Walter Gualberto – o nosso amigo Waltinho – é, sem dúvida, uma daquelas pessoas privilegiadas, dotadas de inteligência e sensibilidade muito acima da média. À frente da Subsecretaria de Planejamento, ele realiza um trabalho de excelência, sempre pautado pela dedicação e pela visão estratégica. Em uma conversa sobre o aniversário de Itaocara, Waltinho destacou sua crença de que somente a união de esforços entre o poder público e a sociedade poderá transformar nossa história e nossas belezas naturais em verdadeiros motores de desenvolvimento e inclusão social.
Neste mês de outubro, Itaocara completa 135 anos. Se pudesse dar um presente à nossa cidade, o que seria?
Walter Gualberto - Itaocara nasceu de um sonho. O sonho de um chefe do povo Coroado, que desejava um refúgio distante das dores e inquietações que cresciam nos primeiros núcleos populacionais. Um lugar onde a vida pudesse correr mansa, entre o canto dos pássaros e a brisa dos rios. Um lar de paz, onde o homem e a natureza caminhassem lado a lado.
Mais de duzentos e vinte anos se passaram desde o primeiro encontro entre o Coroado e Frei Thomás, e o sonho ainda vive. Segue sendo construído, dia após dia, nas mãos e nos corações de quem acredita nesta antiga Aldeia da Pedra.
Se eu pudesse oferecer um presente a Itaocara, seria o de aproximá-la cada vez mais desse ideal: uma cidade que reencontre sua tranquilidade, que supere seus desafios e que mantenha aceso o desejo do antigo chefe - o de um povo em paz, vivendo em harmonia com sua terra.
O que mais encanta você em Itaocara?
Walter Gualberto - O meu encanto por Itaocara se personifica em suas belezas naturais, sobretudo nas que se entrelaçam ao Rio Paraíba do Sul.
Ali, junto ao velho Paraíba, o tempo parece desacelerar. A gente respira fundo, encontra paz e vê a vida fluir como ela deveria: leve, tranquila, em sintonia com o que Deus nos deu de mais puro.
Creio que a nossa Beira-Rio seja o resquício vivo da “terra sem males” sonhada pelo antigo chefe Coroado e, talvez sem perceber, ao contemplarmos suas águas e paisagens, estejamos validando aquele velho sonho.
Mas também me encanto com a história desse lugar. Uma história adormecida, esquecida em gavetas, em antigos livros e memórias.
Quando nos permitimos abrir essas páginas e descobrir um pouco mais, o sentimento de pertencimento torna-se ainda mais forte. Porque Itaocara não é só natureza; é cultura, é raiz, é herança.
É uma cidade que carrega, em silêncio, uma riqueza imensa: pessoas que se doaram, moldaram caminhos e passos que nos trouxeram até aqui. Essa história adormece, esperando ser lembrada, vivida e contada outra vez
Você tem alguma lembrança marcante vivida em Itaocara que gostaria de compartilhar com nossos leitores?
Walter Gualberto - Tenho várias lembranças marcantes, mas uma carrego com muito carinho. Aconteceu em 2009, quando a Escola de Samba Unidos de Última Hora foi convidada a desfilar no Carnaval Vivo.
Lembro que foi um grande desafio: recursos eram poucos, o deslocamento das alegorias até a sede do município era difícil e demorado, mas a dedicação do povo de Laranjais era imensa. Cada esforço, cada detalhe, cada incentivo era essencial, pois a vontade de nos superarmos pulsava em nossas veias naquele calor de fevereiro que antecedia o grande dia.
E então, quando a escola entrou na avenida e o público reagiu, percebi que toda a nossa luta tinha valido a pena. Um pequeno distrito como o nosso podia, sim, se sentir parte da grande festa da cidade.
Ali, naquele momento, percebi de fato que o poder da união, da alegria compartilhada e do pertencimento nos move ao encontro da realização do que sonhamos. E foi isso que mais me encantou: contribuir para que Itaocara se tornasse ainda mais viva, feliz e unida naqueles dias de Momo.
É uma lembrança tão forte que quase posso tocá-la…
Em sua opinião, o que ainda falta para que Itaocara seja uma cidade ainda melhor para todos?
Walter Gualberto - O desejo de uma terra ideal para todos nos trouxe até aqui. O velho Coroado sonhou, e seu sonho vive em cada coração itaocarense, pulsando em nossa história, em nossa gente, em cada gesto de cuidado e amor por esta terra.
Penso que o que falta para que nossa “Princesinha do Paraíba” se torne ainda melhor é que a gente acredite no nosso próprio potencial, seja ele humano, histórico, cultural, turístico…
Somos filhos fortes de uma grande nação indígena, herdeiros de coragem, sabedoria e identidade.
Vivemos muita nostalgia dos velhos tempos, lembrando como era bom, como era especial… E isso é lindo, sinal de que temos exemplos passados para nos guiar. Mas, se olharmos para o futuro, perceberemos que podemos construir algo ainda maior, algo que ultrapasse nossas memórias e transforme sonhos em realidade.
Falta acreditar que, juntos, somos capazes de alcançar qualquer sonho. Falta nos sentirmos pertencentes e protagonistas da nossa própria história, reconhecendo que cada ação, cada gesto, cada olhar de cuidado constrói uma cidade mais forte, mais justa, mais viva.
Afinal, nosso próprio hino diz que nosso progresso passa pelo nosso engajamento e união. Quando acreditarmos nisso, Itaocara florescerá, não apenas nos números, mas no coração de cada pessoa que ama esta terra.
Que mensagem deixa aos nossos leitores na ocasião dos 135 anos?
Walter Gualberto - Hoje comemoramos os 135 anos de emancipação de Itaocara, uma cidade que, ao longo do tempo, escreveu sua história através de conquistas, lutas e sonhos que se tornaram realidade.
Itaocara não é apenas um ponto no mapa deste imenso Brasil , é uma “aldeia” multifacetada, lar de gente simples, guerreira, trabalhadora e que nutre um amor incondicional pela terra onde nasceu.
Aqui, cada rua, cada praça guarda uma lembrança, cada olhar revela um carinho e cada amanhecer é um convite para recomeçar com fé e esperança.
Esta cidade foi construída por mãos firmes e corações generosos, por nomes que a história registrou e por tantos outros que, no anonimato, deixaram sua marca e contribuíram para que chegássemos até este dia de celebração.
Parabéns, Itaocara!
Que o nosso futuro continue sendo guiado pelo mesmo brilho de quem acreditou que aqui podia nascer um lugar melhor para viver, sonhar e ser feliz!
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