A Professora Rosivar Marra Leite Sanches, do
Colégio Estadual Frei Thomas, acaba de produzir em sua dissertação de Mestrado,
um trabalho muitíssimo interessante, que denominou de SALA DE AULA INVERTIDA, UMA
PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO MÉDIO. Abaixo ela nos explica a metodologia
que utilizou, fala das conclusões e dos paralelos com o que existe de mais
contemporâneo na educação pelo Mundo.
A Professora Rosivar Marra Leite Sanches |
Nova
Voz On Line
– Inicialmente, o que ensina a Matemática Financeira Básica?
Professora
Rosivar
- Porcentagem, Juros Simples e Compostos, de acordo com o Currículo Mínimo de
Matemática, documento que traz as ementas de todas as disciplinas da rede
estadual. Na minha proposta utilizo como instrumento para introduzir a
Matemática Financeira, a Educação Financeira, porque esta permite que o aluno
tenha contato com conceitos importantes sobre finanças, o que pode contribuir
para que, no futuro, este tenha uma vida financeira equilibrada.
Nova
Voz On Line
– Pode nos falar sobre sua dissertação METODOLOGIA SALA DE AULA INVERTIDA NAS
AULAS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA BÁSICA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO
MÉDIO?
Professora
Rosivar
- Primeiramente qual foi a motivação para adotar a
metodologia Sala de Aula Invertida (SAI)
para a minha pesquisa? Essa escolha decorreu de anos de docência na disciplina
Matemática, muitas vezes observando que os conteúdos são trabalhados sem levar
em consideração sua conexão com a realidade, daí a necessidade pessoal da
inserir novas estratégias de ensino na sala de aula e também a partir dos
estudos sobre metodologias ativas e mediadas pelas tecnologias digitais, nos
quais ficaram evidentes as potencialidades dessa metodologia. A SAI é
uma metodologia que inverte a lógica do ensino tradicional,
propondo a alternância entre atividades presenciais e a distância. O que me
atraiu foi exatamente o fato de que a SAI favorece
o comprometimento dos alunos sem modificar radicalmente a
estrutura escolar. Numa escola pública, o melhor é você utilizar o menos
possível suas instalações e não introduzir mudanças fora do âmbito da sua
própria sala de aula e a SAI me permite isso
Nova Voz On Line – Como isso foi feito?
Professora Rosivar - Elaborei uma proposta pedagógica com a
metodologia SAI, baseada nos princípios da Teoria da Aprendizagem Significativa
(TAS). Para a sua implementação foram selecionados e elaborados diversos
recursos, sendo os recursos e atividades da parte on-line alocados no ambiente virtual de
aprendizagem Schoology. Tal ambiente foi escolhido porque tem uma interface
parecida com uma rede social, o que na minha opinião, facilitou a identificação
do aluno com o recurso. Os recursos e instrumentos de coleta de dados
utilizados passaram por um teste exploratório realizado com oito professores de
Matemática para validação do material. Os recursos e atividades elaborados e/ou
selecionados para a parte on-line foram:
vídeo introdutório; oito videoaulas; vídeo
do historiador “Leandro Karnal” e três listas com problemas contextualizados.
A Sala de Aula Invertida é uma Inovação em Metodologia de Educação |
Professora
Rosivar
- Os recursos e atividades utilizados na
parte presencial foram: aplicativo Matemática
Financeira, utilizado para verificar os cálculos de Juros Simples e
Compostos; quatro situações-problema;
uma proposta de um seminário com temas de Educação Financeira (“A Poupança
e o Planejamento de uma Compra Futura”; “Como Funciona um Consórcio de
Veículos: Ênfase nas Taxas de Administração Cobradas”; “O Uso Correto do Cartão
de Crédito”; “Preciso Fazer uma Previdência Privada para Garantir minha
Aposentadoria?”; “Na Hora de Comprar: Compro à Vista, Uso o Cartão ou Financio
no Boleto?”) e uma Oficina de Controle
de Gastos com o objetivo de estimular a gestão eficiente das finanças
pessoais, adotando-se o aplicativo de controle de gastos Wisecash.
Nova
Voz On Line
– Tudo organizado por você?
Professora
Rosivar
- Exceto o vídeo do historiador Leandro
Karnal e os aplicativos, todos os outros recursos e atividades foram elaborados
por mim, por não encontrar na internet materiais adequados a minha
proposta. De modo geral, a estratégia utilizada foi a seguinte: PRIMEIRO
solicitava que os alunos anotassem as dúvidas durante o estudo do material
antes do momento presencial; DEPOIS iniciava a aula presencial perguntando
sobre as dúvidas surgidas em relação ao material on-line; ENTÃO corrigia
os exercícios de forma colaborativa, exatamente para que todas as dúvidas
fossem sanadas; APLICAVA sempre uma situação-problema com nível maior de
dificuldade e ENTÃO encaminhava a tarefa on-line para a aula
seguinte.
