Dona
Dirce foi das personalidades mais conhecidas dos itaocarenses. Famosa pela
comida deliciosa, que servia aos clientes e amigos, do Hotel Zezé. E também
lembrada pelos ex-alunos, como professora enérgica, mas que tinha sempre uma
palavra amiga a oferecer. E a família, com o marido Florentino, os filhos Thadeu e Thereza, sobrinhos, irmãos e irmãs, netos, bisnetos, enfim ... Com sua vida, Dona Dirceu ajudou a construir a história da nossa
Aldeia da Pedra.
Dona Dirce com os queridos filhos, Thadeu e Thereza |
Nova Voz ONLINE– Quais são as principais lembranças da infância?
Dona Dirce – São muitas. A começar pelo meu pai, Moacir Henriques Duarte, um homem maravilhoso. Enérgico e compreensivo, ao mesmo tempo. Adorava participar de festas. Já de minha mãe, Maria Teresa Duarte, lembro-me das comidas deliciosas que preparava para nós, seus filhos. Até hoje nossa cozinheira, que está conosco faz 38 anos, e é da família, guarda receitas que aprendeu com minha mãe. Eu, Elza, Iná, Monclar, Edilá e Enir, éramos muito unidos.
Nova Voz ONLINE – E dos momentos difíceis, quais são as lembranças?
Dona Dirce – Da poliomielite que meu pai foi acometido, quando eu ainda era criança. Ele ficou sem os movimentos das pernas, o que nos levou a ter que trabalhar logo cedo, para que pudéssemos manter as despesas da casa. Começamos então a vender marmitas. Eu e minha irmã, Édila, entregávamos as marmitas aos clientes. O Monclar aprendeu o ofício de alfaiate com o Sr. José Caldeira. Minha irmã Elza era muito estudiosa e seguiu o caminho da educação. Em 1942, se formou professora. Assim fomos superando as dificuldades.
Nova Voz ONLINE – Essas dificuldades fizeram os irmãos mais unidos?
Dona Dirce – Com certeza. Até hoje persiste essa união. Meus sobrinhos são como filhos para mim. Os irmãos, bem mais do que irmãos.
Nova Voz ONLINE – Numa época em que não se valorizava tanto a educação, principalmente das mulheres, seu pai era diferente. Incentivava a senhora e suas irmãs a estudarem. Não é mesmo?
Dona Dirce – Meu pai fazia questão que os filhos estudassem e fossem educados. Comecei no Grupo Escolar Saldanha da Gama (aonde fica a atual Prefeitura de Itaocara), fazendo lá até 5° série. Depois tive que parar, pois não possuía condição de frequentar as escolas de Pádua, Miracema ou ir para o Rio. Porém, em 1947, foi criado o Colégio Itaocara.
Dona Dirce rodeada pela sua amada família |
Dona Dirce - Édila e Eni estudavam em Cantagalo e vieram transferidas para cá. O Dr. Whagabhi trouxe os cunhados, Roberto, Antônio José (o magro do MPB 4), Carlinhos e mais outros colegas para Itaocara. De Laranjais vieram muitos alunos. Lembro-me do Nico Alves (avó do Dr. Paulo Roberto da CEDAE). Quem também estudava fora e retornou foram a Dioneia, a Gladys Caldeira, a Emília Maia e a Marli. O Colégio Itaocara começou com todas as séries, graças ao Sr. Juca Rocha, cuja visão trouxe os itaocarenses de volta para casa.
A Itaocara da história e o amor pelo Sr. Florentino Peçanha
Nova Voz ONLINE – Como era a vida social nesta época?
Dona Dirce – Dos tempos de criança, lembro-me dos bailes da primavera, que os jovens curtiam dentro de uma pureza maravilhosa. Ainda não tinha idade para frequentar, mas ficava ouvindo as histórias e sonhando com minha vez de ser adolescente.
Nova Voz ONLINE - Que legal!
Dona Dirce - Tínhamos o Clube Malba Tahan e a estação de rádio da praça, onde dávamos a volta ouvindo música. Coisa que hoje só se vê nos bons filmes do cinema. As conversas entre os jovens e mesmo com os pais eram muito importantes. Ouvíamos histórias que sempre nos ensinavam algo.
Nova Voz ONLINE – Como conheceu o Sr. Florentino, com quem veio a se casar?
Dona Dirce – Ele era um homem ótimo. Minha família gostava dele desde os tempos em que eu era menina e ele um jovem. Antes de mim, Florentino já havia sido casado, mas ficou viúvo. Depois que passou o tempo do luto, ele realmente começou a me procurar.
Nova Voz ONLINE - Muito romântico.
Dona Dirce - Era engraçado, pois aonde ia, encontrava com ele. Aposto que não por coincidência. Mas tudo com muito respeito, como era o costume da época. No início não quis namorar. Entretanto, no dia 18 de Maio de 1958, não resisti a tanto charme e nos casamos. Ficamos juntos até o ano de 2003, quando ele faleceu. Se fui o amor da vida dele, com certeza, ele é o grande amor da minha vida.
Dona Dirce ao lado do marido, Florentino Peçanha |
Nova Voz ONLINE – Qual é o segredo de manter um casamento tão longevo assim?
Dona Dirce – Compreensão. Brigar sobre quem está certo e quem está errado, não ajuda em nada. É preciso ter um sentimento maior de que a relação não permite egoísmo. No casamento, duas pessoas passam a ser uma só. Assim é possível manter um casamento de 45 anos.
Nova Voz ONLINE – O companheirismo também é importante?
