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sábado, 8 de dezembro de 2018

Helen Nara fala sobre seu Pai, o Professor Nildo Caruso Nara

Sem nenhuma dúvida, um dos mais importantes personagens da história itaocarense, é o professor Nildo Caruso Nara. Pelas suas mãos, foram educadas gerações. Até hoje, os ex-alunos de seu famoso Colégio Itaocara, periodicamente se reúnem, para lembrar aqueles tempos áureos. Abaixo um bate papo com a filha mais nova do Professor Nildo, Helen Nara, que nos conta um pouco sobre quem foi esse grande homem.

Helen Nara, com a filha, a PhD, Drª. Helene Nara Henriques Blanc
Nova Voz On Line – Quais lembranças têm de seu pai?
Helen Nara - Meu pai, Nildo Caruso Nara, foi um excelente pai! Um exemplo de ser humano. Ele era bem severo, talvez, em função do Colégio Itaocara. Ele exigia muito de nós, filhos: Hêner Nara, Helenice Nara Rocha e Helen Nara. Ele queria que nós fôssemos exemplares em disciplina e educação. Como fui temporona, nasci quando meu irmão tinha 18 anos e minha irmã 16, fui menos cobrada. Mas também, eu sempre tentei corresponder às suas expectativas.

Nova Voz On Line - Por falar nisso, em casa, a educação dos filhos era compartilhada, ou, como era comum na época, sua mãe tinha mais influência?
Helen Nara – Éramos, nesse sentido, uma família da época. Mamãe, que se chamava Sydalva Valle Nara, era a responsável por nossa educação. Ela que nos deixava sair, determinava o horário de voltar pra casa. No meu caso, isto, só depois dos meus 14 anos. Antes ela saía comigo. Papai nunca a desautorizou, mas estava sempre atento.

Nova Voz On Line – Tem alguma lembrança com seu pai, como aluna, ligada ao Colégio Itaocara?
Helen Nara – Meu pai tomava conta da disciplina. Quando eu fazia coisas da idade, como conversar na fila, rir na hora do hino nacional ou sair de forma, ia para Secretaria, de castigo. Quase morria de medo, porque ali, ele me tratava como aluna. E em casa, me dava mais bronca, como pai. Agora, adulta, ao lembrar isso, me sinto muito saudosa.

Nova Voz On Line – O que lembra sobre o dia a dia, das preocupações do seu pai, com o Colégio Itaocara?
Helen Nara – Papai era professor de Português (que depois, passou para o Hêner) e Matemática (só fui aluna dele, nesta disciplina). Como sabemos, além disso, ele era dono e Diretor do Colégio Itaocara, que possuía Internato para alunos, moças e rapazes, que moravam fora de Itaocara e precisavam morar na cidade para estudar, já que não havia estradas e transportes viáveis aos estudantes. Sua grande preocupação era com a segurança e aprendizagem dos alunos.

Nova Voz On Line – Ele também era advogado?
Helen Nara – Sim, era. Mas seu grande amor era a Educação. Preferia ser chamado de Prof. Nildo, do que Dr. Nildo. Ele era totalmente comprometido com a qualidade do ensino e com a disciplina do Colégio Itaocara. Depois que se aposentou, ficava extremamente feliz pelas visitas dos ex-alunos. Nas ocasiões em que os ex-alunos eram mais antigos, ele me chamava para apresentar sua filha temporona, que estudava Odontologia (ele tinha tanto orgulho disto) ao visitante.

Helen com sua mãe Sydalva Valle Nara
Nova Voz On Line – A sua mãe tinha um papel muito ativo, junto a ele, não é mesmo?
Helen Nara - Muito! O Internato feminino ficava mais por conta da minha mãe. O masculino por conta do meu pai. No entanto, a parte funcional, limpeza e alimentação era todo por conta da minha mãe, que inclusive, cozinhava em um fogão à lenha. Era um trabalho bem pesado e ela o fazia com muito amor. Não me lembro de ter visto minha mãe reclamando de nada. Ela era uma pessoa muito alegre e extrovertida, nesse aspecto, bem diferente do meu pai.

Nova Voz On Line – Você chegou a ser aluna do Colégio Itaocara?
Helen Nara - Eu estudei no Grupo Escolar Frei Tomás durante o Jardim de Infância (hoje chamado de pré-escolar) e da Primeira à Quarta série (hoje Primeiro Segmento do Ensino Fundamental). O Ensino Público só atendia até a Quarta Série. A partir daí, tínhamos que estudar em escola particular. Para fazer o Ginasial (hoje Segundo Segmento do Ensino Fundamental), fazíamos um Exame de Admissão.

