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sábado, 23 de maio de 2020

Neste domingo completam nove anos sem Ataíde Faria Leite, de cadeira vazia e corações e mentes repletos de saudade, amor e gratidão

CADEIRA VAZIA

"O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação é a vida."
O Primeiro Prefeito de Aperibé, Ataíde Faria Leite, encontrando com o Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, num tempo que o Brasil possuía grandes lideranças
Em uma triste manhã, de maio nos sentamos pela primeira vez para o café da manhã naquela mesa que acabara de ficar com uma cadeira vazia.

Éramos eu, meu marido e minha mãe. Meus irmãos, em suas casas, com suas famílias, também, estariam começando aquele dia com o coração enlutado.

Minha mãe, fragilizada e, por certo, triste, pensando em todo o vazio da solidão que estava por vir, delicadamente, puxou a cadeira da cabeceira da mesa e me disse: " agora essa cadeira é sua, você passa a ser a chefe dessa família".
O retrato dos meus pais sempre enche nossos corações de emoções e saudades de outros tempos muito melhores para ser vividos
Tentando demonstrar uma força que eu estava longe de sentir, recusei a oferta com toda a delicadeza que me foi possível, e, a conduzi para a cadeira que, nas últimas décadas, tinha sido ocupada pelo meu recém falecido pai.

Durante toda a minha vida, a figura de meu pai sentado à cabeceira da mesa, fosse nas horas das refeições ou em algum raro momento em que ele sentasse para dois dedos de prosa, era, para mim, a mais pura tradução de segurança.

Mesmo quando ele ficava calado, imerso nos seus pensamentos, a sua presença falava por si só. Era a figura da autoridade, do patriarca, daquele que inspirava respeito.

Homem simples, sem muito estudo ou cultura, mas de uma sabedoria de fazer inveja a muitos doutores que andam por aí. Sabia se impor.

Alto, magro e bonito, e, como era bonito! Não era pela sua aparência física que impunha respeito. Seu olhar sereno, mesmo quando ficava bravo; sua voz rouca, ora baixa, ora alta, a depender da ocasião, se fazia ser ouvida. Era um líder, em toda a extensão da palavra.
Junto ao meu pai Ataíde Faria Leite, no dia do meu casamento
Aquela cadeira, muito além de um simples assento, era um símbolo. Ali, se sentava um chefe família; da nossa família, a quem todos respeitavam. Sua palavra era a lei, mesmo que não concordássemos com ela. Assim era naqueles dias.

A figura de meu pai sentado à cabeceira da mesa, nas refeições familiares, será para sempre a referência de um tempo que não voltará mais. Será sempre uma das minhas melhores lembranças da vida em família. Mas, a vida segue seu rumo, o mundo muda, a sociedade muda, mudamos nós.

Aquela cadeira estará vazia para todo o sempre. Ninguém, jamais, a ocupará com tamanha altivez. Porém, no meu coração transbordando de saudade, ele estará sempre lá, me ensinando que "o relógio fica no braço esquerdo", entre tantas outras coisas mais.

Procuro não sofrer com o silêncio da casa vazia. Na minha memória, ela estará sempre repleta de amor e gratidão por todos os anos de convivência familiar.
Meu pai imortalizado numa tela do artista Pádua Bastos
Nove anos após a sua partida, em um período, especialmente, difícil para a humanidade, é um conforto ter todas as lembranças de um tempo em que tudo era mais simples e o mundo um lugar mais seguro para se viver.

Ataide Faria Leite, meu pai, partiu para a eternidade na madrugada do dia 24 de maio de 2011, deixando em nós uma saudade imensa, um enorme orgulho e muita gratidão por podermos dizer : era nosso pai.

Saudades eternas de seus filhos e de sua companheira de cinquenta anos de vida, Nely Souza Leão.

Texto: VALÉRIA FARIA LEÃO, Professora, Advogada, Escritora e Poetisa - Membro da Manada dos Inquietos.
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2 comentários:

  1. Fui mais amigo dele quando ele não tinha mais poder e seus principais beneficiados o abandonaram. Esta foto, registra ele recebendo R$ 500 mil entregues por Brizola, que foi o Governador que SANCIONAOU A LEI Nº 1985, DE 10 DE ABRIL DE 1992, quando eu era Chefe de Gabinete do Deputado Joaquim Tavares (Vaca Brava), que ajudou para que outros deputados votassem pela Emancipação... Valéria estava na ALERJ também...Prefeito que entrou e saiu da Prefeitura de mãos vazias....

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Carlinhos Barrias - Bar dos Amigos

 


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