Nós já fizemos,
no final do ano passado, um bate papo com a Advogada de Campos dos Goytacazes,
Ana Luíza Policani Freitas, que deixou o Brasil e foi morar na Alemanha, junto com o
marido Vanderson e o filho Arthur. Trazemos hoje aos leitores, uma atualização,
contando como foram estes primeiros oito meses de vida no país teutônico.
Vanderson, Arthur e Ana Luíza: uma família brasileira em Berlim |
Nova
Voz On Line
– O que dá para dizer destes primeiros oito meses de Alemanha?
Vanderson - Os
primeiros meses são bem desafiadores, principalmente para arranjar um
apartamento. O mercado imobiliário é bem competitivo, onde você precisa ser
selecionado para poder alugar um imóvel. Já visitamos apartamentos onde tinham
mais 10 pessoas disputando.
Ana Luíza - A escola para o Arthur também deu trabalho, pois o processo é
burocrático. Tivemos que ser “chatos” para a matrícula sair.
Nova
Voz On Line
– Todos estão bem adaptados?
Vanderson - Achamos que
sim, pelo menos em Berlim. A cidade é muito internacional, então às vezes fica
meio difícil dizer o que é típico da Alemanha, no geral, e o que é particularidade da
cidade.
Ana
Luíza
– Organização, pontualidade, limpeza urbana, são coisas realmente que saltam
aos olhos, quando chegamos de um país como o Brasil. Bem diferente da nossa
realidade. E não é crítica depreciativa. Mas há uma enorme diferença cultural.
A imersão na história e na cultura alemã faz parte da rotina. Ao fundo Palácio construído por Frederico III, Kaiser da Prússia, para sua amada esposa Sophie Charlotte |
Nova
Voz On Line
– Nestes primeiros meses, o que foi ou o que está sendo mais desafiador, na
vida de vocês, ai na Alemanha?
Vanderson - Com certeza
encontrar um apartamento definitivo. Procuramos por dois meses e todo o
processo foi bem cansativo.
Ana
Luíza
– E isto não é por sermos brasileiros. O mercado imobiliário de Berlim vive uma
fase de grande demanda, gerando preços altos e uma série de
dificuldades. Mas conseguimos. Vencemos! E isto é o mais importante, no final das contas.
Nova
Voz On Line
– TODOS se comunicam em Alemão? Como é ir ao Supermercado, na
Farmácia, enfim ...
Vanderson - Nos comunicamos num nível básico. As coisas do dia a dia são bem tranquilas.
Ana
Luíza
- Para interações mais complexas, como falar com o médico, apenas o Arthur,
nosso filho, consegue. Ele estudou alemão, talvez pela idade e inteligência,
claro, aprendeu bem rápido. Nós, eu e o Vanderson, temos que trocar para o
inglês, por enquanto. Vamos chegar lá também (risos).
A arquitetura dos palácios são deslumbrantes |
Nova
Voz On Line
– E o Arthur? Como está sendo esse tempo para ele? Conseguiu fazer amizades?
Ana
Luíza / Vanderson
– Vamos deixar o próprio Arthur responder.
Arthur – Aqui é
Muito legal. Consegui fazer amigos italianos, russos, sírios e brasileiros.
Muito tranquilo. Sinto-me feliz e integrado.
Nova
Voz On Line
– Como é trabalhar na Alemanha? O modo, o método, a rotina, são
diferentes aqui do Brasil?
Vanderson - Não
teve processo de colonização por aqui. Isto faz as relações de trabalho serem mais igualitárias. Você não percebe o ranço de “Manda quem pode, obedece quem
tem juízo”, que é muito presente ao se trabalhar no Brasil, principalmente em
empregos mais simples. A rotina de trabalho tende sempre a ser bem ordeira,
onde raramente pessoas fazem hora extra. Minha chefe já chegou a falar: “Tá
fazendo o que aqui ainda? Seu horário já acabou. Vai pra casa”. Isso é
impensável no Brasil. Em empresas mais tradicionais, é inclusive esperado que
você se aposente trabalhando lá por sua vida toda, sem ficar pulando de galho
em galho.
