Dr. Alexandre Eduardo Scisinio se torna Desembargador e fala sobre seu Pai, o Gigante Dr. Alaor Eduardo Scizínio

O Itaocarense Dr. Alexandre Eduardo Scisinio foi promovido a Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Sem dúvidas uma grande honra para nossa terra. Ele é filho de um dos maiores brasileiros de todos os tempos, o Advogado, Poeta e Escritor, Dr. Alaor Eduardo Scisinio.

O Excelentíssimo Desembargador do TJ/RJ, Dr. Alexandre Eduardo Scisinio, ao lado da esposa, Magda Donato Scisinio

Nova Voz ONLINE – O que Itaocara significa na sua vida?

Dr. Alexandre Scisinio - Quando nos referimos à nossa terra natal, ou mesmo quando percebemos alusão ao local onde nascemos, sempre nutrimos bons sentimentos. Em Itaocara vivi minha infância e juventude, inclusive foi onde conheci minha esposa, brincando carnaval no União Esportivo Itaocarense, e estamos felizes e casados há mais de quarenta anos, com dois filhos e cinco netos.

Nova Voz ONLINE – Pode nos falar das lembranças que guarda no coração de nossa Aldeia da Pedra?

Dr. Alexandre Scisinio - As lembranças são muitas, de um período repleto de boas energias. Às vezes imagino que no poema “Canção do Exílio”, Gonçalves Dias se referia à nossa Itaocara: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá ...”

Um brasileiro chamado

 Alaor Eduardo Scisinio

Nova Voz ONLINE – O seu Pai, Dr. Alaôr Eduardo Scisinio foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Foi professor da UFF, da UFRJ e da SUESC; membro do Instituto dos Advogados Brasileiros, Procurador e Secretário de Cultura de Niterói, autor de livros, membro de diversas Academias de Letras ... UM GIGANTE. Pode nos falar como era a convivência com ele no dia a dia?

Dr. Alexandre Scisinio - Quando eu tinha nove anos de idade, estudante do Colégio Alzira Bittencourt em Niterói, na semana comemorativa do Dia dos Pais, os alunos foram instados à produzir mensagem ilustrada em homenagem ao seu respectivo genitor. Então desenhei um veículo com os faróis acesos numa via simples e estreita, com um menino logo à frente caminhando. Escrevi: “Papai é a luz que ilumina meu caminho”.

O saudoso Advogado, Escritor, Poeta, Dr. Alaor Eduardo Scisinio, cujo brilhantismo intelectual encontrou poucos que pudessem assemelhar-se nas terras tupiniquins

Nova Voz ONLINE – Fantástico!

Dr. Alexandre Scisinio - Surpreendentemente, tirei o primeiro lugar, merecendo destaque no mural da escola. Alaôr ficou super emocionado e foi assistir à cerimônia de entrega da premiação. Depois de tantas décadas, tenho comigo a certeza de que naquela frase fui preciso, pois expressei sentimentos que vieram do coração. Conviver com Alaôr era ter a oportunidade de obter constantes lições de vida, nos acalentava sempre uma palavra amiga e com apoio em todos os gêneros.

Nova Voz ONLINE - De que forma lhe influenciou a seguir uma carreira no mundo do Direito?

Dr. Alexandre Scisinio - Aos dezoito anos eu tinha a formação do Curso Técnico de Enfermagem, decorrente do curso profissionalizante na época obrigatório com muitas opções de carreiras, e por dois anos participei de aulas teóricas e práticas em hospitais de diversas especialidades, cuidando de pacientes e até agindo como instrumentador em cirurgias. Naturalmente o caminho deveria ser o Curso de Medicina, como assim se sucedeu com 95% dos colegas daquele curso. Dei uma guinada para o Curso de Direito pela paixão que nutria por Alaôr e sua fabulosa expertise. O admirava atuando no júri popular.

