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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Lucília Maria Rosa de Ornellas: Mãe, Avó e Bisavó, a história de uma Matriarca Itaocarense


Quem a vê sentada na frente de sua casa, na Rua Coronel Pita de Castro, não consegue imaginar a riquíssima trajetória de vida, da senhora Lucília Maria Rosa de Ornellas, que atualmente está com 96 anos. Ela é viúva de um dos maiores itaocarenses de todos os tempos, o empresário e político, Marino Coelho Ornellas. Temos o prazer de contar um pouco da história dessa grande mãe, cujos filhos Neuzy. Nelma, Nélio, Neyde e Nilson, os netos e os bisnetos, são fonte de grande orgulho.

A Saudosa Matriarca da Família Ornellas, Dona Lucíola, comemorando o aniversário com os filhos, Nelma, Neide, Nilson, Nélio e Neuzy (estes dois últimos, já falecidos)

Nova Voz On Line - Quais suas principais lembranças da infância?
Lucília - Nasci em Itaocara, cidade do interior. Minha infância foi normal, como qualquer criança. Brincadeiras de rodas, pique esconde, pique alto, passar anel, reuniões familiares, teatro infantil, eram freqüentes. Nós íamos à casa das colegas para brincar de bonecas, fazer roupas, batizados delas e cozinhados. Hoje, não se vê mais crianças brincando de rodas. As crianças não têm infância. Estudei com a professora Lívia, da alfabetização à terceira série, em aulas particulares. Depois fui estudar no Colégio Saldanha da Gama (Frei Tomás, local hoje da Prefeitura nova), cursando a quarta e quinta séries, com Dona Lucrécia Villas.

Nova Voz On Line – A senhora gostava de estudar?
Lucília - Na quinta série, fui a melhor aluna da classe, tirando 10 com louvor em todas as disciplinas durante o ano todo. A diretora, Dona Romana, diante deste fato, me deu uma bolsa de estudos para fazer o curso normal (a quinta série equivalia, hoje, ao ensino médio completo), no Rio de janeiro. Ela foi pessoalmente à minha casa para dar a notícia, mas minha mãe não permitiu. Fui, então, trabalhar com D. Sinhá Costa, costureira de fama. Costurava vestidos e roupas para as madames do Rio de Janeiro. À noite, costurava para mim e meus irmãos, bordava, fazia casinha de abelhas nas roupas de crianças, e ponto smock, ponto paris nas camisolas das noivas, ponto matiz nas toalhas e lençóis, bainha de laçada e crochê.

Nova Voz On Line – A senhora ficou chateada por não ir estudar no Rio e ter que ficar trabalhando aqui?
Lucília – Claro que não. Minha geração gosta muito de trabalhar. Dando seguimento a minha vida, fui trabalhar na Venda de Tecidos e Retalhos do Sr. Braz de Cusatis, na Praça Coronel Guimarães, onde hoje é a escola de Inglês Wizard. Nas horas vagas, à tardinha, íamos para casa da Dona Cininha Simões, ajudando a fazer flores de papel crepom, para coroa de flores, e aprender fazer bonecas de pano.

Nova Voz On Line - Como era viver em Itaocara em sua adolescência?
Lucília – Era ótimo. Às quartas-feiras e aos domingos, nós, jovens, freqüentávamos a Praça Cel. Guimarães, ouvindo a rádio YC2, no prédio de Dona pepita Machado, onde também funcionava a biblioteca e o Itacine (atualmente o prédio ao lado do Clube União). Os bailes e os carnavais de Itaocara eram realizados no Itacine. Diversão bem inocente. O objetivo era rir e nos sentirmos felizes. Foi uma época fantástica, sem dúvida alguma.

Nova Voz On Line - Como a senhora conheceu o Sr. Marino  Ornellas?
Lucília - Cidade pequena, todos são conhecidos. Marino morava no Caeté (na zona rural), e vinha à cavalo para Itaocara. Eu sabia que ele tinha namorada firme, quase noivo. Mas nós flertávamos. Ele sempre mandava recados, querendo conversar comigo. Num dos bailes no Itacine, ele chegou perto de mim, começamos a conversar e ele me tirou para dançar.

Neyde Ornellas com o pai, Marino Ornellas, um dos mais importantes empreendedores da história do município de Itaocara

Nova Voz On Line – Essa história daria um filme de amor.
Lucília - Ele terminou o namoro firme, e pediu permissão a minha mãe para namorarmos. Eu tinha 18 e ele 19 anos. Namoramos durante três anos. Casamos em 31/07/1940. O meu enxoval de noiva foi feito todo por mim. Eu era muito habilidosa.

Nova Voz On Line - É verdade que havia muita vigilância da família no namoro daquela época?
Lucília - O namoro de antigamente era muito reservado e controlado pelos pais. Havia muito respeito pelas famílias, principalmente em cidades do interior, onde todos se conhecem.

Nova Voz On Line - A função da mulher, então era ser dona de casa e criar os filhos? Pode nos falar um pouco sobre esse momento?
Lucília - Quando nos casamos, fomos morar no Caeté, com meus sogros. Ficamos lá durante sete meses. Grávida da minha primeira filha, Neuzy, nos mudamos para Itaocara, para a Rua Coronel Pitta de Castro (onde hoje é casa do Sr. Olisses França). Na época o Marino trabalhava como açougueiro. Fomos morar então, na Rua Nilo Peçanha. Compramos a Venda Secos e Molhados do Sr. Armindo - meu sogro. Ali, nossa segunda filha, Nelma, nasceu. Marino passou a venda para seu irmão, Manoel Ornellas, e fez Sociedade com o Sr. Resende, numa empresa de Armazém e Máquinas de Arroz, na Ponta da Areia (no local hoje estão o Bazar Cremonez, A Farmácia Droga Lima, Loja A Garotinha e Studio Semiana). Mudamos novamente. Dessa vez para a Rua Cel. Pitta de Castro, 83 (a parte dos fundos do Clube União). Fiquei então grávida do 3º filho, Nélio.

