Prof. Pimenta fala sobre o falecimento do Dr. Ubiratan D’Ambrósio e da relação com o grande matemático brasileiro

O Brasil perdeu seu matemático número um: o professor Ubiratan D’Ambrósio, que foi orientador do trabalho de mestrado, na PUC-SP, do professor Augusto Cesar Pimentel – Professor Pimenta, que se transformou no livro sobre a Praça da Matemática. Abaixo, um pouco da história de convívio entre o Professor Pimenta e o grande intelectual brasileiro, Ubiratan D’Ambrósio.

O Mestre pela PUC-SP, Prof. Pimenta, demonstra gratidão e pesar pela perda do Matemático, Dr. Ubiratan D'Ambrósio

Nova Voz ONLINE – Inicialmente gostaria que nos contasse um pouco sobre a importância do professor Ubiratan D’Ambrosio?

Professor Pimenta – Inicialmente quero dizer que a perda do professor Ubiratan D’Ambrósio é um momento muito triste para matemática brasileira e mundial. Eu o conheci lendo seus livros. Depois, o encontrei pela primeira vez, num Congresso na UFRJ. Neste dia, gentilmente, ele tirou uma foto comigo, autografou uma obra escrita por ele, que eu havia comprado.

Nova Voz ONLINE – A perda dele deixa um vácuo de que tamanho para nossa ciência?

Professor Pimenta – Perdemos um intelectual cuja genialidade só se iguala pela generosidade. Usando uma expressão popular, o professor Ubiratan D’Ambrósio é o CARA da matemática brasileira. O criador da ideia de uma matemática humanística: a etnomatemática. Simplesmente genial. Aproveitar a matemática dos povos e trabalhar dentro dela, ao invés de somente inserir uma matemática sobre as populações.

Nova Voz ONLINE – Que fantástico!

Professor Pimenta – Isto sem esquecer que são infindável o número de brasileiros que se tornaram Mestres e Doutores em Matemática, através da orientação do professor Ubiratan D’Ambrósio. Foi professor de Universidades de Nova Iorque. Depois foi para República do Mali, desenvolver projetos de Doutorado em Matemática. O atual Coordenador da PUC-SP é fruto desta formação.

Nova Voz ONLINE – Pelo o que está narrando, se trata de um dos grandes pensadores brasileiros, não é?

Professor Pimenta - É difícil dimensionar o tamanho da perda para ciência brasileira. Possuía como base, um tripé que servia de suporte para sua forma de ensinar: o respeito, a solidariedade e a cooperação. A partir daí, surgiu um laço, que tornava o aprendizado muito mais fácil, interessante e até lúdico.

Nova Voz ONLINE – Você teve a oportunidade de conviver com ele, principalmente no trabalho de Mestrado, que resultou no seu livro, sobre a Praça da Matemática. Pode nos contar alguma história interessante, deste momento?

Professor Pimenta – Eu fui convidado na cidade do Rio, para ir até a PUC São Paulo, desenvolver um estudo de matemática em nível de Mestrado e Doutorado. Eu estava na sala do professor Vagner Valente onde era produzido um livro biográfico, justamente sobre o professor Ubiratan. Percebi que ele estava ali, naquele local.

Nova Voz ONLINE – Deve ter sido uma emoção.

Professor Pimenta – Na hora me deu um estalo. Pedi licença à professora Estela Koffman para que pudesse ir até o professor Ubiratan, e discutir com ele a ideia de fazer um trabalho sobre a Praça da Matemática.

Nova Voz ONLINE – Você contando, fico imaginando que neste instante se encontrava bem emocionado, não é?

Professor Pimenta – Com todo respeito, mas nem você, nem os leitores podem imaginar minha emoção. Afinal de contas, lá fui eu, conversar com o ganhador da Medalha Felix Klein de Melhor do Mundo 2005. Ele nem pensou duas vezes. Aceitou na hora ser meu orientador. Só me pediu para falar com o Coordenador e tudo ficou ok.

Nova Voz ONLINE – E, é claro, nos conte como era temperamento do Professor Ubiratan D’Ambrósio, no contato pessoal?

Professor Pimenta – Eu tive o privilégio de ir a casa e ao escritório dele. Nunca vou me esquecer que estava num Congresso, em que havia pessoas de outros países da América Latina, quando recebi um telefone da esposa do Ubiratan, Dona Maria José, dizendo que aconteceria um jantar na casa deles, e que eu e a Sonia, minha esposa, estávamos intimados a comparecer.

Os Professores, Pimenta e Ubiratan, com as respectivas esposas, Sonia e Maria José, num momento de descontração 

Nova Voz ONLINE – Que fantástico!

Professor Pimenta – De novo: pessoa de uma generosidade indescritível. A Universidade Federal de Uberlândia publicou um segundo livro sobre Malba Tahan. Quando estava no projeto, ele disse que era para me ligarem, para incluir a Praça da Matemática de Itaocara na obra. O segundo capítulo da obra está assinado por mim, falando sobre a Praça da Matemática.

Nova Voz ONLINE – Tem mais histórias? Os leitores adoram histórias assim.

Professor Pimenta – Uma coisa que me marcou muito foi quando eu estava em Canoas, no Rio Grande do Sul, e o número de palestrantes era muito grande. Fiquei preocupado. Pensei: “Gente, será que quando chegar a minha vez vai ter público ou o pessoal vai estar cansado e irá embora?”. Pois bem! Quando chegou a minha vez de palestrar, entrou o Professor D’Ambrósio, para assistir. Lotou de gente. Todos queriam saber sobre o assunto que interessava a ele.

Nova Voz ONLINE – Como foi a palestra?

Professor Pimenta – Eu contei sobre a Praça da Matemática, destaquei o Dr. Carlinhos, disse o quanto Itaocara é um lugar especial. Ao encerrar, perguntei se alguém gostaria de falar algo. Ele levantou o braço. Pensei: “Será que eu falei alguma besteira?”. Ele pegou o microfone e disse na frente de todos: “Eu tenho muito orgulho de você”. Me emociona lembrar. Foi realmente fantástico. Então, este era o Professor Ubiratan. Alguém que jamais vou esquecer, pois fará parte da minha história e de minhas melhores lembranças de valorização da Matemática, da amizade, da partilha de sentimentos singulares.