Mariana Ribeiro é uma jovem itaocarense que por vezes encontramos pelas ruas da cidade. Como ela é muito bela,
impossível passar despercebida. Só não imaginamos que além de bela, ela é cientista,
Com Mestrado em Ciências e Biotecnologia. Agora está cursando o Doutorado na UFF,
com Laboratório de Imunologia Clínica na Fiocruz. Seu objeto de estudo visa resgatar
a forma oral de administração da BCG Moreau. Podemos nos sentir extremamente
orgulhosos de ser itaocarense. Terra de GIGANTES, como temos publicado. E junto
deles, está a jovem Mari Ribeiro.
Jovem e cientista, a Itaocarense Mariana Ribeiro |
Nova
Voz On Line
– Como a comunidade científica brasileira, que está envolvida em pesquisa, em
desenvolvimento de novos conhecimentos, recebeu o corte de 5.613 bolsas de
Mestrado e Doutorado concedido pelo CAPES?
Mariana
Ribeiro
- Foi um momento de grande preocupação e medo. Já estávamos acompanhando as
notícias, mas na terça-feira (03/set) quando de fato tudo se concretizou foi um
susto. Eu chorei ao ler o e-mail que o CNPq enviou para os alunos bolsistas dos
programas de financiamento. Tenho amigos e alunos que estão estudando, se
dedicando, dando o melhor para as próximas seleções, e é triste notar que
possivelmente não terão as mesmas oportunidades com esses cortes.
Nova
Voz On Line
– O CNPq, principal agência de fomento a pesquisa científica do Brasil,
igualmente vai receber cortes significativos, podendo atingir drasticamente
seus milhares de bolsistas. Uma carta pública assinada por pela Academia
Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional dos Dirigentes de
Instituições Federais de Ensino (Andifes), Conselho Nacional das Fundações de
Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional de Secretários Estaduais para
Assuntos de Ciência e Tecnologia (Consecti), Fórum Nacional de Secretários Municipais
da Área de Ciência e Tecnologia, Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), apontam danos irreparáveis, que legarão ao Brasil um
significativo atraso científico. Acredita que uma manifestação deste peso,
poderá ter alguma consequência positiva, revertendo a atual política do governo
de contingenciar na área da Educação?
Mariana
Ribeiro
- Infelizmente na situação em que o pais está, com o atual governo no poder,
não sabemos no que acreditar. Temos sim, e sempre teremos, esperanças da atual
situação melhorar. Todos que sabem o quanto esses cortes podem
atrapalhar o futuro do país. Quem trabalha com ciência, com conhecimento, está unindo forças. Temos conhecimento dos dias difíceis
que o Brasil se encontra, e que de fato alguns cortes deveriam ser realizados,
para que não haja paralisações. Mas acreditamos que cortes na educação só vão
atrasar e prejudicar nosso futuro, nosso desenvolvimento.
Nova
Voz On Line
– O Mundo do Século XXI é o Mundo da tecnologia, do desenvolvimento, do
conhecimento. Quando um governo toma uma decisão política de contingenciar o
orçamento justamente na área de ciência e tecnologia, qual ou quais serão as
consequências para esse país?
Mariana
Ribeiro
- As consequências são inúmeras. Toda tecnologia existente foi fruto de muita
pesquisa e trabalho. Sem incentivo e financiamento, não haverá pesquisas e
inovações. Vamos pagar um preço muito caro. Não há como ter noção real das
consequências.
Na imagem Mariana Ribeiro, com o Dr. Paulo Zuquim Antas, e seus
colegas de trabalho: os Mestres Carlos Germano e Lawrence; e os alunos de Iniciação
Científica (estagiários): Andreon, Matheus, João Pedro, Maria Alice, Leandro,
Staelen, Thatiana e Elizabeth
Nova
Voz On Line
– Acredita que pode haver nova evasão de pesquisadores, Mestrandos, Doutorandos
e Pós Doutorandos, para outros países, devido a situação da pesquisa, pela falta de perspectiva de um futuro melhor?
