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domingo, 13 de outubro de 2019

Osvaldo Soares é um Músico cuja riquíssima história contamos hoje na série em homenagem aos 129 anos de Itaocara

Osvaldo Soares é um dos grandes personagens da história de Itaocara. Mas ele tem um jeito discreto, mesmo sendo músico, acostumado a se apresentar para muita gente. Não é de fazer o marketing pessoal. E assim é preciso pesquisar, provocar até, para saber da sua história. Por sinal, riquíssima, que vai desde composições gravadas por Byafra a apresentações na Sala Cecília Meireles, na cidade do Rio de Janeiro.
Osvaldo com a esposa e companheira Helen Nara
Nova Voz Online – Quais suas principais lembranças da Itaocara de seus tempos de criança?
Osvaldo Soares – São muitas. As peladas no parque Faria Souto, os banhos de piscina e no rio Paraíba - esses escondidos dos meus pais. A brincadeira de parte-queijo no coreto. Brincávamos de preso não se mexa, na Praça e perto de casa. Lembro-me daqueles maravilhosos Carnavais. Nossa Praça era muito linda, com a fonte luminosa ao centro. E os desfiles escolares? Nossa! ERAM MOMENTOS MÁGICOS. Os grandes jogos de futebol, no estádio Paulo Ignácio de Araújo, que eram o assunto da semana em todos os lugares. As maravilhosas Folias de Reis. O Obelisco que existia em frente à prefeitura de hoje.

Nova Voz Online – Quem estiver lendo, deve estar se perguntando: mas tinha isso tudo?
Osvaldo Soares – Itaocara era uma joia! Havia o Cinema em cima do prédio da Cooperativa de leite, a Banda Patápio Silva, grande patrimônio cultural em que tive o privilégio e o prazer de tocar, escola de música de grandes itaocarenses, ao longo de décadas, que não consigo entender o porquê de ter acabado. Relembro essas coisas e me emociono.

Nova Voz Online – E sua família? Que lembranças têm deles?
Osvaldo Soares – Vim de uma família com onze irmãos. Não éramos ricos, mas tínhamos muita fartura na mesa. Meu pai era açougueiro, galista e flamenguista. Muito enérgico com os filhos. Minha mãe, do lar, bondosa e justa. Trabalhadeira desde o amanhecer até o anoitecer. Lembro-me que quando nós dizíamos que o dia seguinte seria feriado, ela reclamava que nunca tiveram essa regalia.

Nova Voz Online – Onze filhos não deve mesmo ser fácil.
Osvaldo Soares – As famílias daquela época eram assim, com muitos filhos. Meu pai e minha mãe trabalhavam para nos criar. E não tinha esse negócio de empregada.

Nova Voz Online – Todos torcedores do Flamengo?
Osvaldo Soares – Graças a Deus! Por meu pai ser flamenguista, todos os filhos se tornaram rubro negro. Lembro-me da emoção de ouvir os jogos no rádio. Era o ano de 1955. Eu tinha cinco anos de idade. Nem se sonhava em existir televisão por aqui. Que lembrança maravilhosa! Fomos muito bem criados. Agradeço a Deus pelo Pai e a Mãe que me deu, pois eles eram realmente maravilhosos.

O IRMÃO JORGE SOARES E A MÚSICA

Nova Voz Online – Como a música surgiu em sua vida?
Osvaldo Soares – Quando eu tinha uns oito pra nove anos, meu irmão querido, Jorge Soares, que já partiu pra glória de Deus, começou a se reunir em casa com uns amigos, pra tocar violão e cavaquinho. Aquilo foi o máximo. Ter a oportunidade de segurar aqueles instrumentos e começar a tirar um som, que para mim soava bem aos meus ouvidos.
Osvaldo Soares ao violão, premiado no Festival Itaocarense de Música Popular de 1972, junto com a cantora Maria Lucília Cattete e Silva
Nova Voz Online – Que legal!
Osvaldo Soares – Quando meu irmão saía pra trabalhar, eu pegava o cavaquinho, que é um instrumento menor, com menos corda, pra tocar. Ficava tentando tirar um som. Aí eu passei a assistir todas as apresentações do meu irmão, com seus amigos lá em casa. Não perdia nenhum detalhe.