Um pouco sobre o novo Desembargador

Nova Voz ONLINE - Você é músico. Essa sensibilidade vem também da influência do seu pai ou da sua mãe? Ou dos dois?

Dr. Alexandre Scisinio - Bem, não sou músico, apenas me divirto ao piano. A vivência com a música foi fruto da orientação de Alaôr que matriculou todos os filhos no Conservatório de Música, e até em aulas particulares. Nossos avós paternos sim, eram músicos. Aristídes, além de artista plástico, tocava violino, e Olga um a grande pianista. Ambos davam aulas de música também. Não tive a oportunidade de conhecê-los, pois Alaôr ficou órfão de pai e mãe aos quatorze anos de idade.

Nova Voz ONLINE - O Dr. Alaôr é autor da obra Dicionário da Escravidão. É possível que algum dia haja um relançamento deste livro, tão elogiado por quem já o leu?

Dr. Alexandre Scisinio - Temos em pauta o projeto de reedição dessa consagrada obra de Alaôr chamada “Dicionário da Escravidão”, como também cogitamos atualizar a festejada obra denominada “Itaocara, uma Democracia Rural”.

O Dicionário da Escravidão poderá ser reeditado

Nova Voz ONLINE – Gostaria de pedir que fale um pouco sobre sua mãe Elza Carvalho Scisinio?

Dr. Alexandre Scisinio - Oh! Eu precisaria de muitos anos para falar um pouco da minha querida mãe, de suas qualidades, afeto e carinho. Após sua partida, o Município de Niterói prestou-lhe homenagem atribuindo o nome de Professora Elza Carvalho Scisinio a uma linda rua com bosque exuberante na aprazível Região de Pendotiba.

Nova Voz ONLINE – Deve ter sido um dia inesquecível.

Dr. Alexandre Scisinio - Os familiares me escolheram para falar em nome de todos e assim aceitei a missão fazendo uso da palavra. Ao término cantei, uma antiga modinha popular, inserido o nome de Elza: “Se essa rua, se essa rua fosse minha/ Eu mandava, eu mandava ladrilhar / Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante / Para o meu, para o meu amor Elza passar”.

O Conselho aos jovens de quem 

chegou ao píncaro da profissão

Nova Voz ONLINE – Muitos jovens advogados sonham com a vida na Magistratura. Como decano, o que pode contar a nova geração, tanto para incentivá-los, quanto também para desmistificar a ilusão de que tudo são flores? Ser Juiz de Direito é um trabalho árduo e exigente?

Dr. Alexandre Scisinio - Decidir sobre algo é inerente a todo ser humano, posto que desde quando nos levantamos ao amanhecer já somos levados às escolhas, desde uma simples veste ao mais complexo tema que nos é apresentado no decorrer do dia. Como fazer a nossa melhor seleção talvez seja de difícil domínio ou compreensão. O importante é encontrar a felicidade em todos os segmentos da vida, sendo feliz naquilo que a gente faz e que nos dá prazer, sobretudo para auxiliar a sociedade na busca de um mundo melhor. Alaôr escreveu essa bacana trova: “Felicidade, alguém diz/ é gozar do que dispomos/ É mais fácil ser feliz/ do que saber quando o somos.”

O Itaocarense Alexandre E. Scisinio,  Desembargador do TJ-RJ

Nova Voz ONLINE – Vossa Excelência agora chega ao píncaro. Foi empossado como Desembargador do Estado do Rio de Janeiro. Quais são suas expectativas?

Dr. Alexandre Scisinio - Na luta pelo Direito, a mudança do cargo de Juiz para Desembargador consiste apenas na troca da trincheira do bom combate.

Nova Voz ONLINE – Acha que as rotinas de um Juiz e de um Desembargador são muito diferentes?

Dr. Alexandre Scisinio - Rotina consiste no entendimento daquilo que é feito sempre do mesmo modo. No âmbito da atividade judicante, os conflitos submetidos à julgamento nunca podem ser interpretados como algo normal, pois todos os casos de interesse dos jurisdicionado merecem a mesma e dedicada atenção.