Mariana
Ribeiro
- Sim, sem dúvidas! Isso já vem acontecendo faz tempo. Grandes pesquisadores estão
acelerando seus processos de aposentadoria ou buscando novos caminhos em
universidades, em outros países. Vemos isso com frequência. Estamos
perdendo pessoas essenciais e de grande peso, que estão desempenhando seus
projetos em outros países. Isso é uma perda irreparável.
Nova
Voz On Line
– Nos falta valorizar os pesquisadores do país?
Mariana
Ribeiro
- Temos um péssimo costume de achar que a pesquisa internacional é melhor do que a
Brasileira. Isso está errado! Temos pesquisadores tão bons e até melhores, do que os que existem ‘la de fora’. Nosso grande problema é a desvalorização, a falta de reconhecimento
e o investimento que o nosso próprio país está se recusando a fazer. De novo: isso compromete o futuro do Brasil.
Nova
Voz On Line
- Você trabalha na FIOCRUZ. Como a entidade pode ser afetada? E quais as
consequências mais significativas?
Mariana
Ribeiro
- A FIOCRUZ é uma instituição reconhecida internacionalmente pela pesquisa de ponta. É daqui que sai grande parte das vacinas no Brasil e de muitos outros
países. A instituição tem atuação reconhecida no mundo. Com cursos de
pós-graduação, com os melhores conceitos do MEC. Um corte nessa dimensão pode
afetar diretamente as pesquisas, visto que para termos
resultados precisamos de alunos.
Mariana com as colegas cientistas do Laboratório da UFF, Anna e Eloah |
Nova
Voz On Line
– Pode nos dar um exemplo prático?
Mariana
Ribeiro
- A fundação é dividida por vários institutos, faço parte do IOC, que com esse
corte deixará de implementar cinco bolsas de mestrado, quinze de doutorados e duas bolsas de
pós-doutorado (Mensagem repassada por e-mail na terça-feira após os cortes). São
vinte e duas pessoas perdendo oportunidades. Vinte e dois projetos que não vão iniciar. Vinte e duas novas
possíveis melhorias que não vão acontecer. Vinte e dois possíveis tratamentos, vinte e dois possíveis fármacos e vinte e duas possíveis novas vacinas comprometidas. Isso em umas das Instituições dentro da Fundação. Lembro que os projetos são interligados. Não fazemos ciências sozinho. Dessa forma serão
muito mais do que vinte e dois projetos atingidos. Uma perda irreparável para o futuro.
A Pesquisa com a Vacina BCG Moreau
Nova
Voz On Line
- O seu trabalho de pesquisa trata de novos antígenos da BCG Moreau. Pode nos
falar sobre ele?
Mariana
Ribeiro
- Meu projeto consiste em resgatar a forma oral de administração da BCG Moreau
Rio de Janeiro. A vacina BCG é administrada em crianças recém-nascidas, ainda
no hospital (em alguns casos), e protege as crianças de Tuberculose e Meningite.
A BCG foi administrada pela primeira vez de forma oral e depois foi passada
para forma parenteral. Estudos demonstram que a administração de forma oral não
altera o tempo de imunização da vacina. Já que a vacina tem um tempo médio de
imunização e perdemos essa imunidade na fase adulta. A revacinação foi
comprovada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que não altera o tempo de
imunização, motivo pelo qual foi retirada a revacinação dos cartões de
vacinação. Com isso além de resgatar uma nova forma de imunização buscamos
melhorar esse tempo de imunização, já que vamos hiperexpressar antígenos que
podem estar relacionados com o tempo de proteção para indivíduo.
Nova
Voz On Line
– Acha que a pesquisa que está fazendo também vai ser afetada?
Mariana
Ribeiro
- Esses cortes não me afetaram diretamente, visto que já era aluna bolsista do
CNPq, e as bolsas que estão ativas não foram canceladas. Porém fomos afetados
indiretamente. Como disse, ciência não se faz sozinho, e temos 2 alunos de
graduação com projetos paralelos que estão prestes a fazer a seleção para
mestrado da FIOCRUZ. Sem a oferta de novas bolsas, fica difícil de dar
continuidade em projetos, visto que não teremos alunos para fazer os
experimentos. Estamos com receio de um novo corte e um possível cancelamento de
bolsas ativas, mas mesmo indignados com essa decisão estamos esperançosos
de que essa situação possa melhorar e que unindo forças e mostrando o quanto a
pesquisa é essencial para o nosso País, a situação possa se reverter.
