Pedro Garcia é sinônimo de sucesso, de grandes shows, de música de qualidade. Mas existe muito, além disto. A história de um homem com óbvio talento e com muita coragem para continuar superando desafios. Mesmo quando a coluna doía (e doía muito) lá estava Pedro Garcia e sua sanfona (um instrumento musical pesado). A dor era grande, mas o sorriso e a alegria do público que o assistia, servia de analgésico. Infinitos aplausos para Pedro Garcia.
Pedro Garcia e seu amigo / irmão Sérgio Reis |
Nova Voz Online – Desde criança já notava que tinha dom para
música?
Pedro Garcia – Desde os nove anos, eu já gostava de mexer
com uma sanfoninha. Lembro que meu pai, Francisco Garcia de Freitas, me deu de
presente esse instrumento e eu tocava nas festinhas juninas de Colégios, nas
Folias de Reis, no Boi Pintadinho. Ótimas lembranças!
Nova Voz Online - Nesse período inicial, quais foram seus principais incentivadores? Aquelas pessoas que diziam: “canta Pedro Garcia”?
Pedro Garcia – A família incentivava sempre. Meu pai,
minha mãe. Também os professores da escola, gostavam de ver o pequeno Pedro
Garcia com a sanfoninha. E meus colegas. Eu com a sanfoninha divertia todo
mundo.
Nova Voz Online - E ai o tempo foi passando. A pergunta agora é sobre a primeira vez que se apresentou com a sanfona, na frente de um grande público. Quais são suas lembranças dessa fase?
Pedro Garcia – Rapaz, relembrar essas coisas emociona. Ual! A
primeira vez me apresentando para uma multidão foi num showmício, que naquela
época podia. Show em comícios, ou seja, showmícios. Era o ano de 1982, a
primeira campanha de uma pessoa maravilhosa, que governou Itaocara: José Romar
Lessa. Ele quem me deu a oportunidade de fazer o povo bailar, ao som do Pedro
Garcia, pela primeira vez.
Nova Voz Online – E ai tudo começou, não é mesmo?
Pedro Garcia – Vieram alguns aniversários, que eu era convidado
para me apresentar. Depois, outro momento importante, foi o ano de 1988, na
campanha de outra pessoa que tenho muita gratidão. Um dos grandes itaocarenses
da história, meio esquecido, por sinal: Alceo Cortat. Daí em diante coloquei na
cabeça que seria cantor profissional.
Registro da fotógrafa Elisabete Carvalho do Show de Pedro Garcia no Carnaval do Itaocara Campestre Clube |
Nova Voz Online – Como foi esse momento?
Pedro Garcia – Fui indo. Apresentando-me com a Sanfona nas
festas juninas em fazendas da região. Em Santa Maria Madalena, em Macuco. No
dia 23 de Abril de 1989 foi o primeiro show de Pedro Garcia & Banda. Com a
primeira formação da banda. Foi tão maravilhoso, que senti que teria condição
de seguir enfrente. O público presente vibrou. Eu senti como nunca tinha
sentido antes. Outra lembrança emocionante.
Nova Voz Online – E de repente estourou. Pedro Garcia & Banda tornou-se o show mais procurado, o mais caro e o mais disputado. Todos queriam ver o Pedro Garcia, cantando com sua sanfona.
Pedro Garcia – As coisas começaram a acontecer muito rápido. De
repente eu era um dos grandes nomes da música na região. Gravei um LP (de
vinil) em 1993. E nestes anos 90, sem arrogância, mas com orgulho pelo
reconhecimento do trabalho que fazíamos, Pedro Garcia & Banda
tornou-se a número um na preferência para se apresentar em Exposições
Agropecuárias, nos Estados do Rio de Janeiro, Espirito Santo e Minas Gerais. Uma
fase fantástica.
Nova Voz Online – Sempre que entrevisto músicos, faço questão de pedir para que falem que a música é trabalho duro, cansativo, estafante. Que quando se sobe ao palco, muita coisa já foi feita. Os ensaios, as viagens, finais de semana, datas importantes passadas longe da família e dos amigos. Pode falar também sobre isso, para que quem decida trabalhar na área, não ter a ilusão de que tudo são aplausos e diversão?
Pedro Garcia – Se não tiver vocação e for meio teimoso, para
usar uma expressão dos jovens de hoje em dia: não aguenta a pressão .
E olha que hoje é tudo mais fácil. Eu fiz carreira quando nem se sonhava com
telefone celular. Na verdade, ligar pra casa da estrada, só de orelhão, na base
da ficha telefônica, que os mais novos se quer sabem o que é.
Nova Voz Online – Dureza né?
Pedro Garcia – No início dormíamos mesmo era no ônibus, pra
economizar a despesa do Hotel. Depois os contratos passaram a prever o
pagamento do Hotel pelo contratante. Mas isto foi depois que Pedro Garcia &
Banda era a número um. Mas com toda essa dificuldade, nunca pensei em parar. O
que diria aos jovens é que tenha humildade. Não se deslumbre com os aplausos, a
fama, o sucesso. Respeite sempre o público e eles vão lhe reconhecer. Essa é a
minha história e a minha experiência de vida.
Os
problemas na Coluna e o Cantor Sérgio Reis
Nova Voz Online – Num momento da sua vida, tem uma história forte de superação. Estou falando do seu problema de saúde. Para incentivar nossos leitores, pode nos contar um pouco?
