A Professora Gabriela Barros é fã da
escritora Clarice Lispector. Aproveitando seu conhecimento sobre a autora,
fizemos um bate papo, pedindo que nos contasse como surgiu essa admiração.
A Professora Gabriela Barros falando de Clarice Lispector |
Nova
Voz On Line
– Quando passou a se interessar por Clarice Lispector?
Gabriela
Barros
- O primeiro contato que tive com a Clarice Lispector, foi quando estava no quarto
ou quinto ano do fundamental. Tivemos que fazer um trabalho sobre algumas
personalidades brasileiras, como Bibi Ferreira, Cazuza, Renato Russo, etc. Eu
não consigo me lembrar sobre qual personagem falei. Mas me lembro perfeitamente
da fotografia da Clarice, em preto e branco, com aquele porte imponente que ela
tinha, no trabalho de alguém. Chamou minha atenção. Pouco tempo depois, achei
entre as coisas da minha mãe, um livro de contos de Clarice chamado Laços
de família. A partir de então, não consegui mais parar de lê-la.
Nova
Voz On Line
- O que pode contar, de forma geral, do que conhece sobre a obra dela, que a
torna diferente das outras escritoras?
Gabriela
Barros
- Clarice, no meu ponto de vista, foi capaz de retratar as questões humanas
como ninguém. Ela deu voz a esses conflitos internos e obsessões que todos nós
temos, mas evitamos encarar. Ler Clarice nos faz aprender mais sobre nós
mesmos e sobre as pessoas que estão ao redor.
Nova
Voz On Line
– É possível fazer uma leitura de Clarice Lispector e introduzir o que se
aprender no dia a dia?
Gabriela
Barros
- Com certeza! Como respondi na questão anterior, ela fala sobre as angustias e
as reflexões que nós, seres humanos, temos e trazemos conosco. Mas, quero
destacar, que isso é bem pessoal. Fundamental respeitar as individualidades.
Nova
Voz On Line
– Em os Desastres de Sofia (Conto
das obras Felicidade Clandestina e A Legião Estrangeira), há a seguinte
citação:
- As palavras me antecedem e
ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde
demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era
apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que posso
me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita
de muitas histórias.
Como interpretaria essa passagem?
Gabriela
Barros
- Embora Clarice negasse o caráter confessional de sua obra, ao estudar sua
biografia, nota-se certa semelhança entre ela e algumas de suas personagens.
Para mim, nessa passagem ela refere-se ao seu próprio processo criativo. De
novo, nota-se que ao falar sobre ela mesma, nos ajuda a refletir sobre nós.
Sobre o papel que temos a desempenhar, em meio a tantos fios do enredamento que
é a própria existência.
Nova
Voz On Line
- No mundo tão diverso e complexo dos dias atuais, ler Clarice Lispector nos
faz entender melhor a vida?
Gabriela
Barros
- A escrita de Clarice Lispector é atemporal. Na verdade acho que nunca foi tão
atual. Em vida, ela foi acusada de ser egocêntrica, de ter uma escrita muito
subjetiva e voltada para si própria. Mas o que ela fez, como já disse, foi
retratar o ser humano como ninguém. Suas relações com ela mesma e com os outros.
Seus anseios, medos e dúvidas. Então lê-la é como olhar-se no espelho
Nova
Voz On Line
– Que obras da Clarice Lispector indicaria a quem não conhece a autora?
Gabriela
Barros
- Acho que um bom livro para começar é A
hora da estrela. Trata-se de um drama muito humano, voltado para o mundo
externo, onde Clarice fala da questão da migração nordestina. Dependendo da
pessoa, começar com livros como A Paixão Segundo G.H ou Sopro de Vida,
pode assustar. Além deste, também indico os livros infantis: A Mulher que Matou os Peixes e O Mistério do Coelho Pensante.
Nova
Voz On Line
– Nesse dia, quando ela faria 98 anos, que homenagem gostaria de prestar, aproveitando esse espaço?
Gabriela
Barros
- A única crítica que Clarice rebatia, era quando diziam que ela não era
brasileira: "sou brasileira e pronto". Considero um grande orgulho
tê-la fazendo parte de nossa literatura. Quem teve o privilégio de conhecê-la em
vida, afirma que ela não foi só uma grande escritora, mas também uma grande
mulher, amiga e mãe. Deixo aqui as palavras de Raquel de Queiroz sobre Clarice:
"Era uma pessoa estranha. Muito fechada. Cheia de fragilidades. Você
magoava a Clarice sem saber. Como escritora era a maior de todas nós".
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