Como falar de
Itaocara sem saudosismo? Impossível deixar a emoção de lado ao discorrer sobre
fatos históricos, política local ou qualquer outro tema ligado à nossa Aldeia.
A advogada e escritora, Valéria Leão, autora do livro "Compartilhando Sentimentos", brindando aos 129 anos de Itaocara, com o Marido Luiz Carlos Leão |
Se a Aldeia é de Pedra, a memória do
coração é de manteiga e se derrete por inteiro ao relembrar as ruas, praças,
pessoas e fatos inesquecíveis.
Para todo o texto em que se pretenda
dar credibilidade e oferecer ao leitor um material de boa qualidade e de fácil
entendimento, é necessário que o autor, ao escrevê-lo, narre os fatos em ordem
cronológica e que haja coesão e coerência em suas palavras.
Quando a memória afetiva é
infinitamente maior do que qualquer palavra pode traduzir, o que fazer? Na
medida do possível, manter o foco na mensagem que se pretende passar, mesmo que
a saudade insista em escorrer pelos olhos. Mesmo que a memória, por vezes nos
traía.
Nos bancos escolares, da nossa saudosa
Escola Nossa Senhora das Graças e do nosso, também saudoso, Colégio Itaocara,
aprendemos a história da fundação da cidade.
Imagem para recordar: a Itaocarense, Valéria Leão, com o Pai, o ex-prefeito de Aperibé, Ataíde Faria Leite |
Nos contam os livros e os registros
que Frei Tomás, capuchinho italiano, fundou Itaocara e que a região era
habitada à época, pelos índios Puris e Coroados.
Como os indígenas viviam em constante
conflito, com o propósito de controlar a situação, seguiram para a localidade frei
Ângelo Maria de Luca e frei Vitório Cambiasca, iniciando o processo de
colonização. Posteriormente, chegaram os imigrantes, principalmente os sírios,
que se estabeleceram por toda a região.
Os fatos históricos transmitidos às
gerações pela educação formal ou pela tradição oral e empírica, são de
conhecimento de todos. A história conta a sua história. Porém, cada um de nós,
itaocarenses de berço ou por adoção, temos as nossas próprias lembranças
individuais e personalíssimas.
Muito embora ainda me faltem alguns
anos para chegar à dita "melhor idade", me sinto como uma velha anciã
ao relembrar de uma Itaocara que hoje vive apenas nas minhas melhores
lembranças de infância.
Mudou o comércio, o trânsito, mudaram
as relações de afeto e amizade. Mudamos todos nós. A dinâmica da vida mudou e,
nesse mundo globalizado, plugado, antenado, competitivo, não há mais espaço ou
tempo disponível para o bate papo na calçada - como nossas mães gostavam de
colocar as cadeiras na frente de casa, para uma prosa de final de tarde.
A cerveja gelada dos nossos pais no
bar das quatro esquinas, a nossa pizza da adolescência na lanchonete Xangô, do
outro lado da calçada, faziam parte da rotina. Hoje nos falta tempo e,
infelizmente, a insegurança pública dos nossos dias nos rouba até mesmo esses
pequenos prazeres.
Mas, se é para "viajar" pela
memória, preciso fazer justiça à memória de Dr. Carlos Moacyr de Faria Souto,
nosso eterno Dr. Carlinhos. Um visionário, entusiasta da cidade, um homem à
frente de seu tempo. Se hoje Itaocara é reconhecida como a Princesinha do
Paraíba, devemos, em grande parte a ele esse título. Pedindo todas as vênias às
demais Administrações, na minha modesta opinião, digo sem medo de errar: Dr.
Carlinhos era "o Cara".
Católica que sou, trago na memória,
como maior líder religioso daqueles primeiros anos de vida, nosso inesquecível
Monsenhor Pedro Maia Saraiva. Compadre de meus pais, era presença garantida nas
reuniões de família. Quantos conselhos e ensinamentos, quanta aprendizagem!
Por certo, outros líderes de outras
religiões, eram contemporâneos de Monsenhor Saraiva; mas na minha memória e no
meu coração, ele será eternamente meu mais importante guia espiritual.
Impossível falar sobre Itaocara e não
mencionar os grandes expoentes da Educação local: Nildo Nara e William Rimes.
Homens sérios, sábios e competentes, dignificaram o ofício de Educador. E, na
minha doce memória de infância, Neuza Ferraz ocupa um lugar especial.
Se a Itaocara da minha infância não
existe mais, se os sobrados da Coronel Pitta de Castro perderam um pouco da sua
natureza de "lar doce lar", se o comércio se expandiu, se estacionar
no Centro da cidade se transformou em uma missão quase impossível, se muitos
(como eu) partiram, outros tantos chegaram e a vida seguiu seu rumo. Porque é
assim que tem que ser.
Como as águas do velho e sofrido
Paraíba do Sul que, apesar dos pesares, vai cumprindo o seu destino, esse povo
forte segue na sua labuta diária. Entre perdas e ganhos, alegrias e tristezas.
Com os pés firmes no solo da Aldeia querida ou em Terras distintas, vamos
seguindo com os nossos destinos.
Cada um de nós vivendo a sua história,
todos nós levando consigo um pouco do sangue dos Puris e Coroados, dos
imigrantes sírios ou de outras nacionalidades, todos nós irmanados por um só
sentimento de amor à nossa Aldeia.
Parafraseando Drummond, "eu saí de
Itaocara, mas Itaocara jamais saiu de mim". PARABÉNS MINHA ALDEIA.
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