Diz
um ditado que quando a vida lhe dá limões, você pode escolher entre chupar ou
fazer uma limonada. Foi mais ou menos assim com o personagem de hoje, Gildo
Luiz Linhares. Ao perder o emprego de motorista da Câmara Municipal de
Itaocara, viu-se sem horizonte. Mas, meses depois, foi fazer uma entrevista de
emprego na SOLETUR, principal empresa de turismo do Brasil na ocasião.
Conseguiu ser contratado. Desde então, conheceu diversos lugares de nosso país,
além de ter estado em todos os continentes habitados pelos seres humanos.
Gildo no Canal Burano, em Veneza, na Itália |
Nova Voz ONLINE - Quais lembranças têm da Itaocara de sua infância e adolescência?
Gildo Luiz Linhares - As lembranças são mais de Jaguarembé, onde vivi. Estudei no colégio Laurindo Pita até a oitava série. Nessa época, Jaguarembé não tinha qualquer tipo de ambiente para fazer festas. Uma lembrança que tenho então é dos maravilhosos HIFI na escola, nos fins de semana.
Nova Voz ONLINE – Conta para galera mais jovem o que eram os HIFI?
Gildo Luiz Linhares – HIFI era uma festa combinada entre a galera, quando cada um levava algo, além de discos. Não sei explicar aos mais jovens o que eram discos (kkkk) esse objeto musical da nossa época ... Dançávamos, nos divertíamos, de um jeito muito inocente. Lembrança vem sempre com saudades.
Gildo com os filhos Luiz Eduardo, Ricardo, Ana e Yasmim |
Nova Voz ONLINE – Pois é rapaz, o pessoal de quinze anos, põe no Google, vitrola e discos de vinil, para descobrir o que eram ... risos.
Gildo Luiz Linhares – A partir do segundo grau, passei a frequentar o colégio Frei Tomás, até o terceiro ano, cursando técnica em agronomia. Tenho na memória, de Itaocara, o Recanto, o Pinguelão, os bailes do Nacional e do União, nos carnavais. Na terça feira de carnaval, as bandas do Nacional e do União saiam nas ruas da cidade e terminávamos tomando banho na piscina pública debaixo da fonte. Além das festas do padroeiro, de São José de Leonissa.
Gildo, a Mãe Maria Elisete Figueira e os irmãos, Sara e Gilmar |
Nova
Voz ONLINE
- Como era a vida em família?
Gildo Luiz Linhares – Nossa vida familiar era muito tranquila. Morávamos na casa que até hoje mora minha mãe, em Jaguarembé. Nossa família é bastante numerosa e sempre tínhamos afazeres e lazer. Andávamos de bicicleta, tomávamos banho de rio, escorregávamos de cuia de palmeira... Uma infância maravilhosa. Dormíamos cedo e logo de manhã íamos à escola.
Foto de infância: os irmãos Gilmar, Sara e Gildo |
Gildo Luiz Linhares – Na escola, foram anos incríveis. Participávamos das olimpíadas escolares, feiras de ciências, festas juninas e dos desfiles cívicos, principalmente nos do dia 7 de setembro. De manhã, tínhamos que ficar em fila, no pátio da escola. Nossa Diretora era a Dona Lazinha Câmara. Quando passei a estudar em Itaocara, lembro-me que pegávamos o ônibus bem cedo, que nos deixava na rodoviária. Íamos caminhando até a escola. Saudades da Diretora, Professora Léa Boa Morte e dos professores Benigno, Teixeira, Ruth, entre outros.
Os irmãos Maycon, Sanya, Gildo, Sara e Gilmar |
O Pai, o saudoso Vereador,
Salvador Linhares
Nova Voz ONLINE - O seu pai, Salvador Linhares, foi Vereador e figura atuante na política do município. O que guarda de lembrança dele, que pode dividir conosco?
Gildo Luiz Linhares – Eu acompanhava meu pai, em épocas de eleições, antes de ele ser eleito Vereador. Ele foi também presidente do Jaguarembé Esporte Clube. Junto do Vereador Ronaldinho, plantamos árvores ao redor do campo, após terraplanar o lugar.
Foto histórica: o Vereador Salvador Linhares, Lúcia e Gildo |
Gildo Luiz Linhares – Quando foi eleito Vereador, eu trabalhei com ele na Câmara. Na época, exercendo a função de motorista. Meus colegas de Legislativo foram os amigos Lino Eccard e o falecido Sica.
Nova Voz ONLINE – Nem eu sabia disso.
Gildo Luiz Linhares – Estou velho ... Kkk. Aprendi muito sobre o Poder Legislativo Itaocarense, com os vereadores da época. Alcêo Cortat, Ermete Eccard, Cristina Lanes, Elias Abbud, Chiquinho Fontes, Valdemar Torres, Geni Floriano, Ruy Rezende, Santo Cabuqueiro, Dr. Hélio Ruy e seu Zezinho Felix. O prefeito de então era José Romar Lessa. Sempre gostei de participar das reuniões da Câmara. Depois das sessões, eu levava quatro Vereadores para seus Distritos de origem, em Batatal, Laranjais e Engenho Central. Foi uma época maravilhosa. Muita união entre os Vereadores. Participei de alegres celebrações dos de aniversários de cada Vereador.