Dona Dirce – Sim. O Florentino sempre esteve ao meu lado na realização dos meus sonhos. Em 1972, fui fazer faculdade em Nova Friburgo, contando com seu apoio. Quando meu pai mudou-se e nos deixou o Hotel, ele foi meu parceiro. E olha que era funcionário do Ministério do Trabalho, mas mesmo assim trabalhava junto comigo. Um marido realmente maravilhoso. Amigo e compreensivo.
Nova Voz ONLINE – Seus sobrinhos são bem chegados à senhora, não é mesmo?
Dona Dirce – São filhos. Lembro-me que o Monclar, meu irmão, era Oficial de Justiça em Cordeiro. Quando a Moncléia nasceu, vieram para Itaocara. Desde essa época estão aqui conosco. Todos sempre me respeitaram e até hoje respeitam. Tenho muito orgulho deles e dos meus filhos. Pessoas de bem, que criaram suas famílias com honra e dignidade.
Dona Dirce sempre foi uma pessoa de muita fé |
Nova Voz ONLINE – E os filhos, Tadeu e Thereza?
Dona Dirce – O Tadeu nasceu com seis meses e lutou muito, já naqueles primeiro dias, para sobreviver. Não existia essa tecnologia toda de hoje, com incubadoras modernas. Tivemos que mantê-lo no algodão, até que saísse do risco. É um filho que amo e sinto orgulho, pela coragem que tem de superar os problemas, com altivez e cabeça erguida. Já Thereza seguiu meus passos e tornou-se professora. É formada ainda em Ciências Sócias, pela faculdade Santa Dorothéa, em Nova Friburgo. Querida pelos alunos e admirada pelos colegas professores. Sua marca principal é a alegria e o modo de receber os outros com coração aberto.
Nova Voz ONLINE – Quem são as personalidades que senhora mais aprecia e acha que colaboram com a história de Itaocara?
Dona Dirce – Minha admiração vai para todos os professores! Nós, professores, temos uma missão especial. Infelizmente, desvalorizada, pelos governos e pela própria sociedade. Gente como a professora Jaysa Pinheiro, que tantas e tantas gerações de itaocarense ajudou a formar. A Elza Duarte (minha irmã), professora de música e arte. Dona Inaiá Monteiro de Paiva, que foi diretora; Dona Eni Seixas Pires. Estas dos meus tempos iniciais na educação. Depois veio o Professor Nildo Nara, que sucedeu Silvio Freire na Direção do Colégio Itaocara.
Nova Voz ONLINE – A senhora menciona muito o Dr. Sabino, não é mesmo?
Dona Dirce - Dr. José Sabino Catete Silva, um dos maiores itaocarenses da nossa história. Injustamente pouco lembrado. Foi quem construiu o primeiro prédio do antigo João Brazil (atual Colégio Nildo Nara). Lembro-me que era muito exigente, gostava de tudo certo e ao mesmo tempo uma pessoa grandiosa, daqueles que tem o coração que não cabe no peito de tanto querer fazer o bem.
Uma Unionista apaixonada pelo preto, vermelho e branco |
Nova Voz ONLINE – Mais alguns?
Dona Dirce – MUITOS! Meu amigo William Rimes. Grande professor, escritor e poeta. O Monsenhor Saraiva, que foi professor de Frances e marca Itaocara pela preocupação com o próximo. José Jorge (Bechara), que tenho o prazer de dizer que foi meu aluno. Alias, o Dr. Alcione Araújo, Prefeito de Itaocara, foi meu aluno. Os ex-prefeitos Dr. Robério e o José Romar. O Faria Souto, a maior e melhor referencia de muitas gerações, pelo brilhantismo e genialidade. O senhor Carlinhos Soares, que foi responsável pela disciplina no João Brasil e amava aquela escola. A Noêmia e o Tãozinho: não consigo imaginar pessoas melhores. Além de mestres em português e matemática. Noêmia e Tãozinho sempre se preocuparam com o futuro dos alunos, muito além das notas das provas. Há diversos outros. Gente humilde e grandiosa ao mesmo tempo. Itaocara é terra de gigantes.
Nova Voz ONLINE – Nestes anos de vida da senhora, a família mudou muito. No Dia das Mães que se aproxima o que teria a dizer aos leitores?
Dona Dirce – Todas as famílias têm direito de educar os filhos da forma que pensam ser melhor. Mas o amor não pode faltar. Esse amor precisa se manifestar de várias formas. Beijos, abraços, carinhos, com certeza. Mas às vezes demonstramos amor com uma repreensão a um filho ou a um sobrinho, quando fazem algo que não devem. Dizer não ou dar uma palmada machuca a quem precisa educar; mas nem o pai, nem a mãe, podem abrir mão de mostrar quais são os limites a serem obedecidos. Especialmente quando os filhos são crianças e adolescentes. Ao se tornarem adultos, eles vão reconhecer e contar como foi bom ter sofrido aquela reprimenda.
Nova Voz ONLINE – Domingo vai ganhar presente de filhos, sobrinhos, netos e etc? (Entrevista publicada na época de um Domingo, dia das Mães).
Dona Dirce – Espero que sim (risos). Ter uma família grande tem estas compensações. Recebo muitos abraços e beijos, nas épocas especiais do ano. Nesse Dia das Mães não vai ser diferente. Tenho certeza que estarei recebendo os parabéns de todos e vou retribuir com agradecimento, pois minha família é o grande motivo da felicidade que sinto. Para outras mães, desejo o mesmo e peço a Deus que permita mais do que presentes materiais, que são efêmeros na realidade. Mas os presentes do coração, como as manifestações de amor entre filhos e mães. Feliz Dia das Mães.
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