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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A Itaocarense, Doutoranda e Biomédica, Mariana Ribeiro, discorre sobre os cortes orçamentários na pesquisa científica no BRASIL

Mariana Ribeiro é uma jovem itaocarense que por vezes encontramos pelas ruas da cidade. Como ela é muito bela, impossível passar despercebida. Só não imaginamos que além de bela, ela é cientista, Com Mestrado em Ciências e Biotecnologia. Agora está cursando o Doutorado na UFF, com Laboratório de Imunologia Clínica na Fiocruz. Seu objeto de estudo visa resgatar a forma oral de administração da BCG Moreau. Podemos nos sentir extremamente orgulhosos de ser itaocarense. Terra de GIGANTES, como temos publicado. E junto deles, está a jovem Mari Ribeiro.
Jovem e cientista, a Itaocarense Mariana Ribeiro
Nova Voz On Line – Como a comunidade científica brasileira, que está envolvida em pesquisa, em desenvolvimento de novos conhecimentos, recebeu o corte de 5.613 bolsas de Mestrado e Doutorado concedido pelo CAPES?
Mariana Ribeiro - Foi um momento de grande preocupação e medo. Já estávamos acompanhando as notícias, mas na terça-feira (03/set) quando de fato tudo se concretizou foi um susto. Eu chorei ao ler o e-mail que o CNPq enviou para os alunos bolsistas dos programas de financiamento. Tenho amigos e alunos que estão estudando, se dedicando, dando o melhor para as próximas seleções, e é triste notar que possivelmente não terão as mesmas oportunidades com esses cortes.

Nova Voz On Line – O CNPq, principal agência de fomento a pesquisa científica do Brasil, igualmente vai receber cortes significativos, podendo atingir drasticamente seus milhares de bolsistas. Uma carta pública assinada por pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino (Andifes), Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência e Tecnologia (Consecti), Fórum Nacional de Secretários Municipais da Área de Ciência e Tecnologia, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), apontam danos irreparáveis, que legarão ao Brasil um significativo atraso científico. Acredita que uma manifestação deste peso, poderá ter alguma consequência positiva, revertendo a atual política do governo de contingenciar na área da Educação?
Mariana Ribeiro - Infelizmente na situação em que o pais está, com o atual governo no poder, não sabemos no que acreditar. Temos sim, e sempre teremos, esperanças da atual situação melhorar. Todos que sabem o quanto esses cortes podem atrapalhar o futuro do país. Quem trabalha com ciência, com conhecimento, está unindo forças. Temos conhecimento dos dias difíceis que o Brasil se encontra, e que de fato alguns cortes deveriam ser realizados, para que não haja paralisações. Mas acreditamos que cortes na educação só vão atrasar e prejudicar nosso futuro, nosso desenvolvimento.

Nova Voz On Line – O Mundo do Século XXI é o Mundo da tecnologia, do desenvolvimento, do conhecimento. Quando um governo toma uma decisão política de contingenciar o orçamento justamente na área de ciência e tecnologia, qual ou quais serão as consequências para esse país?
Mariana Ribeiro - As consequências são inúmeras. Toda tecnologia existente foi fruto de muita pesquisa e trabalho. Sem incentivo e financiamento, não haverá pesquisas e inovações. Vamos pagar um preço muito caro. Não há como ter noção real das consequências.
Na imagem Mariana Ribeiro, com o Dr. Paulo Zuquim Antas, e seus colegas de trabalho: os Mestres Carlos Germano e Lawrence; e os alunos de Iniciação Científica (estagiários): Andreon, Matheus, João Pedro, Maria Alice, Leandro, Staelen, Thatiana e Elizabeth

Nova Voz On Line – Acredita que pode haver nova evasão de pesquisadores, Mestrandos, Doutorandos e Pós Doutorandos, para outros países, devido a situação da pesquisa, pela falta de perspectiva de um futuro melhor?
Mariana Ribeiro - Sim, sem dúvidas! Isso já vem acontecendo faz tempo. Grandes pesquisadores estão acelerando seus processos de aposentadoria ou buscando novos caminhos em universidades, em outros países. Vemos isso com frequência. Estamos perdendo pessoas essenciais e de grande peso, que estão desempenhando seus projetos em outros países. Isso é uma perda irreparável.