Nova Voz On Line –
Como foram os resultados?
Professora
Rosivar
- Os
resultados sinalizaram que a metodologia SAI foi bem aceita e trouxe
contribuições significativas para estudo dos conteúdos de Matemática Financeira
e dos temas de Educação Financeira:
I) houve
melhoria no desempenho dos alunos com a implementação da SAI;
II)
Contatou-se indícios de ocorrência da aprendizagem significativa mesmo com os
erros ainda cometidos, sendo o panorama após a recuperação melhor do que o
anterior;
III) a
adoção de estratégias adequadas, puderam minimizar as dificuldades encontradas
e,
IV) as
aulas de Matemática tornaram-se mais dinâmicas com a adoção da SAI.
Nova
Voz On Line – Que interessante!
Professora
Rosivar - Assim, pude concluir que a proposta
desenvolvida com a metodologia SAI, alicerçada na TAS, pode ser implementada no
Ensino Médio, nas aulas de Matemática Financeira Básica, porque os resultados
mostraram indícios da sua contribuição para a aprendizagem significativa dos
conteúdos e conceitos. Também foi possível notar que o gosto pela Matemática
pode ser desenvolvido com a adoção de estratégias diferenciadas de ensino, um aluno
comentou que não gostava muito da disciplina, mas que passou a gostar
por causa do “jeito” como eu ensino.
Nova
Voz On Line – Teve algum momento que chamou mais sua atenção?
Professora Rosivar - O mais legal pra mim foi quando os alunos solicitaram a
continuação da metodologia SAI nas aulas com outros conteúdos nos bimestres
seguintes. Isso é gratificante! Alunos pedindo para realizar tarefas em casa,
isso num colégio público, simplesmente me senti realizada como professora.
Nova
Voz On Line
– Tudo se tornou um ótimo instrumento do seu Mestrado, não é mesmo?
Professora
Rosivar - O produto educacional desenvolvido na dissertação
foi a proposta pedagógica, disponibilizada para professores e licenciandos em
Matemática, por meio de um Caderno de Orientações Pedagógicas. Meu produto traz a fundamentação teórica por
meio de vídeos explicativos, mostra a elaboração e seleção dos materiais
utilizados, o AVA escolhido, as estratégias de ensino adotadas e aborda como
ocorreu a avaliação da aprendizagem significativa. Descreve toda a
implementação da proposta pedagógica, apresentando as atividades seguindo o
mesmo percurso utilizado durante as aulas. Assim, as videoaulas assistidas
pelos alunos vão sendo disponibilizadas, na medida em que surgem na minha narrativa.
Também traz os problemas detectados e as estratégias utilizadas para
minimizá-los, além de algumas sugestões de softwares para
desenvolvimento ou identificação de recursos didáticos.
O Produto do Trabalho de Dissertação da Professora Rosivar |
Nova
Voz On Line
– De que forma o ensino da Matemática é dinamizado, a partir da metodologia que
apresentou?
Professora
Rosivar
- Como o conteúdo básico era visto fora
da escola, o tempo na sala de aula foi utilizado para atividades diferenciadas
tais como: mesa redonda para discussão dos temas de Educação Financeira;
estímulo à aprendizagem colaborativa com correção de exercícios em grupo com
auxílio de aplicativo e aplicação de situações-problema com níveis crescentes
de dificuldade, que eram resolvidas também em grupo e apresentadas para a
turma, tendo o cuidado de que em cada grupo estivesse um aluno de melhor
desempenho em Matemática; realização de Seminário e Oficina de Controle de
Gastos etc.
Nova Voz On Line – Você
acompanhava de perto?
Professora Rosivar - Isso tudo
sob a minha mediação. O Seminário, por exemplo, é uma forma de
desterritorialização do conhecimento, na medida em que deixo a organização do
material da aula para os alunos. O aprendiz tem total liberdade para apresentar
suas ideias sobre determinado assunto. Quando, após a apresentação das equipes,
fiz as ponderações necessárias, organizando essas informações, apontando os
acertos e corrigindo as inadequações, eu pude reterritorializar o conhecimento.
Nova
Voz On Line
– Lhe parece que existe uma resistência à inovação por parte de um sistema que
criou um método, que antigamente era apelidado de “cuspe e giz”, com o
professor falando e o aluno escutando, que torna difícil a implantação de uma
nova dinâmica de ensino?
