
Line
– Como surgiu a ideia do tema?
Gabriela
de Abreu Silva
– Partindo deste pensamento, eu pude concluir que é necessário que haja uma
mudança na grade curricular dos cursos de graduação e uma formação continuada,
a fim de que o professor busque sempre se atualizar e aprender novos métodos de
ensino, pensando no desenvolvimento integral do aluno, respeitando suas
particularidades, alicerçando o lúdico e o educativo.
Nova
Voz On Line
– O que é psicomotricidade?
Gabriela
de Abreu Silva
– De uma forma mais leiga e resumida, a psicomotricidade é um estudo que
envolve os aspectos psíquicos (emocionais, cognitivos e comportamentais) e os
aspectos motores (motricidade ampla e fina, lateralidade e equilíbrio) em todas
as etapas da vida do ser humano. Ou seja, em cada fase da nossa vida existe um
estudo diferente, pois ocorrem mudanças nesses aspectos. A psicomotricidade na
Educação Infantil vem como peça chave para buscarmos a melhor forma de
desenvolvermos estas habilidades nas crianças, visando um desenvolvimento
integral do nosso alunado.
Nova
Voz On Line
– Desenvolver a psicomotricidade, então influência no aprendizado de outras
matérias, como História, Matemática, Português e etc.?
Gabriela
de Abreu Silva
– Sim, pois a psicomotricidade também envolve os aspectos cognitivos, que são
os responsáveis pela inteligência. Na verdade, se realizarmos um trabalho bem
feito com foco na psicomotricidade, seja ele aliado a musicalização ou não,
teremos alunos desenvolvidos integralmente, pois muitas vezes nos deparamos com
alunos desenvolvidos intelectualmente, mas com os aspectos motores pouco
desenvolvidos ou vice-versa, dificultando seu processo de ensino-aprendizagem.
Nova
Voz On Line
– O aprendizado da música pode ajudar também, a criar seres humanos mais
empáticos e solidários?
Gabriela
de Abreu Silva
– Com certeza, pois na música não existe distinção, todos somos diferentes,
porém com o mesmo objetivo: musicalizar. E no trabalho com musica é necessário
harmonia entre os participantes, trazendo o espírito de equipe e a necessidade
de cooperação. A música une, ensina e
transforma. Tais habilidades devem fazer parte da rotina das crianças, a
fim de que futuramente se tornem sujeitos pensantes, que conhecem a si mesmo e
respeitam o outro.
Nova
Voz On Line
– É viável ensinar música nas escolas públicas?
Gabriela
de Abreu Silva
– Citando François Guizot: “A música oferece à alma, uma verdadeira cultura
íntima, e deve fazer parte da educação do povo”. Podemos ver nos noticiários
vários movimentos culturais que envolvem a música resgatando jovens da
marginalidade, imagina se todas as escolas oferecessem este trabalho? A música
é uma excelente ferramenta em quaisquer áreas do currículo escolar, visto que
ela possui uma grande influencia na vida do ser humano, que vivencia a
musicalidade desde o ventre materno.
Nova
Voz On Line
- O que seria o básico necessário para que as escolas públicas pudessem
oferecer Música aos alunos?
Gabriela
de Abreu Silva
– Em meu trabalho eu me pautei apenas no trabalho de musicalização na Educação
Infantil. Nesta etapa da educação, o próprio professor pode fazê-lo, mas para
que isso aconteça é necessário que haja uma mudança na grade curricular das
graduações em Pedagogia, dando maior importância a musicalização, visto que ela
se encontra em todos os referenciais e leis que regem a educação brasileira. É
necessário também que haja formação continuada por parte dos professores, a fim
de que ocorra uma mudança no modo de agir do docente, retirando essa educação
tradicionalista enraizada na maior parte dos professores atuantes da
contemporaneidade. Mas se a instituição preferir um trabalho mais intensivo de
musicalização é necessário que haja a contratação de um profissional habilitado
em música.
As aulas fazem a diferença na vida dos alunos |
Nova
Voz On Line
– Desde o momento que uma escola implanta o ensino de música, já a partir do
primeiro ano, é possível notar diferença no desenvolvimento da psicomotricidade
dos alunos?
Gabriela
de Abreu Silva
– Eu realizo um trabalho de Expressão Corporal através da música e da dança no
Colégio SEI há três anos e posso notar diferença no desenvolvimento dos alunos.
Porém essas mudanças foram percebidas logo no primeiro ano em que comecei a trabalhar.
Cerca de 90% dos alunos participam ativamente das aulas, demonstrando prazer e
interesse. 75% dos alunos mostraram avanços no desenvolvimento de coordenação
motora ampla, lateralidade e equilíbrio. 5% dos alunos inicialmente se negavam
a participar das aulas, porém após quatro a seis aulas, foram se soltando e
participando por vontade própria das aulas. Todos os alunos que participaram
das aulas ativamente desenvolveram sensibilidade musical, distinguindo os
diferentes ritmos e sons. Cerca de 40% dos pais perceberam mudanças
comportamentais nos filhos, como perda da timidez, maior facilidade de
comunicação e maior gosto pela música. 100% dos alunos com necessidades
especiais demonstraram prazer e interesse em estar nas aulas, participando
ativamente das aulas.
Nova
Voz On Line
– Um aluno que se alfabetize com a música e estude música, até a formação no
Ensino Médio, terá um diferencial de formação, em relação ao aluno que não
passa por este processo?
Gabriela
de Abreu Silva
– Em sua maioria, os alunos que estudam música possuem uma maior concentração,
conhecimento cultural, coordenação motora fina e ampla e até mesmo em alguns
casos, há uma mudança de comportamento bem visível. Certa vez eu ouvi uma frase
que fez todo sentido para minha pesquisa. A frase dizia: “Tire o tablete do seu
filho e dê a ele um instrumento musical!”. No mundo de hoje, que de certa forma
a tecnologia e a informação em massa vem tirando a infância dos nossos filhos,
somos nós, pais e professores, os responsáveis por resgatar esta infância. É
bem certo que, se crianças tivessem instrumentos musicais nas mãos, quando
adultos não segurariam armas.
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