Nova Voz On Line – Nessa época que sua mãe faleceu?
Lucília – Infelizmente sim. Eu e o Marino assumimos os meus sete irmãos: 2 gêmeas de 4 anos e os outros, de 6 anos, 9 anos, 11 anos, 13 anos e 15 anos. Também meu pai de criação. Ao todo, 12 pessoas foram morar em minha casa.

Dona Nelma Ornellas, com suas saudosas mãe, Lucíola e irmã, Neuzy

Nova Voz On Line – O Sr. Marino continuava cuidando dos negócios?
Lucília – Ele desfez a sociedade com o Sr. Resende. Comprou dois caminhões KB6 internacional. Fazia compra e venda de cereais no Rio de Janeiro e vendia no município de Itaocara. Ele viajava muito. Às vezes ficava na estrada 15 dias. Até um mês. Ir ao Rio não era fácil como hoje. Eu ficava tomando conta da casa, que era a função da mulher de antigamente: criar, educar e orientar os filhos. Além de cozinhar, eu costurava para toda família. Não se comprava roupas prontas em lojas. Eram feitas em casa. Lavava, passava, e arrumava tempo para bordar por encomenda, ajudando nas despesas da casa.

Nova Voz On Line – Apesar das dificuldades, foram tempos felizes?
Lucília – Certamente. Meus filhos e meus irmãos, todos foram batizados e fizeram primeira comunhão na Igreja Católica. Nasceram nessa casa mais dois filhos, Nelza e Neyde. Mudamos para a Cel. Pitta de Castro, 228 (onde hoje mora a Neyde). Lá nasceu o Nilson, o filho caçula. Encaminhamos nossos filhos e meus irmãos, estudando no Colégio Itaocara (particular).

Nova Voz On Line – A senhora era típica mãezona de época para todos?
Lucília - Eu dizia: “se não passarem de série, vão ter que repetir”. Eu ameaçava: ‘vocês vão ficar de bengala na mão, mas têm que estudar’. Lembro-me como se fosse hoje. Ajudava meus filhos nas traduções de Inglês, Francês e Latim, quando tinham dificuldades. Nunca tiveram aulas particulares. A função era minha. Muitos anos depois, fomos morar na Fazenda Santa Clara, na zona rural, onde funcionava a fábrica de cachaça.

Nova Voz On Line – Era uma vida muito dura.
Lucília - Muito trabalho. Mas éramos muito felizes. O Marino se tornou um dos mais importantes empresários da história de Itaocara. Bom lembrar o que dizem: “por traz de um grande homem, existe uma grande mulher”. É a pura verdade (risos).

Nelma com a Mãe Luciolá e irmão Nilson Ornellas 

Nova Voz On Line - O Senhor Marino trabalhou bastante. Participou ativamente da vida política do município. Mas a senhora sempre preferiu ficar distante, não é mesmo?
Lucília – Tenho orgulho do meu marido. Marino sempre foi um homem de negócios. Participava, não só na política, como na vida social de Itaocara. Quando possível eu o acompanhava. Minha família tomava parte dos eventos, como carnaval e os bailes. Eu dava apoio total. Na vida política, nunca participei, porque era tímida. Também não tinha tempo, com uma família tão grande para criar e educar. E nunca gostei de política.

Nova Voz On Line – Atualmente os casamentos que duram 10 anos são recordistas. Mas a senhora foi casada com um único homem, durante toda a vida. É um grande desafio manter o casamento por tanto tempo?
Lucília – Penso que não é. Quando o homem e a mulher se casam por amor, tudo é superado. Sou muito agradecida pelo marido que escolhi. Ele foi um ótimo filho, um ótimo irmão, um ótimo cunhado, um ótimo marido e um pai maravilhoso. Sempre muito dedicado à família. Nós construímos uma família com carinho e com muito trabalho, tanto da minha parte quanto da parte dele. Casamento não é brincadeira. Deve ser encarado de forma séria. Assim sempre vai dar certo.

Nova Voz On Line - Depois dos filhos, vieram os netos e os bisnetos. E a senhora continua vivendo feliz, aproveitando os bons momentos, ao lado da família. Pode nos contar um pouco sobre isto?
Lucília – Sou feliz porque cumpri minha missão. Tenho uma família digna, com filhos, netos e bisnetos, com saúde. Todos são pessoas honestas, o que neste país é de grande orgulho. Graças a Deus! A única coisa que sinto, e vou sentir até o último suspiro é saudades do meu marido. Gostaria que o Marino estivesse aqui, desfrutando de tudo ao meu lado.

Nova Voz On Line - A senhora acha que as mulheres são mais felizes hoje, quando podem ter a própria profissão, namorar livremente, enfim, ter uma vida independente?
Lucília - Os tempos mudaram. A mulher de hoje escolhe a profissão que quer. Os namoros são diferentes. Há muita liberdade. Mesmo assim não diria que são mais felizes, nem que a minha geração foi mais feliz. Ser feliz é saber desfrutar o momento de modo pleno. Por isso é tolo comparar. O que posso dizer, com máxima certeza é que fui e sou muito feliz.

Nova Voz On Line - Qual é a receita para chegar a sua idade, lúcida e com saúde?
Lucília - Eu trabalhei muito, mas somente em casa, educando e encaminhando meus filhos. Nunca fumei. Não sinto nada. Não tomo remédios. Não tenho pressão alta. Não sou diabética. Não tenho problemas de coração. Durmo muito bem. Eu sempre li muito. Desde cedo, fui muito estudiosa. Se me perguntarem as capitais dos Estados do Brasil, dos países da América do Sul e de todo Mundo, sou capaz de dizer, na ponta da língua. Tenho 96 anos com muita saúde. Graças a Deus. Minha mente está ótima.

Nova Voz On Line - Do alto de sua experiência de vida, o que diria para as mulheres mais jovens, neste início de Século XXI?
Lucília - Aconselharia as jovens a estudarem e escolherem sua profissão. Só depois pensar em casamento. Hoje não estuda quem não quer. Há muita facilidade e liberdade para escolher o que quer ser na vida. Então aproveite o seu momento.