Professora
Rosivar - Depois de 30
anos efetivamente em sala de aula, posso dizer que sim, com certeza. Mudar
paradigmas é muito difícil, por isso escolhi a SAI. Porque como expliquei
anteriormente, só dependo de mim mesma para sua implementação. A dificuldade
vai desde os gestores no nível macro, que não têm tempo ou vontade de
conhecerem as novas metodologias que alguns professores têm implementado nas
suas salas de aula, passando pela resistência dos próprios pares e de alunos e
familiares.
Palestra de apresentação da Dissertação de Mestrado no Colégio Estadual Frei Thomas, com a presença de alunos, professores e do jornalista Ronald Thompson, da Nova Voz On Line |
Nova
Voz On Line
– Existe uma fórmula para mudar o velho método “cuspe e giz” e implantar um
ensino contemporâneo, utilizando as ferramentas tecnológicas disponíveis, como
as mídias sociais e etc?
Professora
Rosivar
- Sinceramente não tenho resposta para isso. Acredito que por muito tempo será
trabalho de algumas formiguinhas que, como eu, sentem-se agoniadas por verem
que os recursos tecnológicos poderiam otimizar os objetivos de ensino e não
estão sendo utilizados para tal fim. Numa situação ideal, os gestores atentos
ao que acontece, poderiam aproveitar essas pesquisas e utilizar esses
educadores como multiplicadores. Muitas vezes, o professor quer utilizar
metodologias mediadas pelas tecnologias digitais, mas não o faz, exatamente por
não saber como, nós não nascemos com essa tecnologia toda, somos imigrantes
digitais, como dizem os pesquisadores da área.
Nova
Voz On Line
– Como assim?
Professora
Rosivar
- Um exemplo disso foi o que aconteceu no minicurso do teste exploratório,
muitos professores solicitaram que fossem ministrados outros cursos voltados para o uso da tecnologia na educação. Digo com propriedade, boa parte dos professores é interessada
e comprometida, o que falta é ter conhecimento de que os resultados são
promissores. Quando os professores se deparam com os resultados positivos, o
convencimento é quase imediato, aí é apenas qualificar, através de cursos ministrados
por quem é professor igual a eles e realmente implementou o que está ensinando,
como o que ministrei. Em pouco tempo, as mudanças seriam visíveis.
Nova
Voz On Line
– O desafio dessa inovação já estava presente no momento que escolheu o tema da
sua dissertação?
Professora
Rosivar
- Eu sabia que seria um grande desafio, por isso escolhi a SAI e fui um tanto
desacreditada, mas os resultados da pesquisa são incontestáveis, porque ao usar
o método científico, ficou comprovado que houve indícios de aprendizagem
significativa dos conceitos e conteúdos trabalhados.
Nova
Voz On Line
– A Deputada Tábata Amaral contou que quando iniciou seus estudos em Harvard,
estranhou muito o método. Poucas aulas (cuspe e giz) e muito tempo na
biblioteca, estudando sozinha. Que o encontro com os professores era mais para
tirar dúvidas. Que a tradição do professor explicar a matéria não existia por
lá. Tem semelhanças com sua proposta de inverter o papel da sala de aula
invertida?
Professora
Rosivar
- Muitas semelhanças, inclusive uma das precursoras na adoção da SAI foi
Harvard. Na SAI é exatamente isso que acontece e uma das principais
características dessa metodologia é a autonomia do aluno, o que se configura um
grande desafio, porque os alunos não foram acostumados nesse sentido.
Basicamente é assim que funciona: o professor antes da aula prepara e
compartilha o material, que é acessado pelos alunos; na aula, o professor atua
como mediador, esclarecendo as dúvidas enquanto os alunos realizam as atividades,
de forma individual e colaborativa; depois da aula, enquanto os alunos revisam
o conteúdo, o professor avalia e decide se insere o novo assunto. Durante este
processo, habilidades cognitivas e socioemocionais vão sendo desenvolvidas.
Nova
Voz On Line
- Acredita que sua palestra ministrada no Frei Tomas foi bem recebida por
alunos e professores?
Professora Rosivar - É uma pergunta difícil
de ser respondida. Bom, você estava lá, todos foram convidados, meus alunos do
Curso Normal das três turmas estavam presentes. Prestaram atenção e até me
parabenizaram através das redes sociais. A orientadora educacional, Simone
Granja e, a bibliotecária, Paula Navega, ficaram durante toda a apresentação.
Outros colegas estiverem lá, inclusive um dos diretores, o Carlos Eduardo
Sanches. Acredito que provavelmente tiveram algum compromisso e não puderam
ficar e/ou estar presente.
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