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segunda-feira, 30 de março de 2020

A história de uma Grande Mulher: Maria Fátima Rosalino Gomes

O estilo discreto dessa grande itaocarense, com a qual continuamos a série em homenagem ao mês de Março, Mês da Mulher, muitas vezes não nos deixa perceber quão guerreira ela sempre foi. Criada numa época bem diferente da atual. Na Zona Rural. Maria Fátima Rosalino Gomes, ao longo dos anos, foi vivendo de forma digna, construindo ao lado do marido, o Farmacêutico Waltair Sias Gomes, uma família exemplar, sob os princípios de solidariedade, religiosidade e respeito ao próximo. Magnífico relato para os nossos leitores.
Fátima ao lado do marido Waltair e dos filhos Tiago e Vanessa
Nova Voz ONLINE – Quando pensa no seu tempo de vida, passando pela infância, adolescência e início da vida adulta, quais foram as principais transformações, no que diz respeito às relações entre homens e mulheres?
Professora Maria Fátima – De fato, ocorreram algumas transformações. Quando criança, sobretudo, chamava-me a atenção o fato de os pais não permitirem que meninas saíssem de casa para estudar. Havia a preocupação de que elas ficassem “mal faladas”, ou corriam risco de “se perderem”, como diziam na época. Como se a mulher não fosse dotada de inteligência, fosse incapaz de agir dignamente por si mesma. Aliás, as meninas eram educadas para serem dependentes dos pais, ou, bem cedo, de um marido. Felizmente não vivi tal situação, pois tive uma grande mulher como mãe, a Dona Guiomar, que sempre atuou ao lado do meu pai para que eu pudesse realizar o meu sonho.

Nova Voz ONLINE – Muito diferente dos dias atuais!
Professora Maria Fátima - Outra realidade foi a mulher deixar de ser apenas “do lar”, passando a trabalhar também fora de casa. A princípio, exercendo funções que exigiam menor conhecimento, ou funções relacionadas a seus dons maternais (ouvia-se muito: “isso não é para mulher”).

Nova Voz ONLINE - O que mais destacaria?
Professora Maria Fátima - Uma novidade foi a inclusão de cotas na legislação eleitoral, obrigando partidos políticos a inscreverem 20% de mulheres em suas chapas proporcionais (Lei 9.100/95) com o objetivo de aumentar a participação política da mulher na sociedade. Hoje vemos a mulher, tão qualificada quanto o homem, inserida no mercado de trabalho, no cenário político, tendo o direito de estar onde quiser, podendo manter-se  dignamente. Embora, ainda, nem todas as condições lhe sejam favoráveis.

Nova Voz ONLINE – O que mais lhe chamou atenção?
Professora Maria Fátima - No DIA Internacional das Mulheres deste ano, deparei-me com esta manchete: “As mulheres ganham espaço, mas comprometem a saúde” (O Globo - pág 34 de domingo, 08-03-2020). A notícia dizia: “Segundo o diretor médico da Med-Rio Check-Up, Gilberto Ururahy, há três décadas, quando a clínica foi inaugurada, 40% das mulheres apresentavam sinais de estresse. Hoje são 67%. Tal aumento é atribuído à tripla jornada. Segundo ele, as mulheres trabalham, em média, até sete horas a mais do que os homens e ainda cuidam da casa e estudam. O estilo de vida leva ao estresse que afeta o sistema imunológico”. Constata-se então, que na maioria dos casos a conquista veio acompanhada do aumento de funções, já que a divisão das tarefas domésticas não é uma regra adotada em todas as famílias, mesmo que já tenha melhorado consideravelmente.