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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Waltair Sias Gomes: Uma vida de lutas e vitórias

A origem humilde jamais desanimou este grande itaocarense
O casal Waltair e Fátima, ladeados pelos filhos Vanessa e Thiago

Quem o vê caminhando pelas ruas, com voz suave, temperamento afável e coração bondoso, jamais pode imaginar que a vida do mais renomado farmacêutico de Itaocara, Waltair Sias Gomes, teve muitos momentos de luta contra as dificuldades. Filho de família pobre, só conseguiu estudar graças ao seu mentor, Otílio Pontes, que abriu as portas para o menino simples do Engenho Central, se tornar um dos mais importantes homens da história de Itaocara.

Nova Voz On Line – Que lembranças têm de seus pais?
Waltair Sias – Meu pai chamava-se Waldir Gomes da Silva e minha mãe Esther Sias Gomes. Ambos eram dedicados a mim e ao meu irmão, Walter. Meu pai era o protótipo do homem trabalhador, mecânico das locomotivas que puxava os vagões de cana de açúcar na Companhia do Engenho Central Laranjeiras. Minha mãe, uma pessoa simples, com coração grandioso. A educação e os valores que recebemos deles, jamais esquecemos, principalmente sobre a importância da família. Nunca vi meu pai e minha mãe, gritando um com o outro. Esse mesmo respeito tornou-se modelo para mim, quando me casei.

Nova Voz On Line – Como foi o início de sua vida?
Waltair – Nasci na fazenda do Engenho Central, numa época boa e saudosa, quando praticamente as melhores coisas que existiam na região, desde o lazer, até a saúde, o Engenho era a referencia. Estudei no Colégio da Dona Cora, concluindo lá o primário. Com dez anos, tive que parar de estudar, pois minha família era humilde e não tinha como pagar para que fizesse o ginásio, que só existia em Itaocara.

Nova Voz On Line – Não parece ser tão distantes, o Engenho de Itaocara.
Waltair – Em 2018, sem dúvidas, não poderia ser tão próximos. Mas estou falando doutros tempos, quando não havia nem sombra deste movimento de veículos, indo e vindo, de Laranjais para Itaocara, dos dias atuais. A estrada era de terra e a única condução certa, o trem. Então, apesar de na geografia, os 15 km que separam as localidades continuarem os mesmos, a facilidade de ir e vir atualmente é 2000 % maior.

Nova Voz On Line – Como conseguiu superar está dificuldade?
Waltair – Neste meio tempo, o farmacêutico do Hospital do Engenho, Sr. Hernanes Campanhe, e o médico Dr. Salim Elias, me viam andando na rua, sem ter o que fazer. Perguntaram-me se não gostaria de trabalhar com eles, na Farmácia. Nem podia imaginar que ali iniciava uma carreira que levaria para o resto da vida. Lá aprendi bastante. O movimento era grande. Atendíamos 630 funcionários. Foi quando o farmacêutico Otílio Pontes, soube sobre um garoto na farmácia do Engenho, que aprendia rápido e queria estudar, mas não tinha condição.

Nova Voz On Line – Assim que veio para Itaocara?
Waltair – Sim. Cheguei no dia 16 de abril de 1958, sem conhecer ninguém. Fui estudar no João Brazil (atual Colégio Municipal Nildo Caruso Nara), aonde terminei o ginásio, correspondente a atual 8ª série. Depois cursei o Normal, que é o equivalente ao ensino médio. Conclui ainda o curso Técnico em Contabilidade, no famoso Colégio Itaocara, dirigido pelo célebre professor Nildo Nara. Minha formação de nível médio é de Professor Primário e Técnico em Contabilidade, o que na época era bastante, se pensarmos nas dificuldades que existiam para estudar. Anos mais tarde, me graduei em Direito na faculdade.

A compra da Farmácia Itaocara

Nova Voz On Line – O Brasil viveu um período conturbado de sua história, com o golpe militar de 1964. Que lembranças têm daqueles dias?
Waltair – Em 1966 me alistei e fui servir no I Regimento de Cavalaria de Guardas, nacionalmente conhecido como os Dragões da Independência. Fui designado para prestar serviços no Palácio das Laranjeiras, na guarda do primeiro Presidente da República da Revolução, O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Foram realmente anos terríveis para o nosso país, sem liberdades civis, nem direitos políticos. Nas ruas o que se via eram conflitos que impediram o desenvolvimento de uma geração de jovens brasileiros. Foi lastimável.

Nova Voz On Line – Quando voltou para Itaocara?
Waltair – Só cumpri o tempo obrigatório e já em 1967, estava de volta. Fui trabalhar no Banco Agrícola de Cantagalo, comprado posteriormente pelo antigo BANERJ, hoje Banco Itaú. Nesse período tive a oportunidade de comprar a Farmácia Itaocara, em sociedade com meu amigo Paulo Lorosa. Mesmo assim, foram dois anos até concretizar a negociação, pois não tinha dinheiro. O senhor Otílio Pontes nos financiou em 70 meses, mas queria um avalista para cada promissória. O senhor Zeca do Roque, pai do Paulinho Lourosa, convenceu o Otílio a aceitar seu aval nas 35 parcelas que caberiam a ele, porém eu tive que conseguir os avalistas.

Nova Voz On Line – Tem algum detalhe importante nesta história?
Waltair – Trabalhava no BANERJ, que tinha como norma não emprestar dinheiro a funcionário. Mas nesses momentos é que sentimos Deus atuando em nossas vidas. O Edgar, que era gerente do Banco Predial (atual Unibanco), me sugeriu que pedisse ao meu tio, Noé da Rocha Sias, que pegasse um empréstimo no nome dele, um fazendeiro respeitado e de crédito. Bastante sem jeito pedi ao meu tio, que para minha felicidade me deu todo apoio.

Nova Voz On Line – Então ficou tudo resolvido?
Waltair – Esse empréstimo bancário era para pagar minha parte na entrada do negócio. O restante teria que encontrar 35 avalistas. Quando faltavam cinco, já não tinha a quem pedir. Foi quando num desabafo com o senhor Marino Ornelas, disse que iria desistir. O Ataíde Faria (ex-prefeito de Aperibé), que era compadre do Otílio ouviu a conversa e, junto com o Marino, assumiram o aval das cinco promissórias faltantes. Só assim, consegui finalizar a compra da Farmácia.