Pedro Garcia – Quem é próximo a minha pessoa e acompanha minha
carreira sabe que não foi nada fácil. Já no início dos anos 90, com os shows
começando a acontecer com frequência, sofria de grave problema na coluna.
Imagine isso tendo que me apresentar, dançando e tocando um instrumento como a
sanfona, que é bem pesado? E fazendo isto sempre. Pelo menos na metade dos dias
do mês.
Nova Voz Online – Na época você era funcionário público da antiga CERJ não é isto?
Pedro Garcia – Isto. Graças a Deus consegui me aposentar. Mas tive que seguir na carreira de músico. Aprendi a conviver com a dor. Só eu sei como me senti em muitos shows. Não foi fácil.
Pedro Garcia com o amigo escritor Nestor Lopes |
Nova Voz Online – Entre os amigos que fez na música, um deles é
Sérgio Reis, grande cantor brasileiro. Como surgiu a amizade?
Pedro Garcia – Conheci o Sérgio através do escritor madalenense
Nestor Lopes. Atualmente ele está escrevendo a biografia da grande atriz
brasileira Dercy Gonçalves. E eu tive a felicidade de homenagear a Dercy
compondo uma música para ela, para a cidade de Santa Maria Madalena. E pelas
mãos da Dercy me apresentei na TV Brasileira.
Nova Voz Online – Outra boa lembrança.
Pedro Garcia– Sem dúvidas! Como estava dizendo, num show do
Sérgio Reis em Madalena, ele me fez uma feliz surpresa, me convidado para
cantar junto com ele. Lá se vão trinta anos de amizade. Uma amizade fraterna.
Coisa de irmãos.
Nova Voz Online – Quando você teve seu problema na coluna ele inclusive esteve ao seu lado, não é mesmo?
Pedro Garcia – Mais do que isto. Foi o Sérgio Reis quem, ao me
ver caminhar com dificuldades, reparou que meu problema de coluna estava
piorando e me levou num médico que era seu amigo. Foi este médico que me
operou. Foi o Sérgio Reis com seu grande coração quem possibilitou que operasse
minha coluna cervical custeando todas as despesas. Sérgio Reis é um irmão, que
Deus colocou na minha vida. Minha gratidão por ele é eterna.
A
Importância da Família para o Músico
Nova Voz Online – Que importância tem a família para o músico?
Pedro Garcia – Família de músico sofre. Passamos boa parte do
tempo na estrada. Viajando, fazendo shows. E muitos dos shows são em datas
importantes. Feriadões onde as pessoas estão se divertido. Mas nós, músicos,
estamos trabalhando. E longe da família. Especialmente quando vamos dormir e
estamos centenas de quilômetros distantes de casa é bem dolorido.
Nova Voz Online – Os filhos sofrem, não é mesmo Pedro?
Pedro Garcia – Dói o coração lembrar que perdi muitos
aniversários das minhas filhas. Festas da escola, quando os pais de todos
estavam presentes, mas o pai delas não estava. Estava na estrada. Elas sabem
que as amo. E são tão generosas comigo que me perdoam. Compensação, hoje eu dou
a maior atenção possível aos meus netos. Felicidade é estar ao lado deles. Meus
amores Vitória, Davi, Heitor, Arthur, Emanuele e Isabela.
Nova Voz Online – Quando olha a música de hoje em dia, os jovens,
quais se destacam? Vê alguém tendo uma vida profissional tão longeva e bem
sucedida, como Pedro Garcia?
Pedro Garcia – Nossa região tem muitos músicos maravilhosos.
Junior & Gustavo, Bira Belo, Israel Lacerda, Laura Lima, Glauco Zulo,
Herick Almeida. Só pra citar os que estão na estrada já faz algum tempo. São
músicos com carreiras consolidadas. Gostoso é ouvir de alguns deles que, de
alguma forma, eu servi de estimulo para que fossem músicos profissionais. Onde
estou e me veem, falam comigo, destacam minha presença. Sinto-me honrado por este
reconhecimento. Se alguém me pergunta, eu logo os indico. Sempre que
conversamos, busco incentivá-los a partir das minhas experiências. É uma troca
muito boa.
Pedro Garcia emocionado com a presença de Júnior e Gustavo |
Nova Voz Online – Na família tem alguém com dom pra música? Depois
de tantos anos, você incentiva ou pede pra pensar melhor, quando seus
familiares falam em ser músicos?
Pedro Garcia – Vou responder assim: a minha inspiração foi o meu
Pai. Minha inspiração e do meu irmão Chiquinho. Nosso Pai é nosso grande
exemplo de vida. Falo sempre destes dois grandes homens para os meus netos. E
eles me admiram. São os fãs que mais amo, confesso. Em relação ao futuro, deixo
nas mãos de Deus. O que quero é que sejam felizes. Não importa a profissão que
vão seguir.
Nova Voz Online – Pedro Garcia deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Pedro Garcia – Só quero agradecer aos leitores por poder compartilhar minha história com vocês. Espero que sirva de exemplo para algo positivo. Tem uma frase que gosto muito, do inventor Tomas Edson, responsável pela existência de milhares de coisas como a lâmpada, que usamos no cotidiano. Ele disse: SUCESSO É 1% INSPIRAÇÃO E 99% TRANSPIRAÇÃO. Então, seja a carreira que for o segredo é transpirar, se esforçar, se dedicar, não desanimar, insistir até conquistar. Saber que se não conquistou é porque ainda não chegou ao final. No mais que Deus abençoe com saúde e harmonia a todos.
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