Dona Marlene
viveu numa Itaocara que agora só existe nas memórias que a Nova Voz ONLINE está
contando. Sua vida é de um lirismo maravilhoso. Ler esse bate papo é pegar
emprestados os olhos da nossa entrevistada e ir parar num tempo mágico. Além
disto, ela e o esposo, Paulo Lourosa, constituíram uma linda família, que são
exemplo para todos nós, em Itaocara.
Marlene e os filhos Renata, Anna Paula, Marco Antônio e Anna Cristina |
Nova Voz ONLINE – Quais as principais lembranças têm de sua família na
infância?
Marlene
Lourosa
- Nasci em 12/06/1039. Meus pais José
Teixeira Alves e Maria Pinto Alves. Papai comerciante e mamãe do lar. Somos num
total de cinco filhos. As Lembranças são muitas. Morávamos a margem do Rio
Negro, zona rural. Usávamos água de cacimba e luz de lampião. Papai tirava
leite (que tomávamos e ele também vendia). Nossos vizinhos, minha avó, meus tios,
que comerciavam tecidos. E o colégio onde estudei as três primeiras séries. A
quarta série fiz em Jaguarembé de Baixo. Quando chegou à hora, minhas irmãs
vieram estudar no Colégio Itaocara. Elas e poucos alunos o inauguraram, em 1948.
Meses depois, o Professor Nildo Nara, criou o internato.
Nova Voz ONLINE – Como era a rotina em Itaocara, quando a senhora era
adolescente?
Marlene
Lourosa
- Nossa vida era o Colégio pela manhã, ajudar
nos afazeres da casa, ouvir rádio e a noite passear na praça Coronel Guimarães
com as amigas. Lembrando que eram meninas de um lado e meninos do outro.
E isto não impediu que dali surgissem vários namoros e casamentos (RISOS). Íamos
a Biblioteca (muito frequentada). Havia o serviço de Alto-Falantes,
usado por José Bichara até às 22 horas.
Nova Voz ONLINE – O que mais os jovens faziam?
Marlene
Lourosa
- Tínhamos (nessa época) o cinema ao lado
do União. Foi no governo de Johenir H. Viégas (1959/1962) que este clube foi
criado, com seus bailes e suas festas. Logo após foi feita a Sede do Nacional. A
princípio, só um salão, perto do atual Bradesco. Depois construído onde
funciona atualmente. A chegada do trem, a noite, também era um acontecimento.
Pessoas curiosas. Passageiros comprando jornais e revistas.
Nova Voz ONLINE – Nos conte mais sobre a Itaocara daqueles tempos?
Marlene
Lourosa
- Já existia o Banco da Lavoura. Mais
tarde vieram outros. A Cooperativa era só para leite. Itaocara era bem menor, porém,
sempre bonita. A praça da matemática, inaugurada pelo matemático Malba Tahan,
em 1943, única no mundo. O parque ficava ao lado da ponte Ary Parreiras, com
uma enorme piscina. Era ponto de encontro, com suas mesas rústicas, à sombra
das árvores. Tínhamos (para lazer) uma ilha cheia de atrativos. Lugar de piqueniques. O transporte feito em balsas. Todas obras de Dr. Carlinhos Faria
Souto.
A Família Alves Reunida para celebrar os 80 anos de Marlene: Maria Nilce, Paulo Cesar, Vera Alves e Maria Helena |
Nova Voz ONLINE – Dá vontade de viajar no tempo.
Marlene
Lourosa
- Na década de 1950, o Colégio fazia
lindos desfiles escolares, no Dia do Município e no Sete de Setembro. Convidava-se
embaixadas de outros colégios. Disputávamos vôlei, futebol. Nadava-se na
piscina e também tinha danças. Tudo com muita ordem.
Nova Voz ONLINE – E o comércio? Como era?
Marlene
Lourosa
- Tínhamos as farmácias do Sr. Otílio
Pontes e Juca Rocha. Mais tarde veio a do Idemar Figueiredo. Só havia o Hotel
Zezé, do Sr. Moacir Duarte, em seguida do Senhor Florentino e Dirce Duarte, que
até pouco tempo estava entre nós. As lojas eram do Sr. Tote e Dona Luiza
Alvarenga. Compravam-se alimentos no SAPS e nas quitandas do Sr. Feverico e o Sr.
Biloco. Carros de praça, só o do Sr. Francisco Bichara. Mais tarde vieram
outros. Faltavam calçamentos para muitas ruas, mais aos poucos os prefeitos
foram fazendo suas obras.
Nova Voz ONLINE – Deve ter sido fascinante viver aqueles dias.
Marlene
Lourosa
- O ruim é que as pessoas
não tinham consciência da importância da natureza. O lixo da cidade era jogado
a beira do Rio Paraíba do Sul, poluindo-o. Havia até uma latrina na beira do
rio, soltando diretamente os dejetos na água. Lamentável! Isso melhorou bastante,
comparado com aquela época. Hoje são os quiosques, a área de lazer. Lembro
também que o telefone da cidade era na casa de Dona Belinha, onde mais tarde
criou-se a Cotita, na qual papai foi presidente. Os médicos Dr. Wagabi e Dr.
Luis, atendiam em casa. Tempos depois foi criado o nosso Hospital Municipal.
O Casamento,
os Filhos e os Netos
Nova Voz ONLINE – Pode nos contar um pouco sobre a história de amor da
senhora e do seu saudoso esposo, Paulo Lourosa?
