Olá
Conterrâneos, Amigos e Leitores.
Diante de tantas notícias preocupantes
que nos chegam nos últimos tempos, achei por bem mudar um pouco o rumo da
prosa. Hoje compartilho com vocês um texto que escrevi há cerca de um ano. Esse
é o relato de uma despedida e de um final de ciclo. Por certo, muitos de vocês
se identificarão com a narrativa.
E a vida é assim: "cheia de chegadas e partidas" |
NÃO APRENDI
DIZER ADEUS
Depois de anos de uma boa vizinhança,
a doce Marion, a nonagenária mais ativa do meu universo, está de mudança. Em
breve, irá morar com sua filha, onde terá a companhia de seus familiares e todo
o carinho e atenção que merece.
Valéria e o marido Luiz Carlos |
A elegante senhora, que sempre manteve
uma agenda repleta de compromissos e uma independência invejável, decidiu que
era chegada a hora de fazer uma mudança na rotina de seus dias.
A passagem do tempo, dos anos, da
vida, sempre cobram o seu preço. O corpo vai ficando mais frágil, a memória já
não é mais a mesma, os passos vão ficando mais lentos.
Com sua lucidez e bom humor
costumeiros, ela está se despedindo aos poucos do prédio onde residiu por
décadas; porém, não há como não perceber uma certa melancolia em seu olhar. Gradativamente,
seus móveis e demais objetos estão sendo retirados e irão decorar outros
espaços. Novos vizinhos chegarão em breve, mas sempre haverá uma certa
nostalgia pairando no ar.
Valéria Leão: "O trem
que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também de despedida. A
plataforma dessa estação é a vida"
Entre promessas de encontros para
lanches e telefonemas para matarmos as saudades, que por certo virão, vamos
assistindo a movimentação pelos corredores e elevadores.
Sou grata pelos anos de convivência,
pelos papos no elevador, por todas as gentilezas e pelo bom humor sempre
presente na nossa relação. Sentirei saudades. Sentirei falta de ouvi-la saindo
logo cedinho para uma das suas muitas atividades diárias. Todos nós, moradores
e funcionários, sentiremos saudades.
A mudança da querida senhora desperta em
mim reflexões muito profundas sobre a finitude da vida. Nunca estamos
preparados por completo para encararmos a fragilidade que chega com a
maturidade dos nossos seres amados e a nossa própria (que mais cedo ou mais
tarde, também baterá à nossa porta).
Museu, Casa da Cultura, de Aperibé |
Com o passar dos anos, vamos sendo
obrigados a conviver com as indesejáveis despedidas. Essa é uma realidade
inevitável que independe de nossa vontade. De súbito ou vagarosamente a rotina
muda e, quando essa nova realidade se impõe, surge a necessidade de nos
desfazermos daquele ambiente cheio de recordações em que convivemos por anos
com as pessoas mais importantes de nossas vidas.
Mobiliário, utensílios e muitas das
nossas memórias vão sendo empacotadas. Nem sempre sabemos o que fazer com todos
aqueles objetos cheios de significados que compunham o nosso antigo lar.
Como escreveu Valéria Leão: Somos Instantes. |
Dividimos, doamos, vendemos; vamos nos
desfazendo de bens tão intimamente preciosos e nos despedaçando internamente. A
garagem e a sala vazia cortam como lâmina afiada nossa alma. Mesmo assim, vamos
seguindo, porque é assim que tem que ser.
Ciclos se fecham e outros recomeçam.
Essa é a realidade da nossa condição humana. Há que se ter força e um bom
coração para enfrentarmos, com maturidade e sem muito sofrimento, as escolhas
que a vida faz para todos nós.
Assim, dei o meu "até breve"
à minha querida amiga Marion:
Cuidem-se. Fiquem bem.
Se precisarem sair usem máscara.
Até a próxima.
NOTA
DA AUTORA:
No meu próximo livro continuarei compartilhando sentimentos e histórias de
amizade, entre outros temas que afetam a todos nós. Meu livro COMPARTILHANDO
SENTIMENTOS PARA NÃO SUFOCAR COM AS PALAVRAS continua à venda (livro físico e
ebook).
Instagram valeria.adv.leao
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