O Itaocarense Maycon Rohen apresentou sua Dissertação de Mestrado a Universidade Federal Norte Fluminense Darcy Ribeiro. O trabalho, cujo título é MÁQUINA POLÍTICA NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS: UMA ANÁLISE DO EMPREGO E DO GASTO PÚBLICO DE 2.000 A 2.016, fala sobre políticas públicas e a relação com os partidos políticos, identificando com dados, o que falta transformar e o que foi transformado no Brasil, para criar um Estado mais próximo ao desejo do cidadão.
Nova
Voz On Line -
Do que Trata sua dissertação de Mestrado?
Maycon
Rohen
- Analisa a atuação das máquinas políticas nos municípios brasileiros,
investigando a diferença entre as estratégias partidárias nos últimos quatro
pleitos eleitorais. Dito de outra maneira: o partido do Prefeito importa na
hora da execução do gasto público e na contratação de funcionários?
Nova
Voz On Line -
Qual é a conclusão? O Partido do Prefeito importa na hora da execução do gasto
público e na contratação de funcionários?
Maycon
Rohen
- Nos gastos onde a legislação impõe gastos mínimos, ou limites, os
partidos se comportam de forma bastante parecida. A variação é mínima. Nos
gastos considerados na dissertação como discricionários, há uma variação, porém
os achados mais interessantes são justamente os inesperados, como por exemplo,
o PSDB apresentar maiores médias de gasto per capita, em áreas sociais, do que
o PT. No que diz respeito à contratação de pessoal, eles também se comportam de
forma bastante parecida, mantendo o mesmo percentual de funcionários
discricionários.
Nova
Voz On Line
– Muitas legislações, ao longo do tempo, engessaram a execução do orçamento,
determinando (inclusive) os percentuais que devem ser gastos com os itens A, B
ou C. A partir da pesquisa feita, concluiu que isso é positivo ou negativo? Ou
seja, os municípios deveriam ter maior discricionariedade para gastar os
impostos, a partir das decisões do grupo político local?
Maycon
Rohen
- Essa talvez seja a principal crítica dos pesquisadores que advogam em favor
do município como laboratório para o surgimento de boas práticas e políticas
públicas inovadoras. Porém não estabelecer regras é um risco muito grande. Teríamos
5.570 maneiras diferentes de aplicar os recursos públicos o que deixaria a
população muito vulnerável. Eu concordo que por vezes a legislação não é adequada
devido à grande heterogeneidade dos municípios brasileiros. Acredito que o mais
correto seriam faixas de gasto levando em consideração a população do município
e indicadores de desenvolvimento como o IDHM.
Nova
Voz On Line
– O Brasil é uma República desde 1889. Ou seja, faz 129 anos. No entanto, tanto
a classe política, quanto a população, não consegue entender bem o que é res
(coisa) pública (de todos). Quem governa pensa que faz favores e quem é
governando, pensa que recebe benevolência em troca. Na sua pesquisa é possível
identificar a falta de políticas públicas feitas a transformar situações, ao
invés de ser o mero resolver de circunstâncias?
Maycon
Rohen
- A dissertação mostra exatamente o tipo de relação entre os governantes e os
eleitores, desde o Coronelismo (na República Velha) até os dias atuais. Fica
claro como as estratégias se alteram no decorrer do tempo, mas o clientelismo
continua sendo a sustentação de muitas carreiras políticas. No que tange às
políticas públicas, elas evoluíram bastante, mas o acesso a elas ainda é um
entrave. A lógica da máquina política é patrocinar (como favor) o acesso a bens
públicos, mesmo que esses sejam legalmente um direito do cidadão.
Nova
Voz On Line
- A pesquisa aponta alguma iniciativa para mudar essa lógica? Ou seja, o
cidadão entender que é direito dele desfrutar de boa saúde, boa educação ... E a
classe política (igualmente) entender que foi eleita para administrar os
impostos e oferecer boa saúde, boa educação (...)?