O Aumento da Escolaridade das Mulheres

Nova Voz ONLINE - Tenho repetido essa pergunta, por achar relevante. Em sua opinião de professora, quão importante foi, para todas as mudanças que vimos nas últimas quatro ou cinco décadas, o aumento da escolaridade das mulheres?
Professora Maria Fátima - Foi fundamental, pois conhecimento é poder. Sem conhecimento não chegaríamos onde estamos. Minha mãe contava-me que sua avó paterna, ao ver a evolução das netas dizia: “infeliz é o pai que deixa a filha aprender a ler”.
No ano 2000 a concretização do sonho da formatura em Letras
Nova Voz ONLINE – Nossa!
Professora Maria Fátima Rosalino Gomes - Paradoxalmente a isso, ela teve o privilégio de contar com tias (por parte de mãe) que eram professoras, e que cuidavam para que não lhe faltasse uma boa cultura. O aumento da escolaridade não só é o caminho para a mulher conhecer os seus direitos, e ocupar maior espaço na sociedade, como também lhe oportuniza concorrência menos desigual na busca por uma profissão. As grandes transformações só foram e serão possíveis através da educação.

Nova Voz ONLINE – Li que tão importante quanto as grandes lutas do movimento feminista durante o século passado, foi a revolução silenciosa dos lares. Quando as mães, foram dando aos seus filhos, fossem eles homens ou mulheres, uma educação para que se respeitassem mutuamente, sem achar que um fosse superior ao outro, por questão de gênero. Concorda com isso?
Professora Maria Fátima - Não tenho dúvida: a semente para que tudo acontecesse foi lançada nos lares. Mesmo após o auge do movimento feminista, coube, ou cabe a nós, mães, educar nossos filhos ou filhas, para a conquista de uma sociedade em que a convivência seja harmoniosa. Não apenas entre os diferentes gêneros, mas entre raças, povos e nações. Leis só cumprem o seu objetivo se houver mudança nos valores, o que se obtém quando a família participa ativamente na educação dos meninos e das meninas, de modo a promover o respeito mútuo e a igualdade de direitos e deveres.
Como o Pai Osvaldo Rosalino e a Mãe Guiomar
Nova Voz ONLINE – Quando faz essa afirmação, no que está pensando?
Professora Maria Fátima – O exemplo são as Leis que só têm eficácia, havendo mudança na cultura da sociedade. Cito a que inclui cotas para mulheres na legislação eleitoral. Mesmo após duas décadas, o espaço político ocupado pelas mulheres continua muito pequeno, quando comparado aos homens.

Nova Voz ONLINE – E claro, não poderia ser outra a pergunta agora: na educação dos seus filhos, Tiago e Vanessa, buscou ensinar-lhes a se respeitarem e a respeitarem aos outros, de forma igual, independente se com quem se relacionassem, fossem homens ou mulheres?
Professora Maria Fátima Rosalino Gomes – Na educação dos meus filhos preocupei-me em cultivar valores como honestidade, ética, amor e respeito ao próximo (sem importar o credo, o gênero, a cor da pele ou a condição social desse próximo). Como acredito que a melhor forma de educar é através do exemplo, procurei viver de modo a ser um bom exemplo para eles.

A Importância da formação religiosa
no exercício da Liberdade

Nova Voz ONLINE – Ser livre, poder fazer o que quiser, não equivale a fazer qualquer coisa. Concorda com essa assertiva? Ou seja, as mulheres (e os homens) precisam desenvolver o senso de entendimento de que é necessário ter sabedoria no desfrute da liberdade, pois se não a existência dos indivíduos torna-os egoístas, sem se preocupar ou respeitar o próximo, inclusive seus familiares. Concorda?
Professora Maria Fátima – Infelizmente muitos entendem que liberdade é fazer o que quiser. Este é um pensamento egoísta, que não condiz com a vida em sociedade, pois tal condição impõe limites. Sabemos que em algumas situações, enquanto se faz o que bem quer, pode-se estar impondo consequências terríveis ao próximo.

Nova Voz ONLINE – Como exercer com sabedoria a liberdade?
Professora Maria Fátima – É imprescindível estarmos atentos, especialmente em família, onde a intimidade pressupõe maior liberdade. Tenhamos sempre em mente que a nossa liberdade tem que ser vivida com responsabilidade. Pensando no relacionamento entre homem e mulher, certamente, quando houver mais respeito aos limites do próximo, os índices de violência doméstica e feminicídio serão bem menores. Essa abordagem é bastante adequada, especialmente nestes dias, em que o mundo convive com a Covid-19. É hora de agirmos com responsabilidade, de sermos solidários (sempre nos colocando no lugar do nosso irmão) e seguirmos as orientações das autoridades competentes, com o objetivo de amenizar este mal que avança por todo o mundo.