Nova Voz On Line – Nos falta valorizar os pesquisadores do país?
Mariana Ribeiro - Temos um péssimo costume de achar que a pesquisa internacional é melhor do que a Brasileira. Isso está errado! Temos pesquisadores tão bons e até melhores, do que os que existem ‘la de fora’. Nosso grande problema é a desvalorização, a falta de reconhecimento e o investimento que o nosso próprio país está se recusando a fazer. De novo: isso compromete o futuro do Brasil.

Nova Voz On Line - Você trabalha na FIOCRUZ. Como a entidade pode ser afetada? E quais as consequências mais significativas?
Mariana Ribeiro - A FIOCRUZ é uma instituição reconhecida internacionalmente pela  pesquisa de ponta. É daqui que sai grande parte das vacinas no Brasil e de muitos outros países. A instituição tem atuação reconhecida no mundo. Com cursos de pós-graduação, com os melhores conceitos do MEC. Um corte nessa dimensão pode afetar diretamente as pesquisas, visto que para termos resultados precisamos de alunos.
Mariana com as colegas cientistas do Laboratório da UFF, Anna e Eloah
Nova Voz On Line – Pode nos dar um exemplo prático?
Mariana Ribeiro - A fundação é dividida por vários institutos, faço parte do IOC, que com esse corte deixará de implementar cinco bolsas de mestrado, quinze de doutorados e duas bolsas de pós-doutorado (Mensagem repassada por e-mail na terça-feira após os cortes). São vinte e duas pessoas perdendo oportunidades. Vinte e dois projetos que não vão iniciar. Vinte e duas novas possíveis melhorias que não vão acontecer. Vinte e dois possíveis tratamentos, vinte e dois possíveis fármacos e vinte e duas possíveis novas vacinas comprometidas. Isso em umas das Instituições dentro da Fundação. Lembro que os projetos são interligados. Não fazemos ciências sozinho. Dessa forma serão muito mais do que vinte e dois projetos atingidos. Uma perda irreparável para o futuro.

A Pesquisa com a Vacina BCG Moreau

Nova Voz On Line - O seu trabalho de pesquisa trata de novos antígenos da BCG Moreau. Pode nos falar sobre ele?
Mariana Ribeiro - Meu projeto consiste em resgatar a forma oral de administração da BCG Moreau Rio de Janeiro. A vacina BCG é administrada em crianças recém-nascidas, ainda no hospital (em alguns casos), e protege as crianças de Tuberculose e Meningite. A BCG foi administrada pela primeira vez de forma oral e depois foi passada para forma parenteral. Estudos demonstram que a administração de forma oral não altera o tempo de imunização da vacina. Já que a vacina tem um tempo médio de imunização e perdemos essa imunidade na fase adulta. A revacinação foi comprovada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que não altera o tempo de imunização, motivo pelo qual foi retirada a revacinação dos cartões de vacinação. Com isso além de resgatar uma nova forma de imunização buscamos melhorar esse tempo de imunização, já que vamos hiperexpressar antígenos que podem estar relacionados com o tempo de proteção para indivíduo.

Nova Voz On Line – Acha que a pesquisa que está fazendo também vai ser afetada?
Mariana Ribeiro - Esses cortes não me afetaram diretamente, visto que já era aluna bolsista do CNPq, e as bolsas que estão ativas não foram canceladas. Porém fomos afetados indiretamente. Como disse, ciência não se faz sozinho, e temos 2 alunos de graduação com projetos paralelos que estão prestes a fazer a seleção para mestrado da FIOCRUZ. Sem a oferta de novas bolsas, fica difícil de dar continuidade em projetos, visto que não teremos alunos para fazer os experimentos. Estamos com receio de um novo corte e um possível cancelamento de bolsas ativas, mas mesmo indignados com essa decisão estamos esperançosos de que essa situação possa melhorar e que unindo forças e mostrando o quanto a pesquisa é essencial para o nosso País, a situação possa se reverter.

