Oito de março é
o dia internacionalmente dedicado às mulheres. Porém, dizer isso é pouco, uma
vez que não se trata propriamente de um dia de comemoração, mas sim de luta. A
origem dessa data remonta ao início do século XX, quando mulheres se uniam em
diversos países do mundo na luta por melhores condições de trabalho.
Gabriela com o pai Fernando, a irmã Ingrid e a Mãe Juliane |
Dizer que a data é comemorativa seria
reduzir sua importância histórica na luta das mulheres, as quais, ainda hoje –
mais de 100 anos depois –, disputam pautas tão semelhantes às que foram
trazidas à tona no passado.
Ainda precisamos falar acerca da
desigualdade salarial e da sobrecarga de funções imposta às mulheres, que acabam
por administrar família e trabalho. Ainda precisamos falar sobre questões
elementares como o corpo da mulher pertencer somente a ela e a mais ninguém.
Historicamente a sociedade tratou
mulheres como coisa que pertencia sempre a um homem. Primeiro a seu pai e
depois a seu marido. Nunca humana e nunca pertencente a si mesma. Ela tinha uma
função socialmente imposta de devotamento à família, no cuidado do marido e dos
filhos. Há algo de errado nisso? Sim, quando é uma imposição e não quando é uma
escolha.
Ao romantizarmos uma mulher, estamos
dizendo como ela deve ser, quando, na verdade, o direito de ser e estar não
pertence a mais ninguém senão a ela mesma. Houve muita luta para ouvirmos hoje
que “lugar de mulher é onde ela quiser”. Compreender essa frase é perceber que
a escolha é somente da mulher. A escolha é dela se quiser ser jogadora de
futebol e a escolha também tem que ser dela se quiser ser dona de casa. Ela tem
que poder escolher as próprias roupas. Ela tem que ter a fala respeitada. Ela
tem que ter o corpo respeitado, independentemente da roupa e da hora que sai de
casa. O “não” dela tem que ser
respeitado.
Essa cultura de desrespeito às
escolhas, à fala, ao “não” da mulher sustenta também a violação de seus corpos.
No Brasil, hoje, registra-se um caso de agressão à mulher a cada quatro
minutos. Enquanto você lê esse texto, contabilizamos mais uma vítima. Nesse
período de quarentena em decorrência da pandemia do coronavírus, os números de
casos de violência doméstica no Rio de Janeiro cresceram 50% (cinquenta por
cento), segundo dados do Plantão Judiciário noticiados pelo G1.
Parece-nos que ficar em casa, em
família, pode ser uma ameaça para as mulheres. Mas o problema não é a
quarentena. O problema é o agressor e a sociedade que ainda reproduzem, em
alguma medida, a ideia de que a mulher pertence à outra pessoa e, por isso, seu
corpo poderia ser agredido.
Mudanças de mentalidade não são rápidas.
Trata-se de um trabalho de formiguinha, dia após dia, alterando hábitos na
fala, nas atitudes, conversando com as pessoas ao redor e, com o tempo, podemos
ver as diferenças na sociedade.
A legislação também é uma importante
aliada para fomentar mudanças de comportamento. A popularmente conhecida Lei Maria
da Penha é um considerável exemplo de lei que criou mecanismos visando a coibir
a violência doméstica e familiar contra a mulher. Recentemente, em 2015, uma
nova lei incluiu no código penal o crime de feminicídio, isto é, o homicídio
praticado contra a mulher por motivos de discriminação de gênero, cuja pena é
maior do que o homicídio comum.
O avanço da legislação é importante
porque reconhece a necessidade de tratamento específico dos crimes cometidos em
função de gênero. Entretanto, a luta das mulheres ainda tem muito a avançar,
afinal só faz sentido se falar em feminicídio enquanto há uma sociedade que
ainda não respeita as mulheres.
Bom será quando não precisarmos mais
falar sobre isso, mas, enquanto for necessário, falar será o melhor presente às
mulheres. Não vejo problema em dar flores, o problema é não respeitar a mulher,
seu espaço e suas escolhas nos outros 364 dias do ano.
Que março seja um marco para nos
inspirar! Força, mulheres!
* A autora do texto, Gabriela Rohem, é Advogada, Membro da Comissão da Jovem Advocacia e Membro da Comissão de Direitos Humanos
da Ordem dos Advogados do Brasil / OAB-RJ
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