Nova Voz ONLINE – Neste ponto, da busca do equilíbrio, para ter qualidade de vida, qual é o papel da religião? Ela ajuda a entender que ‘existem mais coisas entre o céu e a Terra, do que sonha nossa vã filosofia’, como diz Shakespeare na peça Hamlet?
Professora Maria Fátima – A religião é fundamental em nossa jornada. É pela religião que vivenciamos a fé, que nos fortalece nas dores e nos momentos de dificuldades; tornando-nos capazes de lutar, sem muito nos abater, na esperança da vitória. O amor ao próximo, a paciência, a tolerância, são valores que a religiosidade faz crescer dentro de nós, e são estes valores que nos ajudam, a não apenas suportar, mas também a sermos compreensivos perante as diferenças alheias, possibilitando uma melhor convivência em sociedade na busca da paz e da justiça.

Nova Voz ONLINE – A senhora tem uma importante formação religiosa, não é mesmo?
Professora Maria Fátima – Sim. É na vivência cristã, que encontramos a coragem, a força, e a moderação tão necessárias no enfrentamento desta pandemia que a todos assusta e preocupa. A fé em Deus ajuda-nos a agir com prudência, conforta-nos no isolamento social necessário neste momento e livra-nos do desespero. Sejamos perseverantes na oração! Li esta frase e guardei em minha memória: “Os valores cristãos são um farol seguro, pois trazem a marca do próprio Jesus Cristo.
Ao lado do marido e companheiro da vida, Waltair Sias Gomes
Nova Voz ONLINE - Você foi professora durante sua vida profissional, é esposa de um grande itaocarense, Waltair Sias Gomes. É uma mãe que educou dois filhos exemplares, o Thiago e a Vanessa, um médico e outra advogada. Pessoa fabulosa. Uma vida de realizações?
Professora Maria Fátima – Certamente! Você disse “esposa do Waltair”. Meu marido é uma grande bênção em minha vida. Ser humano precioso. Alguém que admiro e com quem tenho o prazer de conviver diariamente, há 43 anos. Meus filhos são a concretização de um grande amor, sob as bênçãos da Sagrada Família. Ser professora devo ao empenho da minha mãe e do meu pai, pois morávamos em um sítio, numa época em que pequenas distâncias, tornavam-se grandes, devido à ausência de meios de transporte.

Nova Voz ONLINE – Estudar era um desafio, não é mesmo?
Professora Maria Fátima – Nos primeiros quatro anos pude estudar numa pequena escola próxima a nossa casa, onde havia carência de professor, exatamente pelo difícil acesso. Para amenizar o problema meus pais abrigavam professoras em nossa casa.
E foi assim que fui preparada (em casa), por uma grande professora, para prestar o Exame de Admissão ao Ginásio. Obtive ótimo resultado, e segui estudando, até concretizar o meu sonho de menina. Olhando para trás vejo que valeu a pena, pois acredito que durante o tempo em que estive no exercício do Magistério (o que fiz com amor e muita dedicação) despertei alguns sonhos e contribuí para a realização de tantos outros já existentes.

Nova Voz ONLINE - O que gostaria de deixar de mensagem, para as mulheres que lerem nosso bate papo?
Professora Maria Fátima – Parabéns por tudo de melhor que representam! Que Deus nos abençoe e nos dê a sabedoria para que enfrentemos as dificuldades, guardando a graça, a sensibilidade, a alegria, a coragem, a determinação, e, especialmente, para que sempre guardemos a dignidade de ser MULHER!
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1 comentários:

  1. Parabéns Fátima! Vc verdadeiramente é um exemplo de mulher! 🌹 Feliz dia! 🌹 🌷

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