Faria Souto e Joaquim Monteiro

Nova Voz On Line – Que lembrança tem da Itaocara daqueles tempos?
Waltair – Éramos uma cidade bem parecida com a que vemos nos filmes do velho oeste, com muitos cavalos andando pelas ruas. Automóveis só existiam uns cinco ou seis. Toda cidade, ia da Ponte Ary Parreiras, até a Ponta da Areia. Nossa diversão era o banho de rio nos domingos, as serestas, muitas vezes feitas ao luar e os jogos de futebol.

Nova Voz On Line – Qual o papel o Dr. Carlos Moacyr Faria Souto, teve na cidade?
Waltair – O Dr. Carlinhos já tinha sido Prefeito uma vez, quando me mudei para Itaocara. Ao ver o recanto pela primeira vez, perguntei a um amigo quem tinha construído. Ele respondeu: Faria Souto. E a piscina? Faria Souto. E o rinque de patinação? Faria Souto. E a biblioteca pública? Faria Souto. E o dancing? Faria Souto. A escadaria? Faria Souto.

Nova Voz On Line – Tudo o Faria Souto?
Waltair - Esse era o Faria Souto. O homem que fez quase tudo de belo que nós temos. Depois, nos anos 1970, quando foi novamente Prefeito, prestava contas de seus atos em Praça Pública. Vinham ônibus de turismo para conhecer Itaocara. Quando a Praça Estados Unidos foi inaugurada, ele pediu uma sequóia, símbolo da nação Americana, para ali plantar, representando a amizade entre os povos. Quem veio trazer a muda, foi o Cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Por tudo isso, passamos da hora de prestar uma grandiosa homenagem em memória deste extraordinário itaocarense.

Nova Voz On Line – E o Joaquim Monteiro?
Waltair – Como característica pessoal, era o inverso do Faria Souto. Um homem rústico, mas de uma capacidade para trabalhar impressionante. Tanto que conquistou a simpatia das pessoas no município e em todo Estado. Lembro-me de uma vez que fomos numa audiência, com o então Governador do Rio de Janeiro, Chagas Freitas. Depois de dizer o que queria, acrescentou: “o senhor resolva isso agora, pois estou com pressa”. E o Governador resolveu. O Joaquim ficava contrariado, quando não conseguia atender a quem lhe procurava. Para a zona rural, foi um Prefeito extraordinário.

Monsenhor Saraiva

Nova Voz On Line – Outro amigo que você conquistou durante os anos em Itaocara, foi o Monsenhor Saraiva. O que tem a dizer sobre ele?
Waltair – Ele foi meu professor e é meu amigo. Um pároco que sempre atendeu a todos, sem exigir nada em troca. Quando sua mãe, dona Aide, ficava doente, eu quem atendia. São incontáveis o número de cerimônias que realizou. Tenho a honra de dizer que o meu casamento e o batismo dos meus filhos, foram celebrados pelo Monsenhor Saraiva. No meu casamento, ele disse que estava casando um cristão e um amigo. No dia que a minha filha Vanessa nasceu, me deu uma carta lacrada e pediu para guardá-la e só abrir quando ela fizesse 15 anos. Na missa dos 15 anos que celebramos, ela abriu a carta e leu para os presentes. Essa é minha ligação com o Monsenhor.

Nova Voz On Line – Ele é bastante político, não é Waltair?
Waltair – Diria que sua figura é tão grandiosa, que engloba muitos aspectos de Itaocara. Durante bastante tempo, teve o papel central do que acontecia no município. Prefeitos iam e vinha, mas o Monsenhor Saraiva permanecia, fazendo sentir sua presença. Foi Secretário de Educação do Joaquim Monteiro. Protegeu aos que precisavam, quando o Brasil viveu a ditadura militar. Em resumo, é um ícone de Itaocara.
O casamento

Nova Voz On Line – Como conheceu sua esposa, Dona Fátima?
Waltair – Ela era a moça mais linda que tinha vindo estudar em Itaocara. Só existiam duas farmácias. Notei que ela passou a me dar uma preferência grande, na hora de fazer alguma compra (risos). Toda vez que ela aparecia, meu coração sorria de felicidade. Meu coração continua disparando por ela (risos). Assim começou a paquera, surgiu o namoro e em 1977 tive a felicidade de me casar com a Fátima, o que foi a melhor coisa que fiz na vida. Da nossa união, veio a Vanessa e o Thiago, dois filhos maravilhosos, que nunca me deram trabalho algum. Pelo contrário, só alegria.

Nova Voz On Line – O convívio ensina lições?
Waltair – Com certeza. Cada um tem o seu jeito. Quando nos casamos, encontramos quem amamos, mas tem uma maneira diferente de ver o mundo. É a perfeita oportunidade de aprender coisas novas. A Fátima me ensinou bastante. Transformou-me para melhor, através do carinho e do amor que depositou em mim. Não só no lar, até nos negócios e na nossa vida religiosa.

Nova Voz On Line – Depois de contar está história admirável de vida, que mensagem teria para os itaocarenses?
Waltair – Nunca desanimem. Por mais difícil que seja a luta, quem persiste sempre vai encontrar a vitória no final. Os desafios forjam o caráter. Além disso, tenha uma religião. Fé em Deus é fundamental. Abaixar a cabeça, fechar os olhos e principalmente agradecer pelo pão que está em nossas mesas e pela família que possuímos, ajuda muito a ser feliz. Parabéns aos munícipes e que construamos a cada dia, um amanhã melhor. Feliz aniversário Itaocara!

