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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

De Berlim, Ana Luíza fala sobre a COVID na Alemanha e Europa, temendo o que pode acontecer no Brasil em 2022

Volta e meia nossa leitora, a Advogada Ana Luíza Policani, que mora em Berlim, capital da Alemanha, fala sobre o momento que o país teutônico e a Europa enfrentam, na crise da COVID 19. Nesse bate papo, ela lamenta o movimento antivacina e a flexibilização antes do tempo, que agora causa graves problemas aos europeus.

Ana Luíza com o filho Arthur e o marido Vanderson

Nova Voz ONLINE – Como foi o ano de 2021 na Europa no geral e na Alemanha em particular?

Ana Luíza Policani - Em geral foi um ano bom, mas com muitos desafios. Com os números mais baixos na primavera, a vida foi “voltando ao normal” como lojas e restaurantes abrindo, flexibilização das fronteiras da União Europeia, volta de campeonatos esportivos… Com isso, o clima de "já ganhou" imperou e como os países europeus ficaram quase um ano em medidas restritivas começaram a relaxar nas restrições.

Nova Voz ONLINE – Quando acha que começou a complicar?

Ana Luíza Policani - Com a chegada da variante Delta. Foi muito difícil para as pessoas e também para as autoridades internacionais se conscientizarem que o Coronavírus não havia acabado.

Nova Voz ONLINE – E o que aconteceu?

Ana Luíza Policani - Novas medidas restritivas foram colocadas em prática, como acesso aos locais públicos como bares e restaurantes, academias somente para pessoas duplamente vacinadas. Como consequência, houve muita falsificação de Passaporte de Vacinação que era vendido por 350 Euros.

Nova Voz ONLINE – Eu quase pergunto: “ué, isso tem na Alemanha também?” (Risos)

Ana Luíza Policani - Muita gente foi presa. O clima ficou mais tenso por ser ano eleitoral na Alemanha e com o crescimento do movimento anti-vax (antivacina). As novas regras “apertaram” após as eleições.

Ana Luíza praticando Arqueirismo Otomano

Nova Voz ONLINE – De que forma?

Ana Luíza Policani - Para entrar em locais e eventos públicos precisa da apresentação do passaporte de vacina com a identidade (Regra 2G- genesen (recuperados/geimpft) e/ou com teste negativo com menos de 24h (getestet- Regra 2G Plus). O “status” de vacinado (vollständig geimpft) pode ser perdido se a pessoa não tomar o reforço em até 9 meses. Muitos estão se vacinando pela primeira vez agora, para não correrem risco de continuarem com limitações e até mesmo perderem o emprego.

Nova Voz ONLINE – Muitos leitores vão ficar assustados com o que está relatando?

Ana Luíza Policani - Isso tudo não ocorreu por falta de vacina, muito pelo contrário. Houve a tentativa de vacinação em massa e mesmo assim está sobrando. Como consequência, muita gente veio do Brasil e de outros países à turismo, para Berlim, para se vacinarem e pegar o QR Code. Conheço pessoas que, inclusive vieram com criança a partir de 12 de dezembro, data em que liberaram a vacinação para faixa etária entre 5 a 11 anos. Veio tanta gente que, a  partir do dia 23, as instituições responsáveis pela aplicação da vacina receberam notificação do governo alemão proibindo a entrega do Certificado Digital para turista fora da Alemanha e da União Europeia.

Nova Voz ONLINE – Isso teve algum desdobramento nas celebrações de final de ano?

Ana Luíza Policani - Houve limitação no número de pessoas para se reunir nas celebrações natalinas.  No Ano Novo também foi proibido à venda, assim como soltar fogos de artificio. Porém, muita gente desrespeitou a regra e foi para Polônia, comprar. Quase 300 pessoas foram presas.

Nova Voz ONLINE – Foi possível notar que no início do verão europeu, liamos notícias de forte flexibilização nas medidas preventivas da COVID. No entanto, com a chegada do inverno, o movimento acontece no sentido contrário. É possível explicar estes movimentos antagônicos?

