Nelson Mandela tinha todas as razões do mundo para ser um
homem cheio de ódio. Em 1962, foi preso sob acusações banais, como a de ter
afirmado que sairia da África do Sul, mesmo sem passaporte (documento que era
emitido somente para os brancos). Em razão disso foi condenado a cinco anos de
encarceramento. O governo racista dos Africânderes, temendo sua libertação, o
acusa de conspirar contra o Apartheid (política de segregação racial). Desta
vez recebe a sentença de prisão perpétua.
A partir deste momento, um drama épico começa a se desenrolar. Durante muitos anos, foi torturado psicológica e fisicamente. Proibido do contato com os familiares. Mantido incomunicável, sem saber o que acontecia no mundo exterior. Em poucas oportunidades, sua esposa, Winnie, teve permissão para vê-lo. Mesmo assim, a visita era supervisionada por guardas brancos, que em momento algum deixava que ficassem a sós, temendo que Mandela transmitisse alguma orientação aos correligionários.
O Mundo passa a pressionar pela soltura do prisioneiro 46664. Sanções comerciais são adotadas por vários países. Líderes de diversos matizes ideológicos usam seu prestígio, pedindo pela libertação de Mandela. Soweto, o bairro pobre onde moravam os negros, era notícia constante da repressão policial. Diversos líderes do CNA – a organização política que pertencia, e outros, querem que ele sinalize a Guerra Civil. Sua resposta é que se tal coisa acontecer, vai se posicionar publicamente contra os revolucionários.
Pressionado por todos os lados, o Governo Sul Africano quer libertá-lo. Porém impõe condições. Apesar do cansaço e da dor da solidão, Mandela continua altivo e rejeita. Diz que só sairá da prisão, quando houver o fim do Apartheid.
Pieter Botha, presidente da África do Sul,
provavelmente o homem que mais o perseguiu, é aconselhado a dialogar. Os
relatos do primeiro encontro entre estes grandes adversários, conta que
enquanto Botha falava sobre política, Mandela perguntava sobre seus filhos, se
tinha netos? Quais eram suas melhores recordações da infância e
juventude? Alguns anos passam e Pieter Botha fica muito doente. Mandela
passa a lhe escrever cartas da prisão, na Ilha de Robben, dizendo que ora todos
os dias por sua completa recuperação.
Frederick Le Clerck assume o Governo Sul
Africano. Sorridente, o prisioneiro 46664 vai ao seu encontro. Passam a
dialogar francamente. Por iniciativa do líder negro, assuntos pessoais, como
família, o gosto por literatura, artes e etc., estão em pauta. Os Sul Africanos
e o Mundo se surpreendem, quando Mandela afirma que Le Clerck é o líder branco
mais confiável que já conheceu. A repercussão é imediata.
No dia 11 de Fevereiro de 1990, o grande momento acontece: Nelson Mandela é libertado. Milhões de pessoas exultam na África do Sul. Bilhões nos quatro cantos do Planeta. Em TODOS OS DISCURSOS, a mensagem é de conciliação.
- Ninguém nasce odiando outra pessoa, por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E se podemos aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar – diz ao sair da Ilha de Robben.
Pouco tempo depois, Mandela é eleito Presidente da África do Sul. Tinha em suas mãos todos os instrumentos para vingança contra os que o mantiveram 28 anos preso. O apoio maciço da população permitiria que implantasse uma ditadura e instalasse tribunais, voltados a prender, processar e condenar, quem o havia perseguido.
Porém, Mandela é veemente ao repudiar tal
pensamento. Usa seu grande prestígio, pedindo aos negros que estendam as mãos
aos brancos. Cria a Comissão da Verdade e Conciliação. Quer apurar o
acontecido, mas não punir. Acredita que a vergonha dos atos praticados, que vão
carregar pra sempre, é o bastante. Seu objetivo é uma nação unida. “Somos todos
Sul Africanos”.
Em 1993 Mandiba (como o povo o chama), recebe o prêmio Nobel da Paz, junto com Frederick Le Clerck. Na ocasião, discursa:
- O valor deste prêmio que dividimos, será e deve ser medido, pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum une negros e brancos em uma só raça: a raça humana. Cada um de nós deve viver como crianças no paraíso.
Ao escrever sobre a vida de Mandela, reflito como temos que aprender. Fundamental lembrar que não se trata de nenhuma figura divina, ou ser de outro planeta. A diferença está em sua determinação de não ser arrastado pelos baixos estados da vida. Na prisão, declamava todas as noites, estes versos do poema Invictus, escrito pelo britânico William Ernest Henley:
- Não importa o quão estreito seja o portão, e
quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou
o capitão da minha alma” - era como se dissesse a si mesmo: “não sucumbirei à
violência dos meus detratores".
Nunca foi tão necessário navegarmos o mesmo
barco do líder Sul Africano. A inveja, o ódio, as intrigas e os gritos de
guerra, precisam ser trocados pela fraternidade. Quem age com maldade é um
pobre coitado. Mas se devolvermos na mesma moeda, nos tornamos iguais. Não é
fácil. Entretanto é honrado trocar a ofensa, pelo elogio, e JAMAIS permitir que
os baixos sentimentos norteiem nossos corações.
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