Maycon
Rohen
- O trabalho é essencialmente quantitativo, são analisados dados de todos os
5.570 municípios, em um recorte de 16 anos. Porém questões de ordem qualitativa,
como a percepção do cidadão / eleitor, não foram incluídas. Mas pelos dados é
possível constatar, por exemplo, o grande número de funcionários concursados
nos últimos anos, o que indica procedimentos universalistas, para acesso a
cargos públicos. Isso é uma transformação, se consideramos 50 anos passados.
Nova
Voz On Line
– E o que mais pode ser feito para por fim ao clientelismo?
Maycon
Rohen
- O fortalecimento da burocracia é indispensável para transformar o favor
político em direito via universalismo de procedimentos. A burocracia forte, com
critérios bem definidos e de fácil acesso a população, diminuirá essa percepção
de favor, pois o cidadão não precisará de um mediador entre suas demandas e a
administração pública. Políticas Públicas que atendem a esses requisitos tendem
a funcionar sem necessidade de patrocínio político. Por exemplo, um cidadão que
queira comprar uma casa pelo programa Minha Casa Minha Vida, desde que ele se
enquadre nas exigências de renda e o imóvel no valor e características
estipulados pelo programa, pode se dirigir a Caixa Econômica Federal e dar
entrada no seu financiamento sem precisar de um mediador político. Essa é uma
mudança significativa na forma de fazer política institucional no Brasil.
Nova
Voz On Line
- Comparando as gestões dos Partidos Políticos, me parece que apesar dos
discursos serem diferentes, a governança é muito parecida. A socióloga
Guatemalteca, Glória Alvarez, diz que na América Latina, o que reina é o
populismo, não diferindo muito as gestões feitas pelos partidos (ditos) de
esquerda e os ditos de direita. Sua pesquisa corrobora esse raciocínio?
Maycon
Rohen
- O populismo é um fenômeno um pouco mais complexo, que envolve, além das
práticas, o discurso. O que parece claro na dissertação, é que os partidos
políticos querem vencer eleições, e para isso utilizarão o que estiver a sua
disposição para aumentarem suas chances de sucesso eleitoral. Mesmo que isso vá
contra seus posicionamentos programáticos.
Nova
Voz On Line
– Estamos no meio do processo eleitoral. Em poucos dias vamos eleger
Presidente, Governadores, Senadores, Deputados Estaduais e Federais. O eleitor
parece escolher seus candidatos, muito mais voltados à emoção, que levam a
calorosas discussões (inclusive), do que racionalmente, pensando sobre as propostas
desses candidatos. O quanto essa atitude atrapalha o país a ter eficiência na
gestão da máquina?
Maycon
Rohen
– Particularmente não acredito na irracionalidade do voto. Acredito que os
fatores econômicos possuem grande influência na decisão do voto. Quando o
eleitor tem a percepção que sua vida melhorou, recompensa o governante com o
voto. Quando a percepção é inversa, pune o governante, escolhendo outro
candidato.
Nova
Voz On Line
– Como analisa o atual momento eleitoral?
Maycon
Rohen
– Inquietante. Tão delicado, que minhas maiores preocupações são com os
candidatos que colocam em dúvida a capacidade da democracia em resolver os
conflitos. O governante eleito terá a legitimidade em comandar as políticas
públicas no país pelos próximos quatro anos. Por pior que o eleito seja,
acredito que as instituições são capazes de frear alguns abusos, até as
próximas eleições. Mas a partir do momento, que qualquer candidato, não
reconhece o resultado das urnas, cria uma instabilidade institucional, o que é
muito grave para o país.
Nova
Voz
– Como a pesquisa produzida pelas Universidades, como seu trabalho de
dissertação de Mestrado (na UENF), pode melhorar a gestão pública no Brasil?
Maycon
Rohen
– As universidades possuem um papel estratégico no desenvolvimento nacional. As
pesquisas fornecem a base para avanços em todas as áreas do conhecimento. No
caso específico da gestão pública, podemos aprimorar a formulação e
implementação de políticas, que irão impactar diretamente na vida do cidadão.
Apesar dos parcos recursos destinados a pesquisa no Brasil, as universidades
ainda conseguem se destacar como centros de excelência, muitas vezes
subutilizada pelos governantes, que poderiam utilizar a expertise das
universidades, para melhorar a qualidade de vida da população.
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