Nova Voz On Line - Se sua pesquisa for afetada, você e seus colegas vislumbram a possibilidade de ir para outro país, para concluir o trabalho que estão fazendo?
Mariana Ribeiro - Eu não tenho pretensão de sair do meu lugar. Quero sim, futuramente, fazer cursos e aumentar meus conhecimentos. Mas amo meu país. E apesar da situação em que ele se encontra, quero fazer pesquisa aqui. Mostrar que não precisamos ir para fora, para ter resultados maravilhosos e promissores. Contudo, falando sobre o meio acadêmico, infelizmente, o assunto é o mais comentado. A questão de muitos não é querer. É ver a melhor opção no momento e onde vamos ter valorização pelo nosso trabalho. Melhorando ainda mais o desempenho no final do projeto.

Um Desabafo e um Apelo pela Educação, Ciência e Tecnologia

Mariana com a mãe Viviane e os avós Edilson e Jandira
Nova Voz On Line – Se pudesse fazer um apelo ao bom senso, o que diria a quem tem o poder de decidir políticas públicas na área da Educação, Ciência e Tecnologia no Brasil?
Mariana Ribeiro - Sou filha de pais sem ensino superior, estudante de escola pública de Itaocara, interior do Rio de Janeiro. Cidade pequena, que muita gente nunca ouviu falar e nem sabe pronunciar bem o nome. Com sonho de ser cientista, sai, faz quase 9 anos, da minha cidade. Da casa da minha família, para sonhar com a pesquisa. Vim para cidade grande e criei as minhas próprias oportunidades, sozinha! Hoje Biomédica, Mestre e futura Doutora em Ciências e Biotecnologias. Em busca de novos caminhos e de novas respostas para perguntas que nos norteiam. Ao longo desse caminho de oportunidades criadas, contei com a ajuda da minha família e do CNPq, que financiou meus estudos até aqui. Com todos os investimentos dados até o momento, a Universidade Federal Fluminense, onde fiz meu Projeto de Mestrado e agora de Doutorado (colaborando com a Fiocruz), sempre passou por inúmeros sacrifícios. Gostamos de falar que 'estamos fazendo milagre'. Fazemos pesquisa com resultados promissores e muito relevantes para ciência a nível nacional. Mas com a diminuição de investimentos, tivemos que colaborar com a Fiocruz para conseguir fazer o meu doutorado.

O que quero dizer com a minha história?

Existem milhares de Marianas com esses mesmo sonhos, saindo de casa, deixando suas famílias, para dedicar seu tempo nas pesquisas do nosso País. Milhares de alunos que estão sem saber o que fazer com seus projetos, porque não tem dinheiro e investimento. Os senhores, além de estarem atrasando o Brasil, nos colocando sem perspectiva de um futuro inovador, de desenvolvimento tecnológico, estão TIRANDO A OPORTUNIDADE de muita gente.

Só a educação e a ciência podem mudar nosso futuro. Sabemos que estamos em um momento ruim para economia. Mas o corte de apenas um auxílio poderia suprir todos os cortes no CNPq.

Não sabemos o quanto isso vai nos custar no futuro, mas quero que saibam, que quem vai pagar essa conta é o Brasil, que vai estacionar no desenvolvimento. Vai perder pesquisadores para lugares que de fato entendam o nosso valor. Lugares que sabem valorizar um pensamento e um questionamento.

Não temos como pensar em um país desenvolvido tecnologicamente, sem pesquisa e ciência (isso não existe nem em filme de ficção científica). Não somos vistos como profissionais; não temos direitos trabalhistas; não podemos trabalhar em outros lugares e ter esses direitos, por que somos EXCLUSIVOS do CNPq. Mesmo assim, não temos respeito, não temos valorização.

Trabalhamos mais que as horas comprovadas e estamos fazendo milagres com o pouco que temos. E ainda estão tirando o que temos. Estamos sobrevivendo a base de união e colaboração e não sabemos até quando. 

NÃO HÁ FUTURO SEM CIÊNCIA!!!!!

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