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domingo, 14 de julho de 2019

NOITE DE SÃO JOÃO - Conto Lançado pela escritora Valéria Leão, ontem a noite, na Festa Literária Internacional de Paraty

Abaixo texto escrito pela escritora Itaocarense, com coração Aperibeense, Valéria Leão, apresentado na noite do sábado, dia 13 de Julho, na Feira Literária Internacional de Paraty - FLIP - principal evento brasileiro do gênero.
Valéria apresentou  A Noite de São João na FLIP
Naquela noite fria de cerração abaixo do olhar, em um arraial perdido no meio do nada, a jovem zeladora da pequena e singela capela rural de São João da Serra estava concentrada em executar bem suas tarefas para o bom andamento da quermesse que acontecia na pequena localidade.

Tudo corria bem. As beatas rezavam, as crianças brincavam de roda, moças e rapazes trocavam olhares sob a vigilância severa de seus pais; os homens se distraiam nas barraquinhas de jogos, entre um e outro trago para esquentar o corpo e a alma.

O tempo foi passando naquela velocidade acelerada típica dos momentos de lazer. No adiantado das horas daquela noite fria, quando a festa já se encaminhava para o seu final, o inesperado acontece, levantando a poeira da estrada de terra batida, em seu jeep, acompanhado por alguns amigos, eis que chega o belo rapaz.

Não era tão jovem quanto a bela morena de longos cabelos negros, mas esbanjava auto confiança e tinha o charme dos grandes sedutores. A fama que o precedia era de ser um homem de bom coração, mas, também, a de ser um conquistador dos corações das mulheres indefesas.

A bela morena e o recém chegado trocaram o primeiro olhar. Ninguém poderia prever, naquele momento, que o amor iria fazer morada naqueles corações.

Eram outros os tempos. O divórcio não era permitido no país e a sociedade não via com sentimentos de generosidade e aprovação os relacionamentos entre pessoas solteiras e seus pares que já haviam sido casados anteriormente.

A diferença de idade entre ambos era, também, um fator desfavorável ao novo casal que surgia sob as bênçãos de São João.

Mesmo diante de tantos obstáculos, ela enfrentou a oposição de sua família, a resistência inicial da família do seu amado, os preconceitos e as maledicências da época e, com o coração transbordando de amor e coragem, seguiu o seu destino.

O tempo se encarregou de acomodar lentamente as relações familiares. O nascimento da primeira filha não foi o bastante para apaziguar os ânimos; o novo casal precisaria ainda vencer muitas provas.

Aquele homem sedutor não era o mais fiel dos parceiros, mas, paradoxalmente, era um companheiro de primeira grandeza.

A bela morena dos longos cabelos negros precisou de muita fé, persistência e de um amor infinito para superar tantas dificuldades.

Os anos se passaram. Vieram outros filhos. A vida seguiu seu rumo. E, de repente, a velhice chegou trazendo com ela todas as fragilidades humanas.

Cinqüenta anos se passaram, era hora de dizer adeus. Ele partiu para o descanso eterno e ela, de coração partido lhe disse " até um dia na eternidade".

Nos últimos anos, as noites de São João trazem com elas, além de muita saudade, as lembranças de um amor que resistiu ao tempo e deixou como fruto, uma família unida e consciente de que a vida nos é dada para vencermos os obstáculos em defesa dos nossos sonhos e projetos.

Eles poderiam se chamar Maria e José, poderiam ser os pais de muitos de nós. Essa linda história de amor é real, sou um dos frutos gerados por ela.
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