Indubitavelmente
Henrique Resende é um dos itaocarenses mais queridos. Artista renomado, expondo
no Brasil e no Exterior. Mesmo assim, nunca perdeu seu jeito de menino de cidade do interior, o que conquista a todos que o conhecem. Henrique também trabalha na formação das novas gerações. Junto com a esposa, tem
realizado o Projeto Arte Para Crianças.
Itaocara é a grande paixão do Artista Plastico Henrique Resende
Nova Voz On Line – Volta e meia você realiza algo
em Minas Gerais. Seja trabalho, estudo ou mesmo turismo. É coincidência ou
Minas Gerais tem uma energia diferente?
Henrique Resende - Ouro
Preto, Mariana, Congonhas, Tiradentes, São João Del Rey, Inhotim. São lugares
mágicos. Impossível entender um pouquinho da alma brasileira, sem conhecer
Minas Gerais. Nós somos passionais e exagerados. Somos barrocos. Expressiva,
rebuscada e exuberante, a alma brasileira se identifica muito com o Barroco
Mineiro, até mesmo o nosso carnaval, com todo o brilho e exuberância de suas
alegorias, deve a sua atual aparência, as realizações mineiras dos séculos
XVIII e XIX, quando artistas, como os Mestres Athayde, Francisco Xavier de
Brito e Aleijadinho, criaram suas obras fantásticas.
Nova Voz On Line – O
artista capta vibrações dos lugares onde está?
Henrique Resende - Tudo
está interligado. O lugar, a época e os acontecimentos interferem, ou pelo
menos deveriam influenciar, nas criações artísticas. Como dizia o saudoso
itaocarense José Carlos Raposo, “o artista é a antena do mundo”.
Nova Voz On Line – Por falar
nisso, faz alguns anos lhe cobrei sobre o porquê, de você não morar num grande
centro, ligado às artes. Sua resposta foi que Itaocara era a verdadeira fonte,
onde havia de beber sua inspiração. Continua sendo assim?
Henrique Resende - Aqui
moram meus irmãos e meus pais. Moram os irmãos e pais da minha esposa. Aqui
moram os avôs, tios e primos da minha filha. Foi aqui que nascemos e crescemos.
Além do mais, o artista visual não é como o cantor, o dançarino, o ator e o
músico, que precisam estar presentes, junto ao público, para que a arte se
realize. A criação do artista visual é solitária. Um dos maiores pintores
vivos, o alemão Anselm Kiefer, reside numa cidadezinha na França. Os seus
trabalhos sim, vão para os grandes centros.
Cartaz da mostra de artes que realizou em Leonessa e Giulianova, na Itália
Nova Voz On Line - Em
2012, você esteve na Itália para uma exposição de suas obras. Pode nos falar um
pouco daquela experiência?
Henrique Resende - Num
país de gênios da arte, como Michelângelo, Leonardo Da Vinci, Rafael,
Caravaggio e tantos outros, poder realizar uma exposição do meu trabalho – 31
obras em bico de pena, aguada de nanquim e guache – e passar a fazer parte do
acervo do Museu de Giulianova (Teramo), é realmente uma alegria muito grande.
Tive a oportunidade de conviver um pouco com os italianos, não como turista,
mas como uma pessoa que estava ali para levar um trabalho. Experiência
inesquecível, foi abrir a exposição na cidade de Leonessa (Rieti), num cenário
medieval, cercado de muita neve e hospitalidade. A exposição depois seguiu para
Giulianova.
Nova Voz On Line –
Outro trabalho de grande importância foi o Naturismo. De onde surgiu a idéia?
Henrique Resende - A
relação que temos com a natureza sempre foi uma preocupação em minha vida. Por
volta dos 11 anos de idade, comecei a ter uns sonhos estranhos: São Francisco
de Assis falava para eu subir o morro, atrás de minha casa (local onde hoje
funciona o ateliê). Lá no final, já no terreno do Adovani, existia uma mata.
