Maycon Omecias fala do Desafio de ser Caminhoneiro e enfrentar estradas e outros problemas da Profissão no Brasil

Um dos itaocarenses mais presentes nas mídias sociais, é o Caminhoneiro Maycon Omecias. Exercendo plenamente sua cidadania, faz cobranças e dá sugestões, para melhorar o município. Mas, desta vez, o bate papo que a Nova Voz Online buscou com ele, tem o foco em sua profissão. Abaixo ele nos conta os imensos desafios, de ser caminhoneiro, num país cuja malha viária é extensa e, ao mesmo tempo, abandonada pelos Governos dos Estados e da União.

Maycon Omecias com a esposa Vânia e o filho Heitor

Nova Voz Online – O que lhe fez ter paixão pela profissão de Motorista?

Maycon Omecias - Acredito que vem do sangue. A família do meu pai é do Valão do Papagaio, local de onde saíram muitos bons motoristas ao longo dos anos.

Nova Voz ONLINE – Pessoal é bom de braço?

Maycon Omecias – Muito!!! Meu pai, por exemplo, é aposentado como motorista. Foi o meu primeiro professor. Mais tarde, meu primeiro contato com o volante, de forma profissional, foi quando, junto com um amigo, em 2004, compramos uma caminhonete F4000 (ano 78) e começamos a transportar água mineral de Raposo para Itaocara.

Nova Voz ONLINE – E ai pronto, não teve mais retorno.

Maycon Omecias – Como disse: tá no sangue (risos). Passado algum tempo fui dirigir uma Van. Depois passei para o ônibus. Trabalhei na Empresa Brasil. E enfim, cheguei aos Super Pesados, na empresa Cobranorte, a partir de 2011. Fui conhecer o Brasil, dirigindo um caminhão Bi Truck, tendo trabalhado num modelo especial (Rododrem) que media 27 metros. Estabeleceu-se o orgulho e a felicidade de ser Caminhoneiro.

Nova Voz ONLINE – Você passou um tempo noutra atividade. Agora curte a volta a estrada. Não é isto?

Maycon Omecias – Rapaz, eu estava com saudade. Passei quatro anos longe. Fazendo outra função, na firma. Neste início, estou tirando a ferrugem (risos).

Nova Voz ONLINE – É cansativo?

Maycon Omecias - Dirigir caminhão exige muito da parte física. E é claro, precisa concentração. Estou sentindo como se começasse novamente.

Nova Voz ONLINE – Ver tanta coisa diferente tem que gosto?

Maycon Omecias - O Brasil é muito bonito e o caminhoneiro tem como grande privilégio poder conhecer várias cidades e aprender muito em todo o percurso. Poucas profissões forjam tão bem o ser humano, quanto o caminhoneiro.

As péssimas Rodovias

Nova Voz ONLINE- Do ponto de vista de quem dirige profissionalmente, como é andar nas estradas brasileiras, cheias de buraco, sem sinalização, sem acostamento, enfim, enfrentar tantas dificuldades?

Maycon Omecias – Sobre este aspecto, posso te afirmar que ser motorista no Brasil não é fácil. A infraestrutura das estradas, no geral, deixa muito a desejar. São vias em péssimo estado de conservação. Volta e meia, leio sobre um caminhoneiro que foi vítima de assalto. Nas melhores estradas, os pedágios são muito caros, comprometendo o ganho do caminhoneiro com seu trabalho. Faltam locais adequados para parar, principalmente nas grandes cidades. Resumindo: para ser caminhoneiro tem que estar disposto a matar um leão por dia.

Nova Voz ONLINE – E isso num país onde a maior parte do transporte é feito por estradas, pois nossa malha ferroviária é insignificante.

Maycon Omecias – Total contrassenso. Pagamos tantos impostos. O IPVA é caríssimo. É uma vergonha, os governos não fazerem sua obrigação, que é manter rodovias em boas condições de tráfego. Se tivéssemos isso, muito dos custos seriam menores, barateando boa parte dos produtos, para os consumidores.

Nova Voz ONLINE – E os gestores do transito não são punidos.

Maycon Omecias – Grande absurdo. Assim como somos exigidos pelos órgãos de transito, os governos deveriam ser exigidos em fazer a parte deles. Se estivermos errados, tomamos multas e podemos até ter o veículo aprendido. Mas os governos não cumprem suas obrigações e nada acontece com eles. Uma vergonha!

Maycon Omecias fazendo uma parada em Paracambi

Nova Voz ONLINE – Em quantas cidades já esteve?

Maycon Omecias - Uma das partes mais gostosas da minha profissão é essa: conhecer novos lugares, novas pessoas, culturas e costumes diferentes. Digo que sou um turista enquanto trabalho. Sempre tiro muitas fotos por onde passo. Gosto de perguntar sobre os costumes de cada lugar. Sobre a quantidade de cidades que já visitei, fiz uma conta rápida e cheguei ao número aproximado de 320 cidades, onde já estive ou passei a trabalho. É um bom número, mas tenho amigos que rodaram muito mais.

Nova Voz ONLINE - Muitas vezes lemos matérias sobre a carga horária dos caminhoneiros. Do quanto são forçados a cumprir horários apertados. Muitas vezes dirigindo sem descansar. Esse aspecto é o mais difícil da profissão?