Gildo Cita Grandes Itaocarenses e fala de sua entrada no setor de turismos
Nova Voz ONLINE – Qual ou quais pessoas do município conheceu e lhe impressionaram?
Gildo Luiz Linhares – Conheci vários itaocarenses formidáveis. Joaquim Soares Monteiro, ex-prefeito, excelente administrador. José Romar, outro ex-prefeito, excelente administrador e visionário. O Alcêo Cortat, que não só tive o prazer de conhecer, mas convivi. Quero deixar até registrado, que foi graças ao empenho do Alcêo, que consegui entrar no setor turismo, através de amigos comuns. Também tem o Dr. Carlos Magno Daher, um médico excepcional. O Irmão Pedro, com seu Serviço Social de acolhimento a jovens, infelizmente completamente esquecido. Há vários outros que sempre me impressionaram, como escritores, artistas, e muitos outros que ficaria aqui horas nomeando.
Anos 90. Início de uma vida dedicada ao turismo |
Nova Voz ONLINE – Como se envolveu no setor de Turismo?
Gildo Luiz Linhares – Essa pregunta revela um divisor de aguas em minha vida. Apos a derrota nas urnas, nas eleições de 1988, nós que apoiávamos a chapa Alcêo Cortat e Mariazinha Teixeira, perdemos completamente espaço. Em Janeiro de 1989 fui exonerado da função de motorista da Câmara municipal.
Nova Voz ONLINE – Deve ter sido difícil.
Gildo Luiz Linhares – Foi bem difícil. Meus planos todos mudaram. E não estou reclamando. Bom deixar isso claro. Naquela época, a função de motorista da Câmara era por nomeação política. Nós perdemos e saímos. Então fique sem trabalho. Foi neste momento, como falei anteriormente, que com ajuda do Alcêo, participei de uma seleção para trabalhar na SOLETUR Turismo, na época a principal empresa no setor da cidade do Rio de Janeiro e uma das maiores do Brasil.
Gildo na cidade Luz: PARIS |
Nova Voz ONLINE – Ual. Isso que é uma mudança radical.
Gildo Luiz Linhares – Pois é. Eu, de Jaguarembé, de Itaocara, fui disputar com 40 candidatos, quase todos do Rio. Havia 10 vagas para ser guia de turismo. Óbvio que eu não tinha experiência alguma no ramo.
Nova Voz ONLINE - De novo: UAL. (RISOS)
Gildo Luiz Linhares – Tem razão. Ao chegar lá pensei: “não tenho a menor chance”.
No segundo ponto mais alto da Europa: Aiguille du Midi |
Nova Voz ONLINE – E o que aconteceu?
Gildo Luiz Linhares – Depois de nos apresentarmos e fazer um texto de conhecimento gerais nos deixaram sozinhos. Foi quando comecei a conversar com os candidatos e isso durou umas duas horas. Quero salientar que os quase quatro anos que estive na Câmara me ensinaram a ouvir e falar somente na hora exata.
Nova Voz ONLINE – Você foi sábio em adquirir esse conhecimento.
Gildo Luiz Linhares – Depois da equipe de RH examinar os currículos e o conhecimento individual dos candidatos, nos fizeram a seguinte pergunta: “suponha que só temos 2 vagas hoje e você ocupará uma. Qual o segundo candidato acha que tem capacidades de ocupar a segunda vaga entre os 40 candidatos?”.
Na Plaza Santana, com Antônio Nute Belmont, a quem Gildo é grato pelo apoio para desenvolver seu saber em turismo |
Nova Voz ONLINE – Que fascinante. Estou imaginando os leitores adorando essa história.
Gildo Luiz Linhares – (Kkk) Eu tive o total de seis indicações. Fique em segundo lugar no geral. Mais uma vez o aprendizado de relacionamento humano que tive na Câmara, me ajudou. Isso foi em Setembro 1989. Em Dezembro já estava viajando para o Nordeste e nunca mais parei. Conheço muito do Brasil, da América do Sul, já estive na América do Norte, na Europa, na Ásia, na África e na Oceania. Ou seja, em todos os continentes habitados, já coloquei os meus pés e o meu coração. Amo muito o meu trabalho.
Nova Voz ONLINE - Qual é a importância de aprender inglês?
Gildo Luiz Linhares – Aprender outro idioma é muito importante para o conhecimento e o crescimento. Quando tive que fazer os roteiros para América do Norte, me vi obrigado a aperfeiçoar os idiomas inglês e espanhol.
Em Oslo, na Suécia |
Nova Voz ONLINE – Na prática, como esse conhecimento ajuda?
Gildo Luiz Linhares – Por varias ocasiões tive que me virar para fazer com que os clientes compreendessem dificuldades e ficassem satisfeitos em situação como em greve de pilotos (em países de destino), nevascas e outras catástrofes naturais. Quero até contar, que no dia dos Atentados ao World Trade Center, em 11 setembro de 2001, eu estava justamente nos Estados Unidos.