Nova Voz Online – Você tocava também?
Osvaldo Soares - Quando tinha uma oportunidade, eu pegava o cavaquinho e tentava tocar alguma coisa do que tinha os visto tocar. Aí meu irmão notou que eu levava jeito pra música e começou a me ensinar. Algum tempo depois, meu irmão foi trabalhar no Rio de Janeiro. Na pensão onde ele morava, conheceu um músico que lhe ensinou muitas coisas no violão. E quando ele vinha ver a família, passava essas dicas para mim, que nessa época já estava aprendendo também a tocar violão. Eu estudei e ainda estudo até hoje. Sempre tive facilidade para entender o caminho da música. Sou autodidata. Tenho um ouvido muito bom.

Nova Voz Online – Como músico, qual lembrança pode destacar?
Osvaldo Soares – Eu toquei na banda Patápio Silva, em circos, em ruas, em festivais, em bandas de carnaval, em escolas de samba, em serenatas pelas ruas de Itaocara. Tive o privilégio de tocar na banda "O Circo" que acompanhava o cantor super consagrado, "Byafra" por ocasião da gravação do seu primeiro disco, cujo nome é "Primeira Nuvem". Com o Circo, toquei nos teatros Municipais de Niterói, em Ipanema, na cidade do Rio. Toquei na sala Cecilia Meirelles, acompanhando meu amigo Dr. Renatinho Faver, num Festival. São diversas histórias maravilhosas. Momentos mágicos que tive a felicidade de viver.
Osvaldo com Fernando Bittencourt, Bidica e Lamounivar Lessa
Nova Voz Online - Quem são os músicos que conhece ou conheceu, que mais admirou ao longo da história?
Osvaldo Soares – Meu maior ídolo sempre foi Jorge Soares, meu irmão querido, que me ensinou os primeiros acordes no violão. Destaco também os músicos Humberto de Resende Pinto, Francisco Frias, Luiz Eduardo Farah, Marcos Sabino, Paulinho Rocketh e seu irmão Renato, meu querido sobrinho Rafael, Arthur Maia, Márcio Bahia, Fernando Bittencourt, Robernely Reis, Claudio Paradise e seu filho Yury. Sinval Falante, Klebinho, Welton Cremonez, Sebastião Faria e seu filho Samir, Lamounivar Lessa e Bidica. Eita, quanta gente fantástica!

Nova Voz Online – O Klebinho Batista mencionou você entre os parceiros musicais mais queridos. A recíproca é verdadeira? Vocês dois juntos dá música?
Osvaldo Soares – Sem dúvidas que dá música. Mas, por incrível que pareça, nunca fizemos nenhuma composição juntos. E isso apesar do nosso entrosamento musical que sempre foi muito grande. Além disto, Klebinho é um músico que sempre admirei. Uma pessoa muito honesta. No meu coração é mais do que meu amigo. É como um irmão.
Com o parceiro e amigo Kleber Baptista
Uma Escola de Música com nome de Patápio Silva

Nova Voz Online – Com tantos músicos fantásticos brotando nesta que é terra de Patápio Silva, passou da hora de Itaocara ter uma Escola de Música, voltada a ensinar as crianças, adolescentes e jovens, a desenvolver um talento que em regra, mais do que bons músicos, possuí a capacidade de formar pessoas de sensibilidade e bom coração?
Osvaldo Soares – Passou da hora. Somos a Terra do Patápio Silva, como você disse. Não consigo entender, entra governo e saí governo, e não se cria uma escola de música. Com tantos músicos disponíveis para dar aula. Para ensinar o que aprenderam, assim como meu irmão, Jorge Soares, me ensinou. Seria lógico Itaocara ter a Escola de Música Patápio Silva. E ensinar música para TODAS AS ESCOLAS do Município. A música humaniza. Faz o ser humano melhor. E é uma profissão. Quem sabe tocar um violão, por exemplo, seja a cidade que estiver, vai ter sempre campo para trabalhar. Então, fica a pergunta: o que está faltando para criarem a Escola de Música Patápio Silva?

Nova Voz On Line – Itaocara vai fazer 129 anos no dia 28 de Outubro. Qual presente (ou presentes) gostaria de dar ao município?
Osvaldo Soares – Meu presente seria que existissem condições e estimulo para uma nova geração de músicos surgir. Tenho a felicidade de ter três músicas gravadas com o BYAFRA (Primeira Nuvem/Riacho e Solidão/Nova Estrela e o Mágico). Fui a algumas das principais salas de música do Brasil, como já disse acima. Então, que novos talentos itaocarenses surjam na música. E noutras artes também. A música e a arte são as coisas mais lindas que os seres humanos inventaram. FELIZ ANIVERSÁRIO ITAOCARA!


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