Ana Luíza - Eu trabalho com Home-office. Sou autônoma. Então é mais difícil dar uma opinião.
Mas vejo as situações que o Vanderson passa. Noto que a diferença nas relações de
trabalho são bem grandes em relação ao que é “normal” no Brasil. Outro ponto
que é uma goleada de 7 a 1 para os Alemães.
Nova
Voz On Line
– Assisti a um vídeo de uma brazuca que mora na Alemanha, fazendo algumas
ponderações sobre o sistema de saúde. Ela diz, por exemplo, que gripe, mesmo
com febre, não recebe prescrição de medicamentos, como antibióticos, o que é
comum aqui no Brasil. Também reclamou da longa espera no atendimento público,
afirmando que pode demorar meses para uma consulta. Tiveram alguma experiência,
neste sentido?
Ana Luíza - Não tive experiência com emergência para internação, mas já fui numa
emergência pediátrica e levei meia hora pra ser atendida. A médica receitou chá
de sálvia. Aqui é bem difícil receitarem remédio, apenas em último caso mesmo.
Não vi problemas até então.
Nova
Voz On Line
– O Brasil tem alguma repercussão na mídia Alemã? Se tiver, o que saiu nos
jornais alemães, sobre nosso país, que destacam, neste tempo que estão morando
por ai?
Ana
Luíza
– Bastante repercussão ultimamente. Sei que alguns leitores não vão gostar, mas
algo que nos perguntam bastante é sobre como o atual Presidente chegou ao poder?
E como a extrema direita cresceu tanto num país miscigenado? Eles lembram
bastante da época do nazismo, e conseguem ver as semelhanças do que está
acontecendo no Brasil atualmente.
Vanderson – De forma
geral, na Alemanha, ideias e atitudes ligadas ao nazismo são repudiadas pela
população. Por isto o espanto deles, em relação ao Brasil atual.
Nova
Voz On Line
– O que viram de Berlim, que mais lhe encantaram?
Ana
Luíza
- O transporte público funciona de forma eficiente, o poder de compra maior do
trabalhador alemão e a tranquilidade. É uma cidade muito boa principalmente para
quem têm filhos, com muitos parques e onde se pode andar com tranquilidade.
Vanderson – A qualidade
de vida é superior. Berlim é muito mais segura, por exemplo, do que
Campos dos Goytacazes, apesar de Berlim ter Três Milhões e Quinhentos Mil
Habitantes e Campos ter quinhentos mil habitantes. A pessoa comum, o cidadão,
caminha tranquilo, mesmo tarde da noite ou de madrugada.
Nova
Voz On Line
– Sei que é pouco tempo, mas o que cada um diria, sobre morar na Alemanha? Está
valendo a pena?
Ambos
- Sim,
bastante!
Ana
Luíza
- Por mais que tenhamos passado as dificuldades iniciais com a procura do
apartamento definitivo, vale muito a pena. Ver o Arthur estudar numa escola
bilíngue, pública e com ensino de alta qualidade, não tem preço.
Vanderson – Estou adorando
viver aqui. A questão da integração entre os povos é bem visível em Berlin,
desde projetos de capacitação e ensino da língua para refugiados e demais
estrangeiros. Isso é visível até nas escolas do ensino fundamental. O povo
alemão hoje, em geral, repudia discriminação. Ontem o país que foi palco de
atrocidades contra a humanidade, hoje amadureceu e prioriza o respeito e a dignidade do ser humano.
Arthur – Estou adorando a escola, o bairro, a casa, os
amigos. Gostando muito de viver na Alemanha.Leia também: entrevista Publicada no dia 9 de Dezembro de 2018
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