Nova
Voz On Line
- Se sua pesquisa for afetada, você e seus colegas vislumbram a possibilidade
de ir para outro país, para concluir o trabalho que estão fazendo?
Mariana
Ribeiro
- Eu não tenho pretensão de sair do meu lugar. Quero sim, futuramente, fazer
cursos e aumentar meus conhecimentos. Mas amo meu país. E apesar da situação em
que ele se encontra, quero fazer pesquisa aqui. Mostrar que não precisamos ir
para fora, para ter resultados maravilhosos e promissores. Contudo, falando sobre
o meio acadêmico, infelizmente, o assunto é o mais comentado. A questão de
muitos não é querer. É ver a melhor opção no momento e onde vamos ter
valorização pelo nosso trabalho. Melhorando ainda mais o desempenho no final do
projeto.
Um Desabafo e um Apelo pela Educação, Ciência e Tecnologia
Mariana com a mãe Viviane e os avós Edilson e Jandira |
Nova
Voz On Line
– Se pudesse fazer um apelo ao bom senso, o que diria a quem tem o poder de decidir
políticas públicas na área da Educação, Ciência e Tecnologia no Brasil?
Mariana
Ribeiro
- Sou filha de pais sem ensino superior, estudante de escola pública de
Itaocara, interior do Rio de Janeiro. Cidade pequena, que muita gente nunca ouviu falar e nem sabe pronunciar bem o nome. Com sonho de ser cientista, sai, faz quase 9
anos, da minha cidade. Da casa da minha família, para sonhar com a pesquisa.
Vim para cidade grande e criei as minhas próprias oportunidades, sozinha! Hoje
Biomédica, Mestre e futura Doutora em Ciências e Biotecnologias. Em busca
de novos caminhos e de novas respostas para perguntas que nos norteiam. Ao
longo desse caminho de oportunidades criadas, contei com a ajuda da minha
família e do CNPq, que financiou meus estudos até aqui. Com todos os
investimentos dados até o momento, a Universidade Federal Fluminense, onde fiz
meu Projeto de Mestrado e agora de Doutorado (colaborando com a Fiocruz),
sempre passou por inúmeros sacrifícios. Gostamos de falar que 'estamos
fazendo milagre'. Fazemos pesquisa com resultados promissores e muito
relevantes para ciência a nível nacional. Mas com a diminuição de investimentos, tivemos que colaborar com a Fiocruz para conseguir fazer o meu doutorado.
O
que quero dizer com a minha história?
Existem milhares de Marianas com esses
mesmo sonhos, saindo de casa, deixando suas famílias, para dedicar seu tempo
nas pesquisas do nosso País. Milhares de alunos que estão sem saber o que fazer
com seus projetos, porque não tem dinheiro e investimento. Os senhores, além de
estarem atrasando o Brasil, nos colocando sem perspectiva de um futuro
inovador, de desenvolvimento tecnológico, estão TIRANDO A OPORTUNIDADE de muita
gente.
Só a educação e a ciência podem mudar
nosso futuro. Sabemos que estamos em um momento ruim para economia. Mas o corte
de apenas um auxílio poderia suprir todos os cortes no CNPq.
Não sabemos o quanto isso vai nos
custar no futuro, mas quero que saibam, que quem vai pagar essa conta é o
Brasil, que vai estacionar no desenvolvimento. Vai perder pesquisadores para
lugares que de fato entendam o nosso valor. Lugares que sabem valorizar um
pensamento e um questionamento.
Não temos como pensar em um país
desenvolvido tecnologicamente, sem pesquisa e ciência (isso não existe nem em filme de ficção científica). Não somos vistos como
profissionais; não temos direitos trabalhistas; não podemos trabalhar em outros
lugares e ter esses direitos, por que somos EXCLUSIVOS do CNPq. Mesmo assim, não temos
respeito, não temos valorização.
Trabalhamos mais que as horas
comprovadas e estamos fazendo milagres com o pouco que temos. E ainda estão
tirando o que temos. Estamos sobrevivendo a base de união e colaboração e não
sabemos até quando.
NÃO HÁ FUTURO SEM CIÊNCIA!!!!!
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