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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A Brasileira Lenita Porto, que mora em Boston, fala do frio deste inverno nos Estados Unidos


Vivendo há 18 anos nos Estados Unidos, a Brasileira Lenita Porto, nos conta sobre a onda de frio deste inverno no Hemisfério Norte. Ela narra que a estrutura urbana possibilita uma rotina quase normal, mesmo quando os termômetros ficam abaixo do zero grau célsius. Mesmo assim, conta que a depressão causada por dias mais curtos, noites mais longas e a introspecção causada pela baixa temperatura, faz com que muita gente fique deprimida.
Le Porto está totalmente adaptada depois de 18 anos em Boston
 Nova Voz On Line – Como está sendo enfrentar as baixas temperaturas dos Estados Unidos no inverno de 2019?
Le Porto - Para mim é praticamente normal, pois já estou há quase 18 anos. Então, já sei que quando inverno chegar, a paisagem vai mudar e o ar vai ficar gelado. Nos primeiros anos foram mais difíceis. Agora, fico tranquila.

Nova Voz On Line - De que forma o frio e a neve impactam na rotina das pessoas?
Le Porto – Pode parecer incrível, mas em regra, vivemos normalmente. Só quando a meteorologia prevê fortes tempestades de neve, é que o governo do Estado de Massachusetts emite um alerta, para que evitemos trafegar nas vias públicas. Dessa forma, prevenindo acidentes, pois o asfalto fica literalmente congelado e os veículos deslizam, fazendo os motoristas perderem o controle. Nestas ocasiões, somente carros de polícia, ambulâncias, corpo de bombeiros e os caminhões que fazem a limpeza das ruas, podem trafegar. Em algumas situações, quem desobedece, pode ser multado.

Nova Voz On Line – Teve algum episódio ou alguma história com o frio, que tenha ficado marcado na sua vida, ai nos EUA?
Le Porto – Faz uns 12 anos, não tínhamos tantas informações com relação à previsão do tempo, como atualmente. Eu estava no meu carro e de repente começou a nevar muito, fazendo com que ninguém pudesse se mover. Um percurso que levava cerca de uma hora e meia para percorrer, durou quase oito horas. Fiquei aterrorizada. Foi estressante. O carro deslizava muito e não tinha visibilidade alguma. Graças a Deus, consegui chegar em casa sã e salva.
A rua onde Le Porto mora totalmente congelada
Nova Voz On Line – Se no verão brasileiro, a conta de luz sobe por causa do uso do ar-condicionado, no inverno da Nova Inglaterra (região onde mora) os aquecedores também são vilões, das contas de energia?
Le Porto – Essa é a notícia triste que pesa no bolso. A despesa aumenta muito. As casas com aquecimento a gás são mais econômicas do que as aquecidas a óleo e eletricidade. Aqui em casa o aquecimento é a gás. Mesmo assim, nosso gasto esse mês foi de $362,50. É uma conta bem salgada.

Nova Voz On Line - O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS – na sigla em inglês) alerta que uma pessoa pode ficar congelada em menos de dez minutos, caso exposta ao frio de Estados mais atingidos pela massa polar. Os moradores de Boston e das cidades vizinhas, têm estas preocupações?
Le Porto – Em todos os invernos, quer as administrações dos Estados mais frios, quer das cidades, emitem alertas, buscando prevenir que sejamos pegos de surpresa. É um trabalho feito com muita seriedade e competência. Existe um número de telefone que fica à disposição, para a retirada de pessoas que moram nas ruas. Infelizmente não funciona cem por cento. Vez ou outra há fatalidades. O que é muito triste.

Nova Voz On Line - Você continua indo a rua normalmente? Por exemplo, quando precisa de algo dos supermercados ou da farmácia, vai buscar ou pede pelo telefone e aguarda a entrega?
Le Porto – Primeiro quero dizer que os serviços de entrega são muito comuns em praticamente todas as cidades americanas. Então, quando usamos, não é pelo frio, mas sim pela comodidade. Mas no geral, levo uma vida normal. Vou ao trabalho, ao Super Mercado, vou a Academia, aos Bancos, as Escolas e a Igreja com a mesma regularidade. Como disse antes: as pessoas estão ambientadas. Elas vivem assim.

Nova Voz On Line – O frio afeta o humor? De que forma?
Le Porto – SEM DÚVIDAS! Os dias são mais curtos. Nem todos os dias tem sol. Então, à tendência é ficarmos mais introspectivos. Em função disto, desta tristeza, infelizmente temos um número muito grande de pessoas com depressão por conta do excesso de trabalho e do inverno. Essa questão do humor também está na adaptação à vida em lugares onde realmente existe um inverno que possa ser chamado de inverno.
Apesar do frio, Le se diverte na neve e declara que adora o inverno
Nova Voz On Line – Você é de São Lourenço do Oeste, Santa Catarina. Pode comparar o frio que sentia em sua cidade e o frio que sente em Boston?
Le Porto – Boa pergunta. Na minha cidade natal faz muito frio no inverno. Só para os leitores terem uma ideia, eu tinha quatro anos, quando vi neve pela primeira vez, e foi em São Lourenço, Santa Catarina, Brasil. A diferença é o seguinte. Se tiver zero grau em São Lourenço e vinte graus negativos em Boston, pode ter absoluta certeza, que tu vai sentir mais frio em São Lourenço, do que em Boston. Por quê? Simples, em Boston e nas cidades dos Estados Unidos e do Canadá, onde faz muito frio, existe toda uma infraestrutura projetada para as baixas temperaturas. É por isso que vemos pessoas toda agasalhadas, dentro de casa, no inverno do Rio ou de São Paulo; e em Boston, usando roupas normais. Dentro de casa, no trabalho, nas lojas, nos shoppings, não sentimos frio.

Nova Voz On Line – Realmente um Youtuber que é de Curitiba e mora em Toronto, afirmou que sentia mais frio no Brasil, do que no Canadá. Então é isto mesmo?
Le Porto - Eu saio de carro com aquecimento ligado. Entro na minha casa com a temperatura super agradável. Ainda tomo cerveja, tomo sorvete e ando de camiseta tranquilamente. JAMAIS poderia fazer algo assim, no inverno do meu querido Estado de Santa Catarina.

Nova Voz On Line – Pra nós que estamos derretendo no calor brasileiro, o que diria você, que está congelando no frio americano? (Risos)
Le Porto - Eu que amo o frio, diria que vocês são verdadeiros guerreiros. É admirável estarem ambientados a vida com temperaturas altas. Só fico preocupada, por saber que no Brasil, a grande maioria não tem condições de ter um ar-condicionado em casa. Imagino que para essas pessoas, os meses de verão sejam realmente inconvenientes. Tomara que algum dia nosso país tenha a infraestrutura para o verão, como os Estados Unidos tem para o inverno. Então, a temperatura externa não será um problema.

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