Cristiane Thompson: “Uma Carta para Minha Querida e Saudosa Mãe, Irenice”

Mãe, estou com novidades para te contar. Sei que as notícias ai só chegam através dos sentimentos e orações. Então resolvi escrever para você. Sei que você adora quando suas amigas ou as pessoas perguntam por você. Então lá vão as novidades.

Muitas saudades da minha mãezinha Irenice

Ao sair da loja Bida & Bela, da Brígida, que sempre se lembra de você com aquele carinho especial, encontrei uma de suas amigas. Ela me falou tanto de você. Como foi gostoso ouvir da Drª Ana Valeria, que a senhora era uma pessoa incrível, generosa, gentil, positiva e decidida.

Foi muito legal a ouvir contar que a senhora já nasceu Budista. Que sua natureza era de uma pessoa pura e uma amiga especial.

Ah!! Mamãe, que maravilha a senhora ter tido uma trajetória de 76 anos, com dificuldades, lutas e muita oração. E nada que houve, tirou da senhora o seu jeitinho gente boa de ser. Como diz Maria Eugênia: “como sua mãe era gente boa né” ... rs.

Você sempre acreditando que o amanhã seria melhor que o hoje, e que não existia nada como um dia após o outro, com uma noite no meio. Neste momento, nós, seres humanos, estamos precisando fazer disso, uma oração.

Neste dia celebramos os nove anos da Giovanna

Mãe, nem imagina os dias loucos que estamos vivendo. Viramos um bando de pessoas, que toma banho de álcool, para sair à rua. Não existe mais aquele cumprimento afetuoso. Apenas um ‘soquinho’ na mão, cheio de receio.

E usamos máscara o tempo todo na rua. Não mãe. Não máscaras de carnaval, como a senhora adorava. Pelo contrário. Panos terríveis, para nós, os asmáticos. Contudo, tornou-se uma defesa, uma das formas de nos mantermos vivos, sem pegar uma terrível doença, que a senhora não conheceu (felizmente). Lamentavelmente, 68 dos habitantes da nossa Aldeia da Pedra querida, foram embora. Boa parte, precocemente, deixando parentes e amigos, em total desalento.

Nós que estamos vivos, vivemos correndo pra lá e para cá. Nesses tempos loucos, sem liberdade para estar junto, daqueles que amamos. E pena Mãe, que somos tão cabeças duras. Muitos ainda não perceberam o quanto as marcas que deixamos, uns nos outros, são importantes, .

Como era tradição, juntas, celebrando um novo ano

Mas nem tudo é ruim. Como disse, há sempre boas pessoas, que tornam o momento da gente maravilhoso. Mesmo com pouca convivência, quando nos encontram, nos dizem que a senhora era maravilhosa, numa demonstração sincera de afeto.

Fiquei tão orgulhosa, que passei a tarde pensando em você. Ontem fui ao Conselho Tutelar, e a Viviane, nossa amiga, disse que a cada dia que passa, estou a sua cara. Disse que até minha forma de andar está igual a sua (risos). Espero conseguir chegar a sua serenidade algum dia.

Ah!! Mãe, nosso terceiro ano sem a senhora. A mesa, sem presentear a senhora. Mas não se preocupe. ‘Nosso’ filhão está fazendo tudo direitinho, como a senhora gostaria. E eu tento, ser um pouquinho de você, para ele e para a Gi. Não com a sua calma né kkkk ... Mas sim com a dedicação. A Gi e meu irmão, são o meu porto seguro. Meus fiéis escudeiros da vida.

Nós falamos de você diariamente. Morremos de rir quando falamos bordões que fazem parte do nosso dia a dia (kkkk) não deixamos nada passar. Você é inesquecível!!!

Nós curtindo a tocha olímpica passando na frente da nossa casa

Vou me despedindo e dizendo que . . . Você já sabe que te amamos muito. Que jamais vamos esquecer a sua luta para nos fazer pessoas de bem.

Seu trabalho para nos criar. Suas broncas e seus ensinamentos budistas para nos tornamos pessoas de bem.

Vou cumprindo a minha missão aqui e desejo que, ao partir, a Giovanna tenha a mesma alegria que eu, de ouvir as pessoas contarem nossas histórias, de forma leve e engraçada, e com muito carinho envolvido.

Fica bem!! Te amamos muito!!!