Professora Laurinda Ferreira: Um Exemplo de Mulher Corajosa

O poeta americano Walt Whitman escreveu o famoso verso: “eu sou o capitão do meu navio; o senhor do meu destino”. Estas palavras inspiram gerações de pessoas pelo mundo. A entrevistada abaixo, professora Laurinda Ferreira, é este tipo de ser humano. Se enquanto dorme, sonha. Quando acorda, realiza os sonhos. Leia a história desta itaocarense, da zona rural, que com grande coragem um dia se viu vivendo em Clayton, cidade próxima a San Francisco, no Estado Americano da Califórnia.

A Professora Laurinda Ferreira sorrindo na cidade de San Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos da América

Nova Voz ONLINE – Pode nos contar sobre sua história com a língua inglesa?

Professora Laurinda - Inicialmente aprendi inglês sozinha. Vivi aqueles tempos sem energia elétrica, e minha família não dispunha de recursos de comunicação, como a televisão. Mas tínhamos um pequeno toca-fitas, e foi nele que eu tive meu primeiro contato com a língua, pois gravava fitas-cassete com músicas internacionais, para ouvir. As letras eram enviadas por carta, por um primo de Friburgo, Felipe Ferreira, para que pudesse traduzi-las. Estudei a vida inteira sozinha.

Nova Voz ONLINE – Você estudou nos Estados Unidos?

Professora Laurinda - Anos mais tarde comecei a lecionar, mas não tinha nenhum curso. O primeiro curso foi em São Francisco, no Estado da Califórnia, Estados Unidos. Fui para a escola Kaplan, em Montgomery, no centro de São Francisco, uma das melhores escolas privadas de inglês do mundo. Lá, conquistei a fluência e aprendi o inglês real, falado por americanos nativos.

Nova Voz ONLINE – Como foi sua primeira viagem para fora do Brasil?

Professora Laurinda - Minha primeira viagem para fora do Brasil foi para Portugal, em 2007. O objetivo era conhecer a terra do meu avô. Mas a viagem mais importante da minha vida foi em 2011, quando decidi estudar fora do país. Fiz meu primeiro intercâmbio em São Francisco. Morei na casa de americanos, para melhorar meu inglês. A partir daí, nunca mais parei de viajar. Minha vida ficou, para sempre, dividida entre o Brasil e os Estados Unidos. Como diz aquela música: “I left my heart in San Francisco...” = “Eu deixei meu coração em São Francisco”.

Nova Voz ONLINE - O fato de ser mulher tornou seus desafios mais difíceis?

Professora Laurinda - Não posso negar que os obstáculos foram muitos. E sendo mulher, fiquei um pouco mais vulnerável em terras estrangeiras. Um dos meus irmãos teve medo da minha saída sozinha do Rio de Janeiro, em um voo para Atlanta, nos Estados Unidos. Chegou a me dizer: “Cuidado com sequestro, alguém se aproximar bem vestido, e oferecer ajuda, e depois, como, nos filmes, te sequestrar, e a gente nunca mais te ver”. Eu, além de ser mulher, sendo uma pessoa que vivi a vida inteira na zona rural, de repente, me vi com um mundo gigantesco a minha frente. Isso foi assustador. Mas eu enfrentei e superei cada desafio.

Laurinda em Itaocara no Forever, seu curso de Inglês

Nova Voz ONLINE – Em relação à questão do preconceito contra as mulheres, acha que há mais dificuldades no Brasil, ou nos Estados Unidos?

Professora Laurinda Ferreira - Acredito que haja mais dificuldades no Brasil. Ainda vemos o preconceito contra as mulheres em setores de trabalho, e, principalmente, quando se trata de preconceito racial. Infelizmente, nossa sociedade precisa evoluir muito no que diz respeito à igualdade de valores, de gêneros e direitos.

Nova Voz ONLINE – Na América é diferente?

Professora Laurinda Ferreira - Nos Estados Unidos, no que tange ao mercado de trabalho, eu vi muitas mulheres ocupando cargos que aqui no Brasil, são em sua maioria, ocupados por homens. Um exemplo seria as mulheres conduzindo grandes caminhões e ônibus, naquelas pistas enormes, típicas das grandes rodovias americanas. Aqui é muito comum ver mulheres executando tarefas, no Brasil, associadas aos homens.

Nova Voz ONLINE – O aumento do número das mulheres nas universidades, nas últimas décadas, buscando se graduar, em nível superior, é um dos fatores que mais contribuem, para uma sociedade mais equilibrada, entre os direitos dos homens e das mulheres?

Professora Laurinda Ferreira - Sempre digo que a educação é o caminho para que uma sociedade se desenvolva, de forma justa e equilibrada. O acesso à educação superior tem contribuído para a ascensão das mulheres, em todos os sentidos, principalmente, em sua participação ativa no mercado de trabalho. Também na educação da família.

Nova Voz ONLINE – Falando como professora, em relação aos sonhos, há muita diferença entre os alunos homens e mulheres?

Professora Laurinda Ferreira - Não vejo diferença. Ambos os gêneros estão em busca de oportunidades para posições melhores no mercado de trabalho, e mais independência.

Nova Voz ONLINE – Educar. Transmitir suas experiências e conhecimento, aos alunos é algo que lhe faz feliz?

Professora Laurinda - Posso dizer que sou uma pessoa muito feliz. Realizada em minha profissão, como professora. Em um país como o Brasil, com sede de educação, e carecendo dela (ao mesmo tempo), nada me faz tão disposta a trabalhar, do que imaginar que os professores são os verdadeiros construtores de uma nova e melhor nação. A cada vez que fico fora do país, volto com vontade ainda maior de retransmitir tudo o que tenho aprendido, para que meus alunos tenham acesso à informação e saibam que é possível um país melhor, mais justo e com educação de qualidade. Isso existe lá fora. Pode existir no Brasil.

Em 2018, o Curso Forever levou ao Colégio SEI, o funcionário da Delta Air Lines, Mahid Shakib, que trabalha no Aeroporto de Atlanta (EUA), para um magnífico encontro com os alunos

Nova Voz ONLINE – Num mundo cada vez menor, quando estamos engatinhando na criação de uma sociedade global, falando como mulher, quais são os principais desafios que vê pela frente?

Professora Laurinda Ferreira - A mulher possui muitas responsabilidades, que lhe são atribuídas, desde que se torna um ser participativo, na casa e na sociedade. Cuidar do lar, dos filhos, de si mesma, do relacionamento com o marido e trabalhar fora. São atividades diárias de quase todas nós. Portanto, manter uma vida equilibrada, de maneira saudável, diante de tantos afazeres, torna-se um verdadeiro desafio.

Nova Voz ONLINE – Baseado na sua experiência, que mensagem deixa para as leitoras, em relação ao Dia Internacional das Mulheres?

Professora Laurinda Ferreira - Ser mulher exige resistência: às vezes, pensamos em desistir de algo que queremos, por haver tantos obstáculos. Mas a vida é feita de superações e conquistas. No meio de cada conquista, sempre há decepções, problemas, até mesmo sofrimento. Mas é necessário enfrentar e passar por todos esses obstáculos. Seja forte e enfrente seus problemas. O seu pior adversário é você mesma. Você é a única pessoa que poderá mudar sua vida e conduzir a si mesma à vitória. Então, a superação exige paciência, resistência, força de espírito e persistência. Não se deixe abater por pequenos insucessos e frustrações, pois para quem luta com garras de águia, a vitória é certa. Acredite, tenha fé em Deus e tudo dará certo.