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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Dr. Carlos Magno Daher fala sobre a vida


Texto escrito pelo Dr. Carlos Magno Daher, Membro Titular da Cadeira do Dr. Ferreira da Luz na Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências (APLAC)

O Médico Dr. Carlos Magno Daher foi a casa do amigo Ronald Thompson, presenteá-lo com a publicação da Acadêmia Paduana de Letras onde este artigo está escrito

É uma honra poder participar deste livro. Juntar minha biografia, a de grandes homens e mulheres, deixando para posteridade, o registro dos fatos que marcaram nossas vidas. Minha história começa em uma Santo Antônio de Pádua, muito diferente da atual. A Revolução das Comunicações, a partir do advento da TV via satélite, até as modernas tecnologias da era digital, transformaram o mundo de tal forma, que a vida interiorana, praticamente acabou. Mesmo na zona rural, hoje, o morador tem acesso a televisão, telefone celular e internet. Em minha infância, nem luz elétrica existia. O rádio fazia parte do dia a dia. Mas a TV veio muito depois.

Saudosas são as lembranças das brincadeiras nas ruas de terra batida, de nossa então pequena cidade. Infância maravilhosa. Meu pai, Chaquip Daher, era filho de imigrantes libaneses. Minha mãe, Maria da Conceição Pegorim Daher, de imigrantes italianos. Desta união nascemos eu e meus irmãos, Ana Lea, Marlene Maria, Fernando Michel, Lucio Mauro e Chaquip Daher Júnior. A Igreja Católica tinha importância central na cidade. Freqüentávamos as missas, participávamos das trezenas de Santo Antônio, das ladainhas de Maio, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, da Páscoa dos Estudantes e vários outros. Grandes párocos, como Padre Diniz e Padre Eduardo, deixaram a marca do trabalho evangelizador, fazendo tanto bem pelo município. Líderes espirituais, que conquistaram o carinho da paróquia.

Com os primos, tios e amigos, as brincadeiras típicas da infância e adolescência: banhos de rio, pescarias, futebol e bate papo. Tudo inocente. Sem malícia. Era o mundo de então. Penso que a televisão veio modificar vários dos costumes mais tradicionais do interior. Lembro-me das visitas que minha família fazia, aos parentes e amigos, à noite e nos finais de semana. Conversar era muito importante. De repente, isto foi substituído pelas novelas e programas de auditório. O famoso “fica quieto, porque estou assistindo meu programa”, acabou com o sentimento de fraternidade que formava fortes laços entre as pessoas.

Recordo também de uma das maiores alegrias de Santo Antônio de Pádua: a Banda Lira de Arion. Para grande orgulho da família, meu pai foi Presidente da Lira por muitos anos. Curtíamos as retretas nas praças, aos domingos. As Alvoradas, nos dias festivos e na época das eleições. Quando a banda desfilava em seu uniforme de gala, era possível perceber a expressão de felicidade no rosto do povo Paduano. Bons tempos.

Hoje o velho Clube Social, parece uma relíquia do passado. Mas quando fecho os olhos, vejo as moças e os rapazes, das melhores famílias, indo freqüentar os bailes. Nós, de terno e gravata. Elas, elegantemente arrumadas, em seus encantadores vestidos, na maioria das vezes, costurados pelas próprias moças, ou por famosas costureiras da cidade. Existia uma atmosfera difícil de descrever em palavras. Valores que todos possuíamos. Mesmo as paqueras e as amizades, tinham que ter aprovação das famílias. Isso enobrecia os relacionamentos humanos. Longe, bem distante, destes modismos atuais. “Ficar”, só se fosse para sempre.

A famosa música, A Deusa da Minha Rua, em seu primeiro verso, diz assim: “A deusa da minha rua, Tem os olhos onde a lua, Costuma se embriagar. Nos seus olhos eu suponho, que o sol, num dourado sonho, vai claridade buscar”. E na minha rua, tinha uma Deusa, por quem me apaixonei com a idade de 21 anos. Ela, então, com 15 anos. É a minha esposa, mãe dos meus filhos, grande amor de minha vida, Maria Cristina Lima Daher. Já disse certa vez, e repito agora: a melhor decisão que tomei em meus 71 anos, foi casar com a Christina, no dia 12 de Dezembro de 1970. Com ela vieram os filhos Ana Gabriela, João Paulo e João Gabriel. Três presentes de Deus. Só nos dão alegrias, pela forma digna e responsável, como levam suas existências.

Dr. Carlos Magno em Nova Iorque, ao lado do famoso Touro em Wall Street, o maior centro financeiro do planeta

Na medicina, me formei pela Universidade do Estado da Guanabara – UEG (atual UERJ), no ano de 1969. Sou Médico do Ministério da Saúde, Perito Legista da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Médico da Prefeitura Municipal de Itaocara, Médico do Hospital Municipal de Itaocara, Médico do Hospital de Aperibé, Médico e Sócio Fundador da Casa de Saúde João XXIII. Sou Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Sociedade Brasileira de Radiologia. Depois da família, meu grande amor é a medicina. São 46 anos devotados a atender, da melhor maneira possível, a todos que me procuram.

No ano de 1970, o também jovem médico, em início de carreira, Dr. Nelson Freitas Rodrigues, me convidou para conhecer o trabalho feito no Hospital de Itaocara, sob a liderança dos médicos, doutores Álvaro Pinheiro e Geomar Alves da Cunha. Todos estavam empolgados com a ampliação deste nosocômio, o que me motivou a iniciar os atendimentos, isto no dia 1º de Junho de 1970.

Seis meses depois, começamos a construir a Casa de Saúde João XXIII. Não é possível transmitir em palavras, quão arrojada foi essa iniciativa. A idéia de criar um atendimento moderno, capaz de melhor receber a população, só foi possível, porque o sistema gerido pelo INAMPS/INPS permitia. Remunerava os médicos de forma digna, criando o espírito de empreender na saúde. Totalmente diferente do SUS atual. Iniciamos as obras em Janeiro de 1971. A inauguração aconteceu em junho de 1975. Trouxemos para Itaocara uma medicina atualizada. Este espírito move nossa empresa até o dia de hoje.

