Texto Escrito pela Psicóloga Clínica e Escolar,
Drª Isabel Ramos Anastácio /CRP 05/56686
Neste período em que antecede a volta
às aulas, é comum o aparecimento da ansiedade tanto por parte dos pais, quanto
das crianças. Importante mesmo é saber identificar se trata de uma ansiedade
“boa”, no sentido de expectativa, animação ou uma ansiedade maléfica, que gera
angústia, medo e insegurança. O equilíbrio emocional dos pais nesta época é
superimportante para não transmitir aos filhos seus medos e suas inseguranças.
As dúvidas mais frequentes geradas por
pais da Educação Infantil são: Será que devo ficar com meu filho na escola nos
primeiros dias? Devo deixá-lo chorando algum dia? Quanto tempo leva o período
de adaptação? Será que deixá-lo chorando, não irá traumatizá-lo?
É importante que pais e professores
entendam que a criança que ingressa na escola pela primeira vez, está entrando
em mundo totalmente novo e cheio novidades, que a instituição “Escola” é muito
mais ampla e cheia de desafios que a “família”. Então é normal que desenvolva
na criança uma série de emoções diferentes: medo, insegurança, mas ao mesmo
tempo euforia, curiosidades. Daí a importância dessa criança ser motivada pelos
pais e acolhida pelos professores, de maneira que se sintam amadas, protegidas.
Suas pequenas dores precisam ser compreendidas e valorizadas.
O ideal é que os pais visitem o
ambiente escolar junto com a criança antes do início das aulas. Apresentem o
local, onde ficam as salas, o refeitório, o banheiro, o bebedouro e o
parquinho. Mostrando à criança que aquele local é seguro e que ela será muito
feliz lá, terá muitos amigos e outras diversidades novas e legais.
Quanto ao primeiro dia de aula, é comum
que alguns chorem. Se for o caso, o pai ou mãe pode sim, ficar na escola nos
primeiros dias, porém, sempre deixando que a criança interaja e seja conduzida
pela professora da turma. Procurar ir se distanciando aos poucos, sentando mais
longe, depois na sala de espera ou no hall da escola, para que a criança passe
a sentir segurança nela mesma e na relação com professores e colegas. A
presença dos pais por muito tempo na escola pode gerar na criança uma
dependência afetiva, prejudicar sua adaptação, seu rendimento e até causar um
atraso em seu processo de maturação.
Cada criança possui um tempo diferente
para adaptação, pois ao chegar à escola, ela já carrega consigo uma história,
um modo de vida recheado de experiências e vivências captadas do lar. Algumas
crianças não irão chorar no primeiro dia de aula, outras irão chorar três dias,
uma semana, depois deixarão a pessoa que a acompanha ir embora. Já terão aquelas que em algum momento os pais
precisarão deixá-las mesmo chorando, pois possa ser que tenham que passar meses
na escola e ainda à criança continuará pedindo sua presença e sabemos que isso
não é bom. A criança precisa desenvolver autoconfiança, perceber a graça de
conviver com pessoas diferentes e entender que o mundo pode sim ser um lugar
bom e seguro para se viver. Por isso é de suma importância que os pais tenham
confiança na Instituição de Ensino que escolheu para o filho estudar.
Existem mecanismos que podem ajudar
nesse período de adaptação como:
• Deixar a criança levar para à escola um brinquedo ela
tenha apego. Este servirá como elo de ligação entre a escola e o lar e fará com
que ela se sinta mais segura.
• Chegar minutos antes da hora da entrada para que a criança
possa relaxar aproveitando os brinquedos e as brincadeiras no parque.
• Buscar mais cedo, para que a criança não fique tanto tempo
longe da família neste início.
• Estabelecer uma boa comunicação e parceria com a
professora, a fim de entender melhor cada comportamento da criança e saber
ajudá-la.
Existem crianças que choram muito para ficar na escola e os
pais temem que estas fiquem com trauma de estudar. Esta é uma situação que
precisa ser analisada com bastante atenção. A primeira questão é entender o
porquê daquele choro em excesso, pois a criança nem sempre sabe nomear o que
está sentindo. Neste caso, é preciso observar e refletir. O fato da criança não
aceitar ficar na escola pode estar querendo dizer muitas coisas, como por
exemplo:
•Estar sentindo falta dos pais, por passarem pouco tempo com
eles.
•Não estarem acostumadas a conviver ou interagir com outras
pessoas além da família.
•Não estarem acostumadas com rotinas, nem a respeitar
limites.
•Não possuírem habilidades sociais para brincar com outras
crianças, pelo fato de ter convivido só com adultos até então.
Cada criança tem um jeito especial de
ser e também caberá à professora se reinventar várias vezes para cativá-lo.
Pois a criança precisa ver o professor com uma figura capaz de amá-la e
protegê-la em qualquer situação. Esse vínculo entre professor e aluno também é
essencial para uma boa adaptação.
Estar atentos às situações que podem
atrapalhar tanto a adaptação escolar, quanto ao desenvolvimento cognitivo e
emocional da criança pode facilitar o trabalho dos pais e professores:
•Levar uma criança de volta para casa só porque ela chorou
ou fez pirraça, pode reforçar esse comportamento, levando-a à entender que toda
vez que chorar sua vontade será atendida, ou que realmente ela tem razão: a
escola não é um lugar seguro para ficar, por isso seus pais a levaram de volta
para casa. Isso pode sim fazer com que criança realmente não queira mais ficar
na escola. Claro é importante observar se o choro dessa criança não está
ocorrendo devido a alguma condição de saúde, se não está febril ou outros.
•Esquecer a criança na escola pode sim, gerar um trauma e
essa não querer mais voltar ao local que foi “esquecida”, gerando assim uma
crença de desamor e desvalor. Fazendo com que a esta se sinta desamparada,
abandonada, insegura e sem importância. É muito importante que os pais tenham o
horário da busca dos filhos reservado só para este fim ou que então tenha uma
boa comunicação com a pessoa responsável pela busca.
• Não ser atendido pelo professor em situações que impliquem
em suas necessidades básicas como, sede, fome e sono ou não ser acolhido e
motivado quando se sentir impotente diante alguma atividade. Cabe ao professor
estabelecer uma boa conversa com o aluno e dá-lo sempre oportunidades de expressar
o está sentido, para que isso não reprima seus sentimentos.
Enfim, a ida para à escola desde a
Educação Infantil nos dias de hoje é imprescindível e um desafio que com
certeza vale a pena viver, pois trata-se de um leque imenso e colorido que se
abre, trazendo um mundo novo recheado de novas experiências e vivências lindas
que mudará para sempre a vida da criança. Afinal de contas, a infância é apenas
um ensaio preparatório para a vida adulta. Uma criança feliz é projeto de um
adulto feliz.
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