Maycon Omecias - A carga horária do caminhoneiro é inacreditável. Normalmente os trabalhos na estrada começam ainda de madrugada e se estendem até tarde da noite. É comum caminhoneiros trabalharem 17 horas diretas. Sem uma correta iniciativa do Poder Público, essa realidade, dificilmente mudará. Criaram a lei do descanso, mas não fiscalizam o cumprimento. Desta forma as empresas forçam os motoristas. Sem opções, precisando trabalhar pra cuidar da família, a maioria dos caminhoneiros não tem outro caminho, a não ser ceder às pressões.

Maycon tendo ao fundo a Catedral de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, no Município de Itaguaçu (ES)

Nova Voz ONLINE - A saudade da família é outro grande obstáculo a ser vencido, quando as cargas que transporta são pra lugares distantes?

Maycon Omecias – Boa pergunta. Quando comecei a viajar eu não ligava muito. Era um jovem solteiro, estava só curtindo. Às vezes minha mãe me ligava e dizia: "Maycon já tem um mês que viajou, não esqueça que tem família menino”. Aí eu voltava (risos). Porém agora sou casado, tenho esposa e filho pequeno. Morro de saudades deles, antes até de chegar o fim do dia. Não consigo me imaginar ficando uma semana fora de casa. Sei que se houver necessidade, tenho responsabilidade de chefe de família e vou ficar, Mas sem dúvidas, estarei louco de saudade da família. E essa saudade é o que mais dói em muitos caminhoneiros que precisam estar longe de casa.

Nova Voz ONLINE - Você dirigiu ônibus também. É muito diferente a vida do motorista de ônibus para o motorista de caminhão?

Maycon Omecias – É bem diferente. Ambos têm prós e contras. No ônibus você trabalha sempre limpinho. No caminhão isso nem sempre é possível. No caminhão você tem a liberdade de escolher o trajeto. No ônibus você sempre tem o trajeto obrigatório a cumprir. Eu gosto de trabalhar com os dois. Tanto que está nos meus planos passar novo período trabalhando com ônibus.

Nova Voz ONLINE – A relação com os passageiros é tranquila?

Maycon Omecias – Quase sempre sim. Mas é preciso ter sabedoria, pois pode tornar-se uma dificuldade. Fundamental ter compreensão e paciência, pois vai acontecer de (na mesma viagem) um passageiro reclamar que você está correndo muito e o outro vai dizer que você está devagar demais. Um reclamando que o ar condicionado está gelado demais e o outro dizendo que está calor. Então, o que fazer? Fundamental ter jogo de cintura e bom humor, para agradar ambos. Não é fácil, mas dá pra fazer.

Nova Voz ONLINE – Por que temos tantos acidentes anualmente nas rodovias do Brasil? Qual conjunção de fatores leva a isso?

Maycon Omecias – Os acidentes são o grande risco da vida na estrada. Eu penso que as péssimas condições de nossas estradas tem grande parcela de culpa, mas ainda vejo na imprudência dos motoristas, o grande problema. Muita correria, o uso de drogas, noites sem dormir, excesso de peso nos veículos, são práticas comuns na estrada. Mais uma vez: o Estado tem culpa, culpa por não fiscalizar como deveria.

Nova Voz ONLINE – Muita gente gosta dos seus posts, fazendo cobranças para melhorias no município de Itaocara. O fato de dirigir, de ver várias cidades, ajuda a ter boas ideias e projetos que possam ajudar no desenvolvimento do Município?

Maycon Omecias – Com certeza! Costumo dizer que boas ideias nem sempre precisam ser as nossas. Às vezes copiar algo que deu certo em outro lugar, aumenta as chances de sucesso. Baseado nisso, sempre que vejo uma obra ou realização, nas cidades por onde passo, gosto de pegar informações, fotografar e às vezes registro em vídeo. Anoto alguns dados. O modelo de uma praça bonita, de uma estação de tratamento de esgotos, até unidades de saúde. Como exemplo o Estádio da Cidadania em Volta Redonda. A Prefeitura construiu um Estádio que não é só um Estádio. Em praticamente toda a sua extensão, embaixo das arquibancadas, funcionam clínicas médicas das mais diversas especialidades. É uma maneira fantástica de aproveitar algo, que teoricamente ficaria sem uso na maior parte do tempo.

Nova Voz ONLINE – Fique à vontade pra deixar uma mensagem aos leitores.

Maycon Omecias – Desejo só agradecer a Nova Voz On Line pela oportunidade dessa conversa, para falar de uma parte da minha vida que amo, que é minha profissão. Ser caminhoneiro proporciona um conhecimento sobre a vida real, que pouquíssimas profissões propiciam. Agradeço a minha esposa pela paciência e compressão, porque a mulher do caminhoneiro termina tendo que enfrentar muita coisa sozinha, pois o marido está na estrada, trabalhando para o sustento da casa. A Nova Voz On Line publicou uma série de matérias sobre mulheres maravilhosas, neste mês de março. Faltou a minha esposa. Ainda está em tempo, pois ela é Super Maravilhosa. Vai contar como é ser casada com caminhoneiro. No mais agradecer a DEUS e meus familiares. Muito obrigado!