Dizia para me isolar e desenhar. Eu levava materiais de desenho e, sozinho,
passava longas horas, em contato com a natureza. Cheguei, nessa época, a pensar
em virar um eremita (risos). Mas hoje entendo melhor aqueles sonhos, que me
acompanharam até a adolescência. Começava ali a formação de um pensamento
voltado à ecologia e à espiritualidade. A série de pinturas que intitulei
“Naturismo” reflete esse pensamento.
Tela "Visões de Baco - Fernanda Montenegro como a Deusa Ártemis"
Nova Voz On Line –
Você representou figuras famosas ao natural, ou seja, nuas. Isso tem como
objetivo despi-las do poder ou prestígio, e mostrar que, no fundo, somos todos
iguais?
Henrique Resende - A idéia
inicial é usar o conceito filosófico do naturismo – que é tirar as roupas, para
perceber e se integrar à natureza – para tocar numa questão crucial dos dias de
hoje: ou mudamos a nossa forma de nos relacionar com o planeta, ou chegará o
momento da inviabilidade de nossas vidas. Nos quadros, tirei as roupas do Lula,
da Rainha Elizabeth, do Papa Bento XVI, da Princesa Isabel, da Brigitte Bardot,
do Rei Roberto Carlos, da Xuxa, do Michael Jackson, da Michelle Obama e, não
poderia faltar, do São Francisco de Assis (o santo protetor dos animais e da
natureza). Todos retratados com extrema dignidade e respeito, embora nus. Nus e
integrados à natureza, um apelo e um convite para mudarmos agora o nosso olhar
em relação ao planeta em que vivemos.
Nova Voz On Line– Nos
fale um pouco do Caminho Mágico, na Chácara da Pedra? Como surgiu essa ideia e
qual o objetivo? A interatividade das pessoas que conhecem o Caminho Mágico é
importante? Ou seja, há reações que podem terminar gerando novas obras pelo
caminho?
Henrique Resende - O
Caminho Mágico também nasceu lá atrás, devido aos sonhos que tive com São
Francisco. Quando criança, a área de morro atrás da casa/ateliê, era degradada.
Um pasto com pouquíssimas árvores. Era o local em que eu passava muito tempo
desenhando. Foi como uma preparação, um profundo envolvimento com o ambiente.
Então, naturalmente, faz uns quinze anos, dei início a recuperação da área com
árvores nativas e algumas exóticas.
O Caminho Mágico na Chácara Ateliê de Henrique Resende
Nova Voz On Line - Foi
um Trabalho realizado paulatinamente?
Henrique Resende –
Isso. Aos poucos venho plantando mudas e realizando uma trilha, que a minha
filha apelidou de Caminho Mágico. Entre as árvores, venho criando trabalhos de
pintura, escultura e land art. Esporadicamente levo os alunos do ateliê para
uma aula, no Caminho Mágico, e também alunos do UICMA Chapeuzinho Vermelho e
alunos do Colégio Estadual Frei Tomás – instituições de ensino, com parceria
com o ateliê – visitam a área e até já participaram da criação de obras de
arte. O Caminho é longo e está em processo de desenvolvimento, como a vida.
Nova Voz On Line - Existe
algum momento que pensa em abrir ao público em geral, mesmo que seja um projeto
bem para o futuro?
Henrique Resende - Recentemente percebi que o local não deve ser mantido fechado. Deve ser
aberto para provocar nas pessoas uma reflexão sobre a vida. Uma reflexão
potencializada pela arte, natureza e espiritualidade, que o Caminho Mágico
oferece. Ainda há muito que fazer, e o que criar. Quem sabe em 2016, seja
aberto ao público em geral?
Nova Voz On Line –
Outro momento importante da sua carreira, pelo menos para os observadores, foi
o Festival Vale do Café, em lugares como Vassouras, Conservatória, Valença,
Paty do Alferes, Resende e Barra do Piraí. Fale-nos um pouco sobre esse
momento? Você esperava ter uma repercussão tão grande, como foi?