Marlene
Lourosa
- Conheci Paulo Lourosa no ponto do
ônibus, perto do Clube do União. Eu indo para Jaguarembé, dar aula e ele
viajante de Laboratório Farmacêutico. Paulo hospedava-se no hotel, perto de
minha casa. Exatamente como começou não me lembro. Mas acabamos namorando e
casando. Ele sempre foi um marido maravilhoso, porém gostava de tomar bebidas
alcoólicas. Isso o atrapalhou a crescer na vida. Foi sócio na Farmácia Itaocara
e Dono da Drogazul, vendendo-as. Passou a ser funcionário da CEDAE. Somos pais
de Filhos maravilhosos: Anna Paula, Marco Antônio, Anna Cristina e Renata
Luzia.
Dona Marlene com a família que ama |
Marlene
Lourosa
- Meus filhos são ótimos! Nós dois
cuidamos deles com dedicação e muito amor. Eles sempre educados, corresponderam
as nossas preocupações com carinho. Foram e são umas bênçãos de Deus. Educá-los
não foi difícil. Adoro ser mãe. E o pai era paciente e amoroso. Posso dizer que
fui e sou feliz, com minha família amada.
Nova Voz ONLINE - Ainda sobre os filhos, pode nos falar um pouco sobre cada
um?
Marlene
Lourosa
- Deus nos deu filhos parecidos externa e
internamente. O Marco, aos 25 anos, descobriu-se que estava com leucemia. E
quando foi fazer o exame minucioso, entre eles, para saber se eram compatíveis,
descobriu-se que a Anna é igual ao Marco. Tanto que ela foi a doadora da medula
óssea para ele. E logo a seguir, sua saúde foi recuperada, graças a Deus. Não
fizeram Faculdade quando novos. Não foi possível. Porém, mais tarde, já
empregados, fizeram em Pádua, Além Paraíba e Campos. Hoje estão casados e com filhos. Meus netos.
No móvel de casa, a foto do Casamento e a foto dos Filhos |
Marlene
Lourosa
- Ser avó é tudo de bom. É amor, cuidado
e também preocupação com o futuro de todos. Sinto ser avó com essa idade. Gostaria
de andar de bicicleta com eles, sentar-me no chão e brincar muito. Mas tenho
limitações. Meus netos são parecidos com os pais: maravilhosos. Paulo Victor
com 18 anos, Kiria com 13, Georgia com 6 anos e Dudu com 2 aninhos. Rezo pelas melhorias deste mundo difícil. E oro agradecendo ter tido tantos bons filhos e netos adoráveis e
felizes, sempre seguindo o caminho de Deus.
A
Celebração dos 80 Anos
Nova Voz ONLINE – E a celebração dos oitenta anos? Nos conte sobre a
festa, sobre ver toda família e amigos reunidos, para comemorar sua entrada no
time das octogenárias?
Marlene
Lourosa
– Pois é. Estive muito doente esse ano. Medos
acumulados, pressão alta e forte depressão. Vendo que não melhorava, com a
medicação usada, meus filhos me levaram a Niterói, no Dr. Marcos Freitas. O que
ele acertou comigo foi inacreditável. Também fui a Psicóloga, Drª Geany de
Andrade e rezei bastante.
Elisabete Carvalho registrou a celebração dos Alves Lourosa |
Nova Voz ONLINE – A senhora é uma vencedora!
Marlene
Lourosa
– Contei isso, para falar da minha
transformação. Eu nunca gostei de festinha de aniversário. Só senti felicidade
na minha festa!! Ah, mas também tinha ao meu lado toda minha família e amigos
adoráveis!!! Até a fotógrafa, foi a minha querida amiga, Elizabete Carvalho. Decoração
linda dos meninos Arteiros, Pablo e Leandro. Música ao vivo, jantar,
salgadinhos, doces, bolos, tudo perfeito. Como eu sonhei. Obrigada Deus,
obrigada a todos que fizeram e foram nos meus 80 anos!!!!!
A Religiosidade
Nova Voz ONLINE – A senhora e a família da senhora, são pessoas muito
religiosas. Que importância tem a religião, na sua vida?
Marlene
Lourosa
- Somos uma família católica, porem eu
não era praticante. Com o passar dos anos e precisando da ajuda de Deus, tive
necessidade de frequentar a igreja. Há tempos, eu e minha família, recebemos a
visita mensal de Nossa Senhora de Schoenstatt e fazemos parte do Apostolado da
Oração. Todos os filhos são católicos praticantes, com a graça de Deus.
Dona Marlene é uma pessoa de muita fé |
Marlene
Lourosa
- Gostaria que o mundo fosse melhor para
as próximas gerações. E isso vai depender de todos os jovens. Amando e
respeitando a natureza e a Família. Sugiro que criem o hábito de, ao acordar, orar agradecendo a Deus pelo novo dia.
Não fazer a ninguém aquilo que não gostaria que fizesse a si mesmo. Respeitar o
próprio corpo, não se intoxicando com drogas negativas. Sendo cidadãos honestos,
trabalhadores e felizes com o mundo. Assim eu cheguei aos 80 anos e desejo que
todos cheguem também. No mais, FELIZ ANIVERSÁRIO para Itaocara, que no próximo
dia 28 de Outubro, vai completar 129 anos. Parabéns!!!
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