Nova Voz On Line – Tudo isso é bem diferente de hoje em dia.
Helen Nara - Bem diferente. Durante a quarta-série (turno da manhã), entrei no Curso de Admissão (turno da tarde) no Colégio Itaocara, em 1970. De 1971 a 1974, fiz o Ginasial; e em 1975 e 1976, fiz o 1° e 2° anos do Curso Normal, quando saí para fazer o pré-vestibular em Niterói. O Colégio Itaocara encerrou suas atividades em 1977, com a formatura da minha turma e eu não participei.

Professor Nildo Nara, com a esposa Sydalva Valle Nara e o filho mais velho, que também se tornou professor, Hener Nara
Nova Voz On Line – O Monsenhor Saraiva disse certa vez, que seu pai foi o mais importante educador da história do município. Lembrou-se das gerações de itaocarenses que estudaram no famoso Colégio Itaocara. Como filha, isso lhe dá que sentimento?
Helen Nara – O Monsenhor Saraiva foi professor do Colégio Itaocara, da disciplina de Francês. Foi meu professor, inclusive. Eu o amava como um segundo pai. Sei da sua importância dentro da nossa Igreja e da sua enorme sapiência. Saber como ele considerava meu pai, me deixa profundamente emocionada. Posso contar aos leitores, que essa consideração era recíproca. Monsenhor Saraiva fez parte da minha vida, desde meu nascimento, literalmente.

Nova Voz On Line - A professora Claudete Pontes nos contou com saudades dos desfiles escolares promovidos pelo Colégio Itaocara, especialmente nos dia 7 de Setembro e 28 de outubro. Têm lembranças destas festividades?
Helen Nara - Os desfiles cívicos do Colégio Itaocara eram suntuosos. Ao mesmo tempo, demonstravam nas ruas onde desfilava a disciplina da educação que seus alunos recebiam. Nós ficávamos em perfeitas filas, marchando com cuidado para não perdermos o passo.

Nova Voz On Line – A professora Claudete contou que os alunos se sentiam orgulhosos.
Helen Nara – Sem dúvidas. Os alunos se portavam com altivez. Havia grande rivalidade com o Colégio CENECISTA João Brazil e nós, alunos, queríamos que o nosso desfile ficasse mais bonito. Participei de todos, durante o meu período estudantil no Colégio Itaocara. Para os estudantes era mesmo um momento de glória.

Nova Voz On Line – Vocês tornaram-se professores por influência do seu pai?
Helen Nara - Enquanto estudava no Colégio Itaocara, meus irmãos, Hêner e Helenice eram professores. Ele de Português e ela de Desenho. Eu, depois de ser dentista por seis anos, fiz um concurso estadual. Meus irmãos foram professores regentes por vocação. Eu fiquei em funções extraclasse, por total paixão. Na verdade, não acredito que papai nos tenha influenciado. Vou mais além. Afirmo que a Educação corre em nossas veias. Meu sobrinho, Hélder Nara Rocha, veio a ser professor de Química em Itaocara, do CIEP 275 - Lenine Cortes Falante e do SEI. E minha filha, Helene Nara Henriques Blanc, cursou Biomedicina, fez Mestrado e Doutorado, e é professora da UFRJ em Macaé. A educação está no nosso DNA.

Helenice, Hêner e Helen Nara, filhos do Prof. Nildo Nara
Nova Voz On Line - Pode nos contar alguma história particular, alguma frase, ou mesmo alguma mania do seu pai, para que quem não teve o privilégio de conhecê-lo, entenda um pouco quem foi o mais famoso professor da história do município?
Helen Nara - Lembro-me do papai falando aos alunos das cigarras: “cigarras cantando, fim de ano chegando”. Este era o aviso que as provas finais estavam próximas. Ele era severo, mas possuía um incrível senso de humor. Sempre tinha uma piada inteligente ou um trocadilho para as horas mais inesperadas. Meu pai era autodidata. Ele aprendeu e terminou seus estudos, sendo professor substituto no Colégio Miracemense. Por isso, veio tomar conta do Colégio Itaocara, que na época (1947), era um ramo do Colégio Miracemense.

Nova Voz On Line – Pelo o que escutei dos ex-alunos, apesar de ser um homem rigoroso, tinha profunda ligação com os estudantes, não é mesmo?
Helen Nara - Meu pai pensava tanto nos alunos, que muitas vezes, ele deixava que determinados alunos, que não podiam pagar, estudassem de graça. Ele dizia que os alunos iriam estudar com Bolsa. Existiam as Bolsas de Estudo, mas quando elas encerravam, ele não deixava alunos sem estudo por causa de dinheiro. Mais uma de suas virtudes: ele foi a pessoa mais honesta que conheci. Tenho muito orgulho da minha família. Muita saudade dos meus pais e irmã.


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