Henrique Resende - Fui
convidado a criar esculturas para duas edições do Festival Vale do Café. Em
2012 realizei as esculturas dos abolicionistas Machado de Assis, Rui Barbosa,
Castro Alves, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, todas em tamanho natural,
realistas, realizadas apenas com papel, cola e tinta.
Henrique Resende é um dos mais importantes artistas plásticos do Mundo
Nova Voz On Line - Não
deve ter sido fácil.
Henrique Resende - Tive
que fazer uma extensa pesquisa das vestimentas, da personalidade e dos
trejeitos de cada um. Já este ano de 2014, realizei a escultura de Dorival
Caymmi, o grande homenageado dessa edição, devido ao seu centenário de
nascimento. O Caymmi também foi feito em tamanho natural e todo em papel. A
repercussão realmente foi bem interessante, pelo fato de, através da mídia, a
arte ter atingido um grande número de pessoas. Jornais como O Globo e O Dia,
fizeram belas matérias, além da Rede Globo através da TV Rio Sul.
Nova Voz On Line – Não
há como deixar de falar sobre o Projeto Arte Para Crianças. Conte-nos um pouco
sobre ele. Como é um dia típico de aula? Eles aprendem também sobre história da
arte?
Henrique Resende - Trabalhar
com crianças é algo realmente fascinante e nos gratifica muito. Minhas
primeiras experiências foram em 2006, quando criei o Projeto Sombra Verde –
Arte e Ecologia. De forma voluntária, ensinava técnicas de desenho, pintura e
escultura para aproximadamente 15 crianças, sempre com a temática ecológica.
Somando a isso, produzíamos e cuidávamos de mudinhas de árvores. Pouco mais
tarde, envolvemos a Prefeitura, e levamos as mesmas mudas produzidas pelas
crianças, para algumas calçadas e praças de Itaocara. Um dos primeiros lugares
plantados foi a calçada em frente ao cemitério. Hoje podemos ver as árvores (patas
de vaca), já grandes. Depois conseguimos envolver os moradores da Rua Coronel
Pita de Castro e Praça Toledo Piza, para que apoiassem e autorizassem o
reflorestamento do Morro Bela Vista, (seus terrenos de fundos).
Nova Voz On Line – Houve também plantio de árvores?
Henrique Resende - Quase
duas mil árvores foram plantadas ali, bem no coração da cidade. Essas foram as
primeiras experiências com as crianças. Em 2013 lancei em meu ateliê a “Arte
para Crianças”, com duas turmas (manhã e tarde). Todas as quartas-feiras. As
aulas práticas são sempre precedidas de aulas teóricas, que acontecem no
cineminha (mini auditório para projeções), dentro do espaço de arte. Ali as
crianças aprendem um pouco de história da Arte e conhecem os grandes nomes e
estilos. E o mais legal que venho notando, é que, segundo os comentários dos
pais, as crianças melhoram seus desempenhos no colégio. Num mundo cada vez mais
tecnológico, o contato mais profundo com a arte e com o lúdico, se torna um
momento de respiro, cada vez mais importante. Isto é fato.
Nova Voz – Natal
surgindo e 2015 já no horizonte. Fale-nos um pouco sobre sua perspectiva para
este final de ano e os projetos para o Ano Novo?
Henrique Resende - Ano
chegando ao fim e as energias também (risos). O Natal é o momento de nos
reunirmos com a família, hora de motivarmos e de sermos motivados pelas pessoas
que amamos. Hora de agradecer ao Menino Jesus, pelas conquistas, e,
principalmente, pedir saúde e energia para o próximo ano. Gosto muito das
simbologias do Natal, principalmente a árvore. A árvore dentro de casa, a
árvore que reúne as pessoas em seu entorno, a árvore enfeitada que realiza os
desejos e os sonhos. Enfim, voltando a sua pergunta, minha perspectiva para
2015 é que o sonho de viver a arte e viver de arte continue se realizando, e
que a Grande Arte atinja e modifique, positivamente, cada vez mais o mundo.
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