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terça-feira, 2 de novembro de 2021

“Perspectiva sobre a Morte” – Texto do líder budista Daisaku Ikeda

A morte é algo que ninguém pode escapar. A morte é o passo seguinte da vida, da mesma forma que o dia se transforma em noite, o outono em inverno ou a juventude em velhice. As pessoas se preparam para não sofrerem no inverno que virá; se preparam para não sofrerem na velhice; mas poucas são aquelas que se preparam para a maior das certezas: a morte!

O líder budista da SGI, Daisaku Ikeda

A sociedade moderna tem ignorado um dos seus mais importantes problemas. Para a maior parte das pessoas, a morte é algo a ser temido e respeitado. Para outros somente significa a ausência de vida – simbolizado pelo vácuo. Assim, a morte transformou-se em algo considerado de alguma forma antinatural.

O que é a morte? O que acontece conosco após a morte? Nós podemos ignorar estas questões, como muitas pessoas o fazem. Mas, se ignorarmos a morte, eu acredito que estaremos condenados a viver uma existência superficial, uma vida despreocupada com o nosso futuro espiritual. Nós podemos assegurar a si mesmos que iremos algum dia lidar com morte ‘quando a hora certa chegar’.

Daisaku Ikeda se tornou membro correspondente da Academia Brasileira de Letras, na época em que essa era presidida pelo grande intelectual, Austregésilo de Athayde

Algumas pessoas se mantêm ocupadas em constantes afazeres com o objetivo de evitar pensar sobre as questões fundamentais sobre a vida e a morte. Mas, em tal estado mental, as alegrias por quais desfrutamos são de caráter frágil, pois são envoltas pela sombra da inescapável presença da morte. Eu tenho a firme convicção que o ato de enfrentar a questão da morte poderá nos trazer uma verdadeira estabilidade e paz interior.

O que então é a morte? Somente a extinção, um mergulho no vazio? Ou uma porta de entrada para uma nova vida, uma simples modificação ao invés do fim? A vida não é nada mais do que uma efêmera fase de atividade, seguida pelo silêncio e não existência? Ou será acompanhada de uma sequência mais profunda, que transcenda a própria morte e se transforme em alguma outra forma?

Hiromasa Ikeda (filho de Daisaku Ikeda), participou da Conferência promovida pelo Vaticano, "Perspectiva para um mundo livre de armas nucleares e para o desarmamento integral", ocasião em que se encontrou e dialogou com o Papa Francisco sobre a construção de um mundo solidário

O budismo ensina que a ideia de que nossas vidas se encerram com a morte é uma séria ilusão. Tudo no universo, tudo o que ocorre é parte de uma vasta rede viva e interconectada. A vibrante energia que chamamos de vida flui por todo o universo que não tem início, nem fim.

A vida é um contínuo e dinâmico processo de mudanças. Por que então, a vida humana seria uma exceção? Por que a nossa existência deve ser uma arbitrária e contrária, totalmente desconectada do ritmo da vida universal?

Este livro escrito em conjunto, entre Austregésilo de Athayde e Daisaku Ikeda é um fundamental para aprofundar o conhecimento sobre um tema tão importante e controverso neste século XXI: Os Direitos Humanos
Atualmente, somos capazes de saber como as estrelas e galáxias nascem, expandem e morrem. E o que se aplica as mais vastas realidades do universo, também se aplica aos minúsculos átomos de nossos corpos. Do ponto de vista puramente físico, os nossos corpos são compostos dos mesmos materiais e componentes químicos das mais distantes galáxias. Neste sentido, somos, literalmente, como filhos das estrelas.

O ex-líder soviético, Mikhail Gorbachev num encontro com o Presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Daisaku Ikeda, em Tóquio. Foi a primeira vez que um chefe de Governo Soviético pisou em solo japonês, desde o fim da II Guerra Mundial. E Gorbachev foi, atendendo a um convite do Dr. Ikeda, para ver o desabrochar das flores das cerejeiras na Capital do Japão 

O corpo humano é composto por cerca de 60 trilhões de células, e a vida é a força vital que harmoniza o infinito complexo funcional destas inúmeras células individuais. A cada momento, incontáveis células estão morrendo e sendo substituídas pelo nascimento de novas. Neste nível, estamos vivenciando diariamente o ciclo de nascimento e morte.