Nova Voz ONLINE – Deve ter sido bem difícil.
Gildo Luiz Linhares – Sem fluência em inglês seria impossível. Com o passar do tempo aprendi Francês e Italiano. E não é só para o setor de turismo. Quem sonha em ter um conhecimento amplo, em nível mundial, ou sonha em ter um emprego melhor, falar um segundo ou um terceiro idioma é um diferencial. Então: estudem línguas estrangeiras. Esse aprendizado abre diversas portas.
Lugares do Mundo e Itaocara
Nova Voz ONLINE - Tem algum lugar especial que já foi e gostaria de indicar aos leitores?
Gildo Luiz Linhares – Há vários lugares fantásticos. No Brasil e no exterior. Fora do Brasil, eu gostei muito de ter conhecido o Egito. Viagem que me emociona ate hoje. O Canadá é fantástico. Grand Canyon, na costa oeste dos EUA é um lugar surreal. Também os Fiordes da Noruega, a região da Capadócia na Turquia, o Parque Torres del Paine, no Chile e os Lagos também.
Na fábrica museu da Ferrari |
Nova Voz ONLINE – Muitos lugares formidáveis então?
Gildo Luiz Linhares – Eu considero viajar uma das mais completas experiências que o ser humano pode ter. O aprendizado que temos com o contato com outros costumes são vastos. Vai da culinária, a música e mesmo coisas do dia a dia, como ir a um café ou restaurante ou pegar um táxi. São engrandecedores. É uma experiência que eu diria espiritual, transformadora. Quem viaja amadurece, muda a forma de compreender a própria vida.
Nova Voz ONLINE - Aproveitando sua experiência na área (de turismo), nossa Itaocara é muito bela. Quais seriam as dicas que daria para que possamos aproveitar nosso potencial turístico, quando a pandemia houver passado?
Gildo Luiz Linhares – Itaocara é um município que sempre preservou sua maior riqueza: os Itaocarenses. Somos um povo simpático, educado no trato, seguros. Temos uma riqueza geográfica diversificada, com o rio Paraíba do Sul, serras lindas, praças, lugares fantásticos e uma historia rica.
Gildo em Valência, Espanha, na obra do Parque de Exposições, assinada pelo renomado arquiteto Santiago Calatrava |
Nova Voz ONLINE – Mas como aproveitar todo esse potencial?
Gildo Luiz Linhares – Essa não é uma resposta simples. Eu diria que há lugares com bem menos do que Itaocara em a oferecer, mas tem destaque. Qual é o porquê? Simples: turismo é um setor da economia que precisa de profissionalismo para ser explorado. Nós temos a matéria prima. Belezas naturais que podem e devem ser explorados de maneira sustentável. E um povo fora de série.
Nova Voz ONLINE – Então, qual é o problema?
Gildo Luiz Linhares – Eu não quero ofender ninguém, mas, nesse momento, tudo é completamente amador. Estou à disposição para ajudar a construir oportunidades de exploração do turismo. Mas serão necessários investimentos. Especialmente mudança de paradigmas, de modo de pensar. Se houver compreensão sobre isso, estou pronto para mergulhar num projeto de enriquecimento do município a partir do turismo.
Nova Voz ONLINE - Itaocara faz 131 anos neste mês de Outubro. Qual presente gostaria de dar a nossa cidade?
Gildo Luiz Linhares – Mais do que o presente que gostaria de dar. O que estou pronto para oferecer. Tem relação com a pergunta anterior. Eu gostaria de ajudar aos jovens, aos Itaocarenses, que querem trabalhar com turismo. Como disse estou disposto a conversar. Tenho um projeto de fomentar o turismo em Itaocara e Região. Quando eu falo em qualificação, quero contar que é algo que eu próprio estou sempre buscando. Tive o prazer de ser um dos 54 brasileiros a participar de um curso de turismo sustentável cooperativista, em Brasília, no ano de 2002.
Gildo, Gisely, Maycon, Sara e Gilmar |
Nova Voz ONLINE – Que interessante!
Gildo Luiz Linhares – Expresso aqui publicamente, que gostaria de dividir meu conhecimento com turismo. Dar esse presente a minha terra Itaocara. FUNDAMENTAL que compreendam que a participação e o apoio do Poder Público no que envolve o projeto é importante. Mas o setor privado precisa abraçar a iniciativa, compreender que hotéis, bares, restaurantes, lojistas, todos precisam estar envolvidos igualmente.
Família ampliada |
Nova Voz ONLINE – Como assim?
Gildo Luiz Linhares – O setor público precisa criar as condições, mas quem tem que liderar é o setor privado. O setor privado não pode depender do setor público. Proponho-me a esclarecer, a treinar cada parte para atuar na sua área. Minha experiência de 32 anos trabalhando com turismo no Brasil e conhecendo o Mundo, estão à disposição. Feliz Aniversário Itaocara.
Verdade, grande itaocarense!!!
ResponderExcluirFazer do limão uma limonada não é apenas espremê-lo, mas colocar amo e principalmente em suas próprias firmas e a transformação surge!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Gildo!!
ResponderExcluirParabéns!
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