-->

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Dona Dirce: Mãe, Tia, Professora, Comerciante e Itaocarense Apaixonada pela terra

Dona Dirce é uma das mais conhecidas itaocarenses. Famosa pela comida sempre deliciosa, que serve aos clientes e amigos do Hotel Zezé, é também lembrada pelos ex-alunos, como professora enérgica, mas que tinha sempre uma palavra amiga a oferecer. Com sua vida, ajudou a construir os 128 anos do Município.

Nova Voz – Quais são as principais lembranças da infância?
Dona Dirce – São muitas. A começar pelo meu pai, Moacir Henriques Duarte, um homem maravilhoso. Enérgico e compreensivo, ao mesmo tempo. Adorava participar de festas. Já de minha mãe, Maria Teresa Duarte, lembro das comidas deliciosas que preparava para nós, seus filhos. Até hoje nossa cozinheira, que está conosco faz 38 anos, e é da família, guarda receitas que aprendeu com minha mãe. Eu, Elza, Iná, Monclar, Edilá e Enir, éramos muito unidos.

Nova Voz – E dos momentos difíceis, quais são as lembranças?
Dona Dirce – Da poliomielite que meu pai foi acometido, quando eu ainda era criança. Ele ficou sem os movimento das pernas, o que nos levou a ter que trabalhar logo cedo, para que pudéssemos manter as despesas da casa. Começamos então a vender marmitas. Eu e minha irmã, Édila, entregávamos as marmitas aos clientes. O Monclar aprendeu o ofício de alfaiate com o Sr. José Caldeira. Minha irmã Elza era muito estudiosa e seguiu o caminho da educação. Em 1942, se formou professora. Assim fomos superando as dificuldades.

Nova Voz – Essas dificuldades fizeram os irmãos mais unidos?
Dona Dirce – Com certeza. Até hoje persiste essa união. Meus sobrinhos são como filhos para mim. Os irmãos, bem mais que irmãos.

Nova Voz – Numa época em que não se valorizava tanto a educação, principalmente das mulheres, seu pai era diferente. Incentivava a senhora e suas irmãs a estudarem, não é mesmo?
Dona Dirce – Meu pai fazia questão que os filhos estudassem e fossem educados. Comecei no Grupo Escolar Saldanha da Gama (onde fica o antigo fórum), fazendo lá até 5° série. Depois tive que parar, pois não possuía condição de freqüentar as escolas de Pádua, Miracema ou ir para o Rio. Porém, em 1947, foi criado o Colégio Itaocara.

Nova Voz – E suas irmãs?
Dona Dirce - Édila e Eni estudavam em Cantagalo e vieram transferidas para cá. O Dr. Whagabhi trouxe os cunhados, Roberto, Antonio José (o magro do MPB 4), Carlinhos e mais outros colegas para Itaocara. De Laranjais vieram muitos alunos. Lembro-me do Nico Alves (avó do Dr. Paulo Roberto da CEDAE). Quem também estudava fora e retornou foram a Dioneia, a Gladys Caldeira, a Emília Maia e a Marli. O Colégio Itaocara começou com todas as séries, graças ao Sr. Juca Rocha, cuja visão trouxe os itaocarenses de volta para casa.

Nova Voz – Como era a vida social nesta época?
Dona Dirce – Dos tempos de criança, lembro-me dos bailes da primavera, que os jovens curtiam dentro de uma pureza maravilhosa. Ainda não tinha idade para freqüentar, mas ficava ouvindo as histórias e sonhando com minha vez de ser adolescente. Tínhamos o Clube Malba Tahan e a estação de rádio da praça, onde dávamos a volta ouvindo música. Coisa que hoje só se vê nos bons filmes do cinema. As conversas entre os jovens e mesmo com os pais eram muito importantes. Ouvíamos histórias que sempre nos ensinavam algo.

Nova Voz – Como conheceu o Sr. Florentino, com quem veio a se casar?
Dona Dirce – Ele era um homem ótimo. Minha família gostava dele desde os tempos em que eu era menina e ele um jovem. Antes de mim, Florentino já havia sido casado, mas ficou viúvo. Depois que passou o tempo do luto, ele realmente começou a me procurar. Era até engraçado, pois aonde ia, encontrava com ele. Aposto que não por coincidência. Mas tudo com muito respeito, como era o costume da época. No início não quis namorar. Entretanto, no dia 18 de Maio de 1958, não resisti a tanto charme e nos casamos. Ficamos juntos até o ano de 2003, quando ele faleceu. Se fui o amor da vida dele, com certeza, ele é o grande amor da minha vida.

Nova Voz – Qual é o segredo de manter um casamento tão longevo assim?
Dona Dirce – Compreensão. Brigar sobre quem está certo e quem está errado, não ajuda em nada. É preciso ter um sentimento maior de que a relação não permite egoísmo. No casamento, duas pessoas passam a ser uma só. Assim é possível manter um casamento de 45 anos.

Nova Voz – O companheirismo também é importante?
Dona Dirce – Sim. O Florentino sempre esteve ao meu lado na realização dos meus sonhos. Em 1972, fui fazer faculdade em Nova Friburgo, contando com seu apoio. Quando meu pai mudou-se e nos deixou o Hotel, ele foi meu parceiro. E olha que era funcionário do Ministério do Trabalho, mas mesmo assim trabalhava junto comigo. Um marido realmente maravilhoso. Amigo e compreensivo.