Desde então, minha profissão mudou completamente. Estamos na época da medicina dos aparelhos. Com o máximo respeito que tenho pelos mais jovens, preciso destacar que sinto falta da formação básica em clínica médica. Procedimentos como a Tomografia, a ressonância, o ultrassom, e etc., fizeram desaparecer o profissional que chamávamos de Clínico Geral, responsável pelo primeiro diagnóstico. Tudo passou a ser resolvido por uma batelada de exames caríssimos, para felicidade das multinacionais, que vendem e fazem a manutenção dos aparelhos. Nós, os médicos mais antigos, só no contato do consultório, perguntando sobre o que o paciente está sentindo, verificando o histórico, utilizando o medidor de pressão e auscultando os pulmões, diagnosticamos 90 % dos casos, de modo preciso. Não sou contra a tecnologia. Pelo contrário. Creio ser uma ferramenta extremamente útil, especialmente nos casos difíceis de diagnosticar, o que ocorre na minoria das vezes. Mas a medicina tem a ver com ouvir a aflição do outro. E não temos máquina com está sensibilidade. Só os seres humanos podem fazer isto.

A medicina é uma ciência desafiadora. Quem chega com uma dor abdominal, pode ter desde simples prisão de ventre, até um câncer grave. Se não tiver as informações que falei anteriormente, sobre o histórico de quem estamos tratando, não vai ler de forma precisa, o resultado dos exames. É nesse momento que a experiência clínica funciona, possibilitando direcionar o que realmente se quer saber. Diria que 99.99 % das vezes, vamos se acertar.

Fundamental destacar que a saúde pública do Brasil, não consegue suportar os custos dessa tecnologia. Por mais que a Secretaria tenha recursos, atender toda demanda é impossível. Os exames de ponta são caríssimos, em função dos preços dos equipamentos, que passam dos milhões de Reais. O resultado é a criação de um fosso, que separa poucos centros de excelência, em todo país, rodeados por grandes hospitais da União e dos Estados, repletos de graves problemas. Eu prescreveria para o caso, que as universidades revissem a formação dos médicos, tornado-a mais voltada à realidade financeira nacional. É preciso saber diagnosticar, não somente no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas também no Maranhão, no Piauí ou em regiões pobres, como é o caso do Noroeste Fluminense.

Alguns amigos ficam impressionados, quando digo que mesmo após 46 anos de profissão, continuo apaixonado pelo o que faço. Começo a trabalhar às 7 horas da manhã, indo, no mínimo, até as 19 horas. Continuo tirando meus plantões de vinte quatro horas. Sou médico do Hospital de Itaocara e da Casa de Saúde João XXIII. Sob meus cuidados, nasceram mais de 16 mil crianças. A medicina está na minha veia. Existem dois tipos de medicina. A de escrivaninha e a do campo de batalha. Eu sou desta última. Deus me deu um talento, que nas horas críticas aparece, e está a serviço das pessoas. Por isso oro, agradecendo, todos os dias.

Neste trajeto, para nossa felicidade, fomos sendo reconhecidos. Recebi os títulos de cidadania honoríficas dos municípios de Itaocara, Aperibé, Cambuci e São Sebastião do Alto. Tenho a honra de ser membro da Academia Itaocarense de Letras e da Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências (APLAC). Gosto muito do mundo intelectual. Graças ao meu filho, João Paulo, ter optado por uma carreira de médico fora do Brasil, tive o privilégio de visitar as Universidades John Hopkins, Cornell, Columbia e Maryland, nos Estados Unidos. A Universidade de Sorbonne, na França. E as universidades de Oxford e Cambridge, no Reino Unido. Nestes contatos, percebi a grande diferença civilizatória entre os chamados países do primeiro mundo, e nós, os países em desenvolvimento.

Podemos fazer muito melhor. Nós, brasileiros, somos um povo criativo. Temos toda capacidade de atingir elevado grau de desenvolvimento. Porém, neste caminho, há hábitos que precisamos corrigir. Não é permitido transigir com o erro, por menor que seja. Mesmo coisas que consideramos de menor gravidade, como colar nas provas da escola ou estacionar em local proibido, cria a cultura da subversão da ordem, ao nosso bel prazer. É assim que a corrupção começa. Os escândalos que tomamos conhecimento pela mídia nacional, têm início quando conquistamos algo de forma imprópria. Miguel de Cervantes escreveu: “a formosura da alma campeia e denuncia-se, na inteligência, na honestidade, no reto procedimento, na liberalidade e na boa educação”. Acredito integralmente nisto. Adoto essa retidão de princípios, como modo central da minha vida.

Algumas vezes estive para entrar na política como candidato. Fico muito grato, inclusive, ao povo itaocarense, que praticamente em todas as eleições, nas últimas quatro décadas, lembrou-se do meu nome, para concorrer ao cargo de Prefeito. Vejo como reconhecimento ao trabalho que sempre fiz na medicina. Até o presente momento, venho resistindo aos apelos. Seria uma honra governar Itaocara, município que adotei. Sei do grande potencial que possuímos. Breve vamos ter o início da construção da Hidrelétrica. Há também previsão de exploração de uma grande jazida de calcário. A beleza natural e o curso do rio ressaltam nosso potencial grandioso, para a indústria do turismo. Acho que se for possível confluir todos estes esforços, com o dinâmico e moderno comércio que já possuímos, podemos, em uma década, ter o padrão de vida parecido, com as pequenas cidades que conheci na Europa e nos Estados Unidos.

Sem dúvidas nossa APLAC, com a iniciativa de editar este compêndio, vai deixar para posteridade um importante registro histórico desta época. Quero concluir, agradecendo a todos os Confrades, pela honra em compartilhar do convívio. Espero que os historiadores do futuro, lendo nossos textos, possam entender um pouco do momento histórico que passamos. Das profundas transformações ocorridas, em tão poucas décadas, e a forma como nós, as vivenciamos.



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domingo, 28 de outubro de 2018


Neste Dia 28 de Outubro, quando Itaocara celebrar 128 anos de Emancipação Política e Administrativa, dou os parabéns ao povo de nossa cidade. Peço a Deus que nos ilumine e nos una, para que juntos possamos construir uma Itaocara melhor.

