Clara e Fabíola lutam pela construção de um Mundo Melhor |
Mãe e filha, Fabíola Lontra Alves e
Clara Lontra, duas gerações que dividem as lutas e as preocupações na
construção de uma sociedade mais justa e humana, em especial pela criação de um ambiente onde as
mulheres possam viver sem discriminação, exercendo seus direitos, protegidas
pelo Estado, sempre que forem aviltadas.
Nova Voz On Line – O que vocês acham sobre as relações que as mulheres vivem
no mundo atual?
Clara
- Acredito
que ainda existam muitas demandas em relação aos direitos das mulheres que
precisam ser atendidas. Houve avanços e mais possibilidades, mas consigo
perceber muitos retrocessos: a violência de gênero é um índice epidêmico no
nosso país; as políticas públicas de saúde da mulher ainda são muito
negligenciadas; desigualdade salarial; a porcentagem de ocupação de cargos
públicos por nós ainda é muito pequena (podemos ver isso de forma clara nos
cargos eletivos). Ainda há muito o que fazer para construirmos uma sociedade igualitária.
Fabíola - Historicamente,
as mulheres sempre viveram um papel de submissão, num mundo dominado pela visão
machista. No decorrer do tempo e de muitas lutas, houve avanços em vários
segmentos. Acredito que a mulher tem demonstrado o seu valor e, aos poucos,
ocupa seu lugar na sociedade, apesar do nítido sexismo. Mas, como disse a Clara:
ainda temos muitas batalhas para lutar e vencer.
Nova Voz On Line - Fabíola, da sua geração, para a da Clara, quais foram as
principais transformações? E Clara, acha que as coisas estão melhores agora, do
que na época que sua mãe tinha a sua idade?
Clara
– Não
sei se posso qualificar como melhores.
Mas acho que a minha geração presenciou uma fase de acesso à informação
gigante. No entanto, somos uma geração que precisa conviver com a ansiedade, as
frustrações, etc. Sem esquecer a nova onda de hipocrisia moral que assola o
mundo.
Fabíola - Houve
avanços, sem dúvida. De 50 anos para cá, surgiu à pílula anticoncepcional,
permitindo maior liberdade sexual. Outro grande avanço foram às leis Maria da
Penha e a Lei do Feminicídio, colocando a morte de mulheres no rol de crimes
hediondos. Porém, muitas dessas conquistas funcionam mais na teoria, haja vista que os casos de feminicídio aumentam a cada dia em nosso país.
Nova Voz On Line - Quando ouvem ou leem comentários do tipo, “foi a mulher
que provocou o estupro”, como se sentem?
Clara
- É
uma frase que demonstra de forma muito clara o machismo estrutural da nossa
sociedade. Muito triste. É tão absurdo, que nem deveria ser necessário rebater.
Mas é. Uma mulher violada na sua sexualidade é algo vil. Justificar algo assim,
por qualquer motivo, é descer o degrau da civilização.
Fabíola - Em
pleno século XXI, ainda temos que nos deparar com comentários como esse. Hoje a
mulher desempenha uma jornada tripla: ser mulher, dona de casa e ainda
trabalhar fora. Muitas são provedoras e outras tantas contribuem igualmente
para o sustento da família com seu cônjuge. Mesmo assim, existem ainda este tipo comentários. Típico da sociedade machista em que
vivemos, onde só o homem pode ter desejos ou ser desejado. Mulheres que se
sentem sedutoras e bonitas para si mesmas são consideradas indecentes.
Revoltante!
Nova Voz On Line - A educação escolar e acadêmica, na opinião de vocês, teve (e tem) que importância na melhoria da condição social da mulher?
Clara
– A
educação é transformadora na vida de qualquer pessoa. Ela possui papel
fundamental na redução da desigualdade de gênero, mas é relevante destacar que
hoje, mesmo em número maior entre as pessoas que concluíram o Ensino Superior,
nós, mulheres, somos minorias na ocupação de cargos de gestão, em
ambientes públicos e privados. Significa ser fundamental darmos o próximo
passo, que é ocupar espaço na hora de definir.
Fabíola - A
grande conquista da mulher atual é o poder de escolha. Decidir sobre sua vida,
o que antes era reservado aos pais e maridos. E com certeza a ampliação da
formação educacional das mulheres, tem total relação com essa realidade.
Educação é transformadora da realidade social e econômica. Através da educação,
o ser humano, incluindo a mulher, pode mudar a vida. Melhor educação escolar e
acadêmica torna as mulheres capazes de formar mulheres que acreditem no seu
valor. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, inclusive liderando
empresas e outros empreendimentos, é fruto disto. Precisamos lutar também por
igualdade de salários. Como Professora, posso garantir, que só a Educação cria
uma sociedade mais livre e igualitária.
Nova Voz On Line - Homem machista é triste. Mas ver mulheres defendendo
pensamento machista causa que sensação em vocês?
Clara
– Tento
não fazer nenhum julgamento por entender que é fruto da sociedade que vivemos,
embora me cause desgosto , obviamente.
Fabíola – Acho Lamentável! Mostra que ainda não se libertou do seu
papel histórico de submissão.
Nova Voz On Line - Clara, quando nota que sua mãe é uma mulher corajosa,
guerreira, que defende posições relacionadas ao valor da dignidade humana, o
que sente?
Clara
- Sinto
muito orgulho de ter uma mãe educadora. Defender os direitos das pessoas é um
valor que ela passou para mim. Ver algo injusto e ficar calado é desempenhar
papel ativo, no que está errado. Minha mãe me ensinou esse sentimento: de não
ficar calada, quando pessoas sofrem preconceito, qualquer que seja.
Nova Voz On Line - Fabíola, quando olha a Clara, uma mulher jovem e adulta,
quais tipos de preocupação tem?
Fabíola - Mãe
sempre se preocupa. Mas o que desejo para Clara é que ela possa viver numa
sociedade mais justa e igualitária, onde homens e mulheres possam ter as mesmas
oportunidades. Menos violência e mais solidariedade. Que se coloque no mercado
de trabalho, se sentindo realizada e feliz, e que nunca perca o sentimento
de querer mudar o mundo. De não se calar, frente ao que é injusto. É isso que
nos torna Humanos.
Nova Voz On Line - O que gostariam de transmitir como recado para todas as
mulheres?
Clara
– Gostaria
de deixar registrado uma frase de Simone de Beauvoir, ativista feminista: “Nunca se esqueça de que basta uma crise
política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam
questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se
vigilante durante toda a vida”.
Fabíola - Que
a mulher acredite em seu poder! E que em nossas lutas diárias, descarreguemos
nossas energias nas lutas coletivas!! Empoderamento é a palavra de ordem!!!
Ainda temos batalhas a serem vencidas.
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