Nova Voz – Seus sobrinhos são bem chegados à senhora, não é mesmo?
Dona Dirce – São filhos. Lembro-me que o Monclar, meu irmão, era Oficial de Justiça em Cordeiro. Quando a Moncléia nasceu, vieram para Itaocara. Desde essa época estão aqui conosco. Todos sempre me respeitaram e até hoje respeitam. Tenho muito orgulho deles e dos meus filhos. Pessoas de bem, que criaram suas famílias com honra e dignidade.

Nova Voz – E os filhos, Tadeu e Thereza?
Dona Dirce – O Tadeu nasceu com seis meses e lutou muito, já naqueles primeiro dias, para sobreviver. Não existia essa tecnologia toda de hoje, com incubadoras modernas. Tivemos que mantê-lo no algodão, até que saísse do risco. É um filho que amo e sinto orgulho, pela coragem que tem de superar os problemas, com altivez e cabeça erguida. Já Thereza seguiu meus passos e tornou-se professora. É formada ainda em Ciências Sócias, pela faculdade Santa Dorothéa, em Nova Friburgo. Querida pelos alunos e admirada pelos colegas professores. Sua marca principal é a alegria e o modo de receber os outros com coração aberto.

Nova Voz – Quem são as personalidades que senhora mais aprecia e acha que colaboram com a história de Itaocara?
Dona Dirce – Minha admiração vai para todos os professores! Nós, professores, temos uma missão especial. Infelizmente, desvalorizada, pelos governos e pela própria sociedade. Gente como a professora Jaysa Pinheiro, que tantas e tantas gerações de itaocarense ajudou a formar. A Elza Duarte (minha irmã), professora de música e arte. Dona Inaiá Monteiro de Paiva, que foi diretora; Dona Eni Seixas Pires. Estas dos meus tempos iniciais na educação. Depois veio o Professor Nildo Nara, que sucedeu Silvio Freire na Direção do Colégio Itaocara.

Nova Voz – A senhora menciona muito o Dr. Sabino, não é mesmo?
Dona Dirce - Dr. José Sabino Catete Silva, um dos maiores itaocarenses da nossa história. Injustamente pouco lembrado. Foi quem construiu o primeiro prédio do antigo João Brazil (atual Colégio Nildo Nara). Lembro-me que era muito exigente, gostava de tudo certo e ao mesmo tempo uma pessoa grandiosa, daqueles que tem o coração que não cabe no peito de tanto querer fazer o bem.

Nova Voz – Mais alguns?
Dona Dirce – MUITOS! Meu amigo William Rimes. Grande professor, escritor e poeta. O Monsenhor Saraiva, que foi professor de Frances e marca Itaocara pela preocupação com o próximo. José Jorge (Bechara), que tenho o prazer de dizer que foi meu aluno. Alias, o Dr. Alcione Araújo, Prefeito de Itaocara, foi meu aluno. Os ex-prefeitos Dr. Robério e o José Romar. O Faria Souto, a maior e melhor referencia de muitas gerações, pelo brilhantismo e genialidade. O senhor Carlinhos Soares, que foi responsável pela disciplina no João Brasil e amava aquela escola. A Noêmia e o Tãozinho: não consigo imaginar pessoas melhores. Além de mestres em português e matemática. Noêmia e Tãozinho sempre se preocuparam com o futuro dos alunos, muito além das notas das provas. Há diversos outros. Gente humilde e grandiosa ao mesmo tempo. Itaocara é terra de gigantes.

Nova Voz – Nestes anos de vida da senhora, a família mudou muito. No Dia das Mães que se aproxima o que teria a dizer aos leitores?
Dona Dirce – Todas as famílias têm direito de educar os filhos da forma que pensam ser melhor. Mas o amor não pode faltar. Esse amor precisa se manifestar de várias formas. Beijos, abraços, carinhos, com certeza. Mas às vezes demonstramos amor com uma repreensão a um filho ou a um sobrinho, quando fazem algo que não devem. Dizer não ou dar uma palmada machuca a quem precisa educar; mas nem o pai, nem a mãe, podem abrir mão de mostrar quais são os limites a serem obedecidos. Especialmente quando os filhos são crianças e adolescentes. Ao se tornarem adultos, eles vão reconhecer e contar como foi bom ter sofrido aquela reprimenda.

Nova Voz – Domingo vai ganhar presente de filhos, sobrinhos, netos e etc? (Entrevista publicada na época de um Domingo, dia das Mães).
Dona Dirce – Espero que sim (risos). Ter uma família grande tem estas compensações. Recebo muitos abraços e beijos, nas épocas especiais do ano. Nesse Dia das Mães não vai ser diferente. Tenho certeza que estarei recebendo os parabéns de todos e vou retribuir com agradecimento, pois minha família é o grande motivo da felicidade que sinto. Para outras mães, desejo o mesmo e peço a Deus que permita mais do que presentes materiais, que são efêmeros na realidade. Mas os presentes do coração, como as manifestações de amor entre filhos e mães. Feliz Dia das Mães.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Carlinhos Barrias - Bar dos Amigos

 


PARCEIRO


Studio Fênix - Visite


Itaocara Seguros

Core Contabilidade



Postagens mais visitadas

Arquivo do blog

Referências

Unordered List

Support