Fraterno Abraço. Jaderson Aleixo - Vereador

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O Deputado Estadual Reeleito, Jair Bittencourt e o Engenheiro Paulo Roberto Alves Rodrigues, agradecem ao povo itaocarense, pelos 766 votos obtidos na última eleição, reafirmando a disposição de trabalhar pelo município, quando essa Terra abençoada por Deus, completa 128 anos de Emancipação Política e Administrativa. Estaremos muito mais presentes, a partir deste Segundo Mandato. 


Muito obrigado Itaocarenses!!!

Deputado Estadual Jair Bittencourt
Engenheiro Paulo Roberto Alves Rodrigues

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Henrique Resende encanta com a Arte e Forma a Nova Geração


Indubitavelmente Henrique Resende é um dos itaocarenses mais queridos. Artista renomado, expondo no Brasil e no Exterior. Mesmo assim, nunca perdeu seu jeito de menino de cidade do interior, o que conquista a todos que o conhecem. Henrique também trabalha na formação das novas gerações. Junto com a esposa, tem realizado o Projeto Arte Para Crianças.

Itaocara é a grande paixão do Artista Plastico Henrique Resende

Nova Voz On Line – Volta e meia você realiza algo em Minas Gerais. Seja trabalho, estudo ou mesmo turismo. É coincidência ou Minas Gerais tem uma energia diferente?
Henrique Resende - Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Tiradentes, São João Del Rey, Inhotim. São lugares mágicos. Impossível entender um pouquinho da alma brasileira, sem conhecer Minas Gerais. Nós somos passionais e exagerados. Somos barrocos. Expressiva, rebuscada e exuberante, a alma brasileira se identifica muito com o Barroco Mineiro, até mesmo o nosso carnaval, com todo o brilho e exuberância de suas alegorias, deve a sua atual aparência, as realizações mineiras dos séculos XVIII e XIX, quando artistas, como os Mestres Athayde, Francisco Xavier de Brito e Aleijadinho, criaram suas obras fantásticas.

Nova Voz On Line – O artista capta vibrações dos lugares onde está?
Henrique Resende - Tudo está interligado. O lugar, a época e os acontecimentos interferem, ou pelo menos deveriam influenciar, nas criações artísticas. Como dizia o saudoso itaocarense José Carlos Raposo, “o artista é a antena do mundo”.

Nova Voz On Line – Por falar nisso, faz alguns anos lhe cobrei sobre o porquê, de você não morar num grande centro, ligado às artes. Sua resposta foi que Itaocara era a verdadeira fonte, onde havia de beber sua inspiração. Continua sendo assim?
Henrique Resende - Aqui moram meus irmãos e meus pais. Moram os irmãos e pais da minha esposa. Aqui moram os avôs, tios e primos da minha filha. Foi aqui que nascemos e crescemos. Além do mais, o artista visual não é como o cantor, o dançarino, o ator e o músico, que precisam estar presentes, junto ao público, para que a arte se realize. A criação do artista visual é solitária. Um dos maiores pintores vivos, o alemão Anselm Kiefer, reside numa cidadezinha na França. Os seus trabalhos sim, vão para os grandes centros.

Cartaz da mostra de artes que realizou em Leonessa e Giulianova, na Itália

Nova Voz On Line - Em 2012, você esteve na Itália para uma exposição de suas obras. Pode nos falar um pouco daquela experiência?
Henrique Resende - Num país de gênios da arte, como Michelângelo, Leonardo Da Vinci, Rafael, Caravaggio e tantos outros, poder realizar uma exposição do meu trabalho – 31 obras em bico de pena, aguada de nanquim e guache – e passar a fazer parte do acervo do Museu de Giulianova (Teramo), é realmente uma alegria muito grande. Tive a oportunidade de conviver um pouco com os italianos, não como turista, mas como uma pessoa que estava ali para levar um trabalho. Experiência inesquecível, foi abrir a exposição na cidade de Leonessa (Rieti), num cenário medieval, cercado de muita neve e hospitalidade. A exposição depois seguiu para Giulianova.

Nova Voz On Line – Outro trabalho de grande importância foi o Naturismo. De onde surgiu a idéia?
Henrique Resende - A relação que temos com a natureza sempre foi uma preocupação em minha vida. Por volta dos 11 anos de idade, comecei a ter uns sonhos estranhos: São Francisco de Assis falava para eu subir o morro, atrás de minha casa (local onde hoje funciona o ateliê). Lá no final, já no terreno do Adovani, existia uma mata. Dizia para me isolar e desenhar. Eu levava materiais de desenho e, sozinho, passava longas horas, em contato com a natureza. Cheguei, nessa época, a pensar em virar um eremita (risos). Mas hoje entendo melhor aqueles sonhos, que me acompanharam até a adolescência. Começava ali a formação de um pensamento voltado à ecologia e à espiritualidade. A série de pinturas que intitulei “Naturismo” reflete esse pensamento.

Tela "Visões de Baco - Fernanda Montenegro como a Deusa Ártemis"

Nova Voz On Line – Você representou figuras famosas ao natural, ou seja, nuas. Isso tem como objetivo despi-las do poder ou prestígio, e mostrar que, no fundo, somos todos iguais?
Henrique Resende - A idéia inicial é usar o conceito filosófico do naturismo – que é tirar as roupas, para perceber e se integrar à natureza – para tocar numa questão crucial dos dias de hoje: ou mudamos a nossa forma de nos relacionar com o planeta, ou chegará o momento da inviabilidade de nossas vidas. Nos quadros, tirei as roupas do Lula, da Rainha Elizabeth, do Papa Bento XVI, da Princesa Isabel, da Brigitte Bardot, do Rei Roberto Carlos, da Xuxa, do Michael Jackson, da Michelle Obama e, não poderia faltar, do São Francisco de Assis (o santo protetor dos animais e da natureza). Todos retratados com extrema dignidade e respeito, embora nus. Nus e integrados à natureza, um apelo e um convite para mudarmos agora o nosso olhar em relação ao planeta em que vivemos.