Nova Voz ONLINE – Sem dúvidas, ao longo de uma caminhada tão longa no direito, na magistratura, a família teve que fazer muitos sacríficos, tê-lo ausente, pelas horas de trabalho. Neste momento que chega a Desembargador, o que diria a eles?

Dr. Alexandre Scisinio - Aos meus familiares, esposa, filhos e netos, que por vezes se viram privados do meu convívio em razão dos estudos e trabalho, só cabe binômio desculpas e obrigado.

Nova Voz ONLINE – Vossa Excelência é jovem ainda. Mas pensa em escrever um livro de memórias, contando um pouco da sua história de vida, para incentivar as gerações que estão por vir?

Dr. Alexandre Scisinio - Nesse cruel ano de 2020, no qual a pandemia decorrente do COVID-19 nos obrigou ao isolamento total, as atividades profissionais se deram na modalidade home office e, no horário da noite, pude preparar ao piano músicas novas e relembrar outras antigas por mim já trocadas.

Nova Voz ONLINE – Que interessante!

Dr. Alexandre Scisinio - - Escrevi ainda uma peça teatral, um livro de contos infantis com cerca de quarenta aventuras lúdicas em homenagem aos netos, iniciei a escrita de um outro livro contendo história de amor envolta em enigmas, fiz alguns poemas e compus quatro músicas, sendo que duas dessas (“Princesinha” e “Luz Maria”) já foram gravadas e até lançadas por uma querida amiga no Youtube. Como tenho outras produções culturais, talvez seja mesmo possível lançar um livro de memórias.

A Praça Coronel Guimarães, hoje muito diferente, mas sempre lembrança no coração do Des. Alexandre Eduardo Scisinio

Nova Voz ONLINE – Gostaria que deixasse uma mensagem aos leitores da Nova Voz ONLINE, especialmente aos familiares e amigos aqui da nossa Aldeia da Pedra querida, que receberam sua promoção, como se deles fosse.

Dr. Alexandre Scisinio - Meu pai Alaôr era Itaocarense, pois sua irmã mais velha sempre a todos afirmou que ele nasceu exatamente em Itaocara. Em razão do desempenho do trabalho temporário naquele município de Cordeiro, Aristides, avô paterno, o registrou naquela cidade e não notou que houve erro material acerca da indicação do real lugar do nascimento da criança.

Nova Voz ONLINE – Bom saber disto até para que não haja equívocos históricos sobre o fato de ele ser itaocarense.

Dr. Alexandre Scisinio - Eu ainda jovem advogado, diante do equívoco, até me propus ingressar com o procedimento de retificação de registro, mas, como bom filósofo, Alaôr dizia que nada disso iria mudar na vida dele, que era um genuíno Itaocarense, e arrematava com a seguinte expressão: “O gato que nasce no forno da padaria não é pão coisa alguma: É gato!”

Nova Voz ONLINE – SENSACIONAL!

Dr. Alexandre Scisinio - Na esteira dessa lição aprendida, posso dizer também que o fato de ter vindo desenvolver meus estudos, profissão e residir fora do território de Itaocara não me deixou menos Aldeiense, nem perdi o contato com os queridos conterrâneos, ao contrário, no curso da vida fui conquistando mais novos amigos que me fornecem informações diariamente da querida Itaocara, inclusive acerca do o tempo do dia, se o clima está ensolarado ou chuvoso. Como se eu me transportasse diariamente para Itaocara, ainda que por alguns breves momentos. Acho esse vínculo formidável.

A NOVA VOZ ONLINE FAZ UM AGRADECIMENTO ESPECIAL A PROFESSORA THEREZA DUARTE PEÇANHA. SEM SUA COLABORAÇÃO ESSE REGISTRO HISTÓRICO NÃO PODERIA TER SIDO FEITO. OBRIGADO, OBRIGADO E OBRIGADO!!!