Ao nível prático, a morte é necessária. Caso as pessoas vivessem para sempre, elas eventualmente aguardariam pela morte. Sem ela, iríamos enfrentar uma nova série de problemas – da superpopulação de idosos vivendo para sempre. A morte nos conduz a renovação e regeneração.

Por esta razão, a morte deve ser apreciada como uma dádiva. O budismo ensina que a morte é como um período de descanso – como o sono – na qual a vida restaura suas energias e se prepara para um novo ciclo. Logo, não há motivos para temer a morte, odiá-la ou buscar bani-la de nossas mentes.

Nelson Mandela indo palestrar na Universidade Soka, no Japão, a convite do Dr. Daisaku Ikeda, após participar de encontro com líderes mundiais

A morte não é discriminatória, nos destitui de tudo. A fama, riqueza e poder são totalmente inúteis neste momento final. Quando a hora certa chegar, somente haverá a si mesmo para se apoiar. Esta é uma solene confrontação na qual, somente podemos enfrentar com a nossa crua humanidade, um resumo de tudo o que fizemos, o como escolhemos viver nossas existências, perguntando: ‘Eu vivi de modo autêntico? O que contribui para o mundo? Quais são as minhas realizações e arrependimentos?’

Para se morrer bem, é necessário se viver bem. Para aqueles que vivem coerentes com as suas convicções e que trabalham em prol da felicidade de outros, a morte pode se tornar como um descanso confortável. Assim como, um sono profundo que se segue a um dia de ações vigorosas.

Há alguns anos atrás, eu fiquei impressionado com a atitude de um amigo meu, David Norton, com relação a sua própria e iminente morte.

Quando ele tinha dezessete anos, o jovem David tornou-se um bombeiro voluntário que enfrentava as mais inóspitas áreas para cortar árvores e cavar trincheiras para evitar que o fogo se propagasse. Ele me disse que agia deste modo para aprender a lidar com o seu próprio medo.

Ikeda recebendo o astrônomo brasileiro, Ronaldo Mourão

Quando ele estava com seus sessenta e poucos anos, foi diagnosticado com câncer avançado. De peito erguido enfrentou a morte e descobriu que a dor não podia derrotá-lo. E de acordo com a sua esposa, Mary, não teve na morte uma experiência solitária. Posteriormente ela me disse que no momento da sua morte, ele estava cercado de seus amigos e enfrentou a morte sem medo, considerando-a como uma "nova aventura, semelhante ao tipo de teste que ele enfrentava quando via uma floresta em chamas".

Mary me disse o que David havia falado com ela:

- Em primeiro lugar, penso que tal tipo de aventura é uma oportunidade para desafiar a si mesmo. Deixando de lado as situações cômodas, onde sabemos o que irá acontecer e não temos com o que se preocupar. Esta é uma oportunidade para o crescimento. É uma chance para se tornar o que precisamos ser. Mas, antes de tudo, é um desafio para se enfrentar sem medo.

Encontro memorável entre Daisaku Ikeda e Rosa Parks, ativista dos Direitos Civis, que lutou lado a lado com Martin Luther King, pelos direitos dos afrodescendentes nos EUA

A consciência da morte nos capacita viver cada momento de nossas vidas com apreciação pela oportunidade única que temos em criar algo em nosso período na Terra. Eu acredito que para desfrutarmos da verdadeira felicidade, devemos ser capazes de vivermos cada instante como se este fosse o último. O hoje nunca retornará. Nós podemos falar sobre o passado ou o futuro, mas a única realidade que temos é o presente momento. E o ato de confrontarmos com a realidade da morte nós fortalece a evidenciar a coragem, alegria e a criatividade ilimitada em cada um destes instantes.

* O Autor do Texto é Presidente da Soka Gakkai Internacional, Organização Não Governamental, que existe em mais de cem países pelo mundo, voltada a Paz, Cultura e Educação. É também Membro Correspondente da Academia Brasileira de Letras, da Academia Francesa de Letras e Doutor Honoris Causa por diversas instituições de Ensino pelo Mundo. (Fonte Revista Filipina Mirror Weekly, publicado em 1998).







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