Nova Voz On Line– Nos fale um pouco do Caminho Mágico, na Chácara da Pedra? Como surgiu essa ideia e qual o objetivo? A interatividade das pessoas que conhecem o Caminho Mágico é importante? Ou seja, há reações que podem terminar gerando novas obras pelo caminho?
Henrique Resende - O Caminho Mágico também nasceu lá atrás, devido aos sonhos que tive com São Francisco. Quando criança, a área de morro atrás da casa/ateliê, era degradada. Um pasto com pouquíssimas árvores. Era o local em que eu passava muito tempo desenhando. Foi como uma preparação, um profundo envolvimento com o ambiente. Então, naturalmente, faz uns quinze anos, dei início a recuperação da área com árvores nativas e algumas exóticas.

O Caminho Mágico na Chácara Ateliê de Henrique Resende

Nova Voz On Line - Foi um Trabalho realizado paulatinamente?
Henrique Resende – Isso. Aos poucos venho plantando mudas e realizando uma trilha, que a minha filha apelidou de Caminho Mágico. Entre as árvores, venho criando trabalhos de pintura, escultura e land art. Esporadicamente levo os alunos do ateliê para uma aula, no Caminho Mágico, e também alunos do UICMA Chapeuzinho Vermelho e alunos do Colégio Estadual Frei Tomás – instituições de ensino, com parceria com o ateliê – visitam a área e até já participaram da criação de obras de arte. O Caminho é longo e está em processo de desenvolvimento, como a vida.

Nova Voz On Line - Existe algum momento que pensa em abrir ao público em geral, mesmo que seja um projeto bem para o futuro?
Henrique Resende - Recentemente percebi que o local não deve ser mantido fechado. Deve ser aberto para provocar nas pessoas uma reflexão sobre a vida. Uma reflexão potencializada pela arte, natureza e espiritualidade, que o Caminho Mágico oferece. Ainda há muito que fazer, e o que criar. Quem sabe em 2016, seja aberto ao público em geral?

Nova Voz On Line – Outro momento importante da sua carreira, pelo menos para os observadores, foi o Festival Vale do Café, em lugares como Vassouras, Conservatória, Valença, Paty do Alferes, Resende e Barra do Piraí. Fale-nos um pouco sobre esse momento? Você esperava ter uma repercussão tão grande, como foi?
Henrique Resende - Fui convidado a criar esculturas para duas edições do Festival Vale do Café. Em 2012 realizei as esculturas dos abolicionistas Machado de Assis, Rui Barbosa, Castro Alves, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, todas em tamanho natural, realistas, realizadas apenas com papel, cola e tinta.

Henrique Resende é um dos mais importantes artistas plásticos do Mundo

Nova Voz On Line - Não deve ter sido fácil.
Henrique Resende - Tive que fazer uma extensa pesquisa das vestimentas, da personalidade e dos trejeitos de cada um. Já este ano de 2014, realizei a escultura de Dorival Caymmi, o grande homenageado dessa edição, devido ao seu centenário de nascimento. O Caymmi também foi feito em tamanho natural e todo em papel. A repercussão realmente foi bem interessante, pelo fato de, através da mídia, a arte ter atingido um grande número de pessoas. Jornais como O Globo e O Dia, fizeram belas matérias, além da Rede Globo através da TV Rio Sul.

Nova Voz On Line – Não há como deixar de falar sobre o Projeto Arte Para Crianças. Conte-nos um pouco sobre ele. Como é um dia típico de aula? Eles aprendem também sobre história da arte?
Henrique Resende - Trabalhar com crianças é algo realmente fascinante e nos gratifica muito. Minhas primeiras experiências foram em 2006, quando criei o Projeto Sombra Verde – Arte e Ecologia. De forma voluntária, ensinava técnicas de desenho, pintura e escultura para aproximadamente 15 crianças, sempre com a temática ecológica. Somando a isso, produzíamos e cuidávamos de mudinhas de árvores. Pouco mais tarde, envolvemos a Prefeitura, e levamos as mesmas mudas produzidas pelas crianças, para algumas calçadas e praças de Itaocara. Um dos primeiros lugares plantados foi a calçada em frente ao cemitério. Hoje podemos ver as árvores (patas de vaca), já grandes. Depois conseguimos envolver os moradores da Rua Coronel Pita de Castro e Praça Toledo Piza, para que apoiassem e autorizassem o reflorestamento do Morro Bela Vista, (seus terrenos de fundos).

Nova Voz On Line – Houve também plantio de árvores?
Henrique Resende - Quase duas mil árvores foram plantadas ali, bem no coração da cidade. Essas foram as primeiras experiências com as crianças. Em 2013 lancei em meu ateliê a “Arte para Crianças”, com duas turmas (manhã e tarde). Todas as quartas-feiras. As aulas práticas são sempre precedidas de aulas teóricas, que acontecem no cineminha (mini auditório para projeções), dentro do espaço de arte. Ali as crianças aprendem um pouco de história da Arte e conhecem os grandes nomes e estilos. E o mais legal que venho notando, é que, segundo os comentários dos pais, as crianças melhoram seus desempenhos no colégio. Num mundo cada vez mais tecnológico, o contato mais profundo com a arte e com o lúdico, se torna um momento de respiro, cada vez mais importante. Isto é fato.

Nova Voz – Natal surgindo e 2015 já no horizonte. Fale-nos um pouco sobre sua perspectiva para este final de ano e os projetos para o Ano Novo?
Henrique Resende - Ano chegando ao fim e as energias também (risos). O Natal é o momento de nos reunirmos com a família, hora de motivarmos e de sermos motivados pelas pessoas que amamos. Hora de agradecer ao Menino Jesus, pelas conquistas, e, principalmente, pedir saúde e energia para o próximo ano. Gosto muito das simbologias do Natal, principalmente a árvore. A árvore dentro de casa, a árvore que reúne as pessoas em seu entorno, a árvore enfeitada que realiza os desejos e os sonhos. Enfim, voltando a sua pergunta, minha perspectiva para 2015 é que o sonho de viver a arte e viver de arte continue se realizando, e que a Grande Arte atinja e modifique, positivamente, cada vez mais o mundo.

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