Ana Luíza Policani - No geral as doenças respiratórias, gripes e resfriados, no inverno tem um aumento de transmissão, com a combinação de temperatura baixa, com ar mais seco somado ao fato de que as pessoas ficam mais em ambientes fechados, o que contribui para a proliferação dos vírus respiratórios.

Tomando uma bier (cerveja) no frio de Berlim

Nova Voz ONLINE – Entendi.

Ana Luíza Policani - Aqui em Berlim, como na Europa em geral, além desse fator, tivemos muita gente sem querer se vacinar, o que facilitou a propagação do vírus e o surgimento de uma nova variante. A meu ver, a vacina deveria ser obrigatória, salvo em casos excepcionais.

Nova Voz ONLINE – No meio de tudo isso, como os moradores de Berlim estão se sentindo? Ou seja, que “vibe” há no ar?

Ana Luíza Policani - Há um clima estranho no ar… Por um lado, os moradores que possuem conscientização da vacinação e da letalidade do vírus, estão realmente respeitando as medidas restritivas e de higiene, como o uso de máscaras, apresentação do cartão de vacina com documento de identificação e distanciamento. Entretanto, infelizmente, tem muita gente no movimento anti-vax, por questões religiosas, ignorância ou por estarem envolvidos com movimentos de extrema direita ou “querdenker" (pessoas do movimento antivacina, conspiracionistas, da extrema direta ideológica). Estes últimos chegam a partir para agressão física a policiais e autoridades que trabalham com a fiscalização em geral.

Como tudo isso afeta

a família de Ana Luíza

Nova Voz ONLINE – E você, o Vanderson e o Arthur, como estão vivendo tudo isso?

Ana Luíza Policani - É muito estranho você estar em 2022, e ter movimento anti-vax e pessoas sem nenhum conhecimento questionando a ciência. A meu ver, as medidas restritivas, principalmente a exigência mais rigorosa da vacina, deveria ter sido implementada há muito tempo.

Vanderson e Ana vão para o quarto ano em Berlim em 2022

Vanderson - Ficamos muito felizes com a liberação da vacina para crianças a partir do dia 12.12.2021 e com a criação de centros exclusivos para isso. No geral estamos nos cuidando bem e respeitando as regras atuais.

Arthur - Infelizmente temos amigos próximos, aos quais gostaríamos muito de passar o Natal e o Ano Novo, que não estão completamente vacinados, ou que estão vacinados e não levando as medidas a sério.

Nova Voz ONLINE – No Brasil há um sentimento que o pior passou. Comum aglomeração em todos os lugares. Há cidades importantes que já não mais exigem o uso das máscaras. A partir da experiência que viveu no verão 2021, na Europa / Alemanha, qual é sua opinião sobre esse otimismo?

Ana Luíza Policani – Relaxar agora é uma das piores decisões que poderiam ser tomadas! Portugal e Áustria foram dos primeiros países a flexibilizar o uso de máscaras e logo entraram na Zona de Risco, inclusive já no verão europeu (Junho, Julho e Agosto), o que facilitou a propagação da variante Delta no continente Europeu. Perdemos justamente pelo clima de “já ganhou”. Pelo visto o Brasil nada aprendeu e vai pelo mesmo caminho.

Nova Voz ONLINE – Qual é sua expectativa para 2022? Na Europa e na Alemanha?

Ana Luíza Policani - A meu ver, com uma postura mais rigorosa do governo alemão, em relação às medidas restritivas, a exigência da vacina e a liberação da vacina para as crianças as coisas vão melhorar. Cabe agora ao governo alemão e aos demais países europeus, aprenderem com os erros e elaborarem uma estratégia para o verão 2022.

Nova Voz ONLINE – E aqui, na terra brasilis? Qual sua expectativa, olhando de fora?

Ana Luíza Policani - Em relação ao Brasil, me preocupo muito. Uma autoridade competente e responsável, como a Anvisa, ser questionada, com funcionários ameaçados é inaceitável (e inacreditável). Nesse jogo de política e ignorância me preocupo com as crianças brasileiras, que já deveriam começar a ser vacinadas. Eu espero, realmente, que em 2022, o atual presidente não seja reeleito. Já morreu muita gente por falta de postura na Pandemia e pela má gestão do país em si.




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