-->

domingo, 8 de março de 2020

No Dia Internacional das Mulheres, Virgínia Vieira Homenageia os 105 anos de sua Avó Jandira dos Santos Vieira

O ano era 1915. Na Primeira Guerra Mundial, acontecia a batalha naval entre britânicos e alemães. Heitor Villa-Lobos realizava o primeiro recital com obras de sua autoria, na cidade fluminense de Nova Friburgo. Mas não é desta história que esta data traz consigo, que quero falar. Quero falar de nascimento, de gratidão, de amor. Quero falar que há 105 anos, nascia a minha avó, Jandira.
A linda história de 105 anos da itaocarense Jandira dos Santos Vieira
Filha de imigrantes portugueses, fazendeiros da zona rural de Itaocara, ela cresceu e foi educada para ser dona de casa. Com 14 anos, foi estudar no Colégio de Pádua e seus professores, segundo ela, foram Lavaquial e Mariquinha. Dentro da cultura da época, não podia escolher seu parceiro para a vida, o marido por quem se apaixonaria, vislumbrando o casamento. Ela foi prometida ao meu avô, José Vieira Netto (Juca). Não foi por amor, mas por respeito.

Casou muito nova (18 anos). O presente do seu pai pelo casamento foram fardos de alimentos (arroz, feijão, açúcar...), quantidade que daria por bons meses, para iniciar a nova vida.

Juntos tiveram 6 filhos: 5 mulheres e 1 homem. Numa família feminina, reinava o coronelismo. A voz do meu avô era a primeira e última. Vovó conta que às vezes o almoço já estava pronto, vovô chegava com vários “camaradas”, comiam a comida toda e, por final, ela tinha que se virar para dar conta de outra, afinal, tinham os filhos para alimentar. Como a filha mais nova era “temporona”, regulava idade com seus primeiros netos. Assim, foram criados juntos, como irmãos.

A parte mais engraçada, enquanto morou na roça, que ela conta, é que quando precisavam de roupas novas, vovô comprava uma peça de tecido (sim, um rolo inteiro), estampado e, com este mesmo tecido, fazia roupa para todos os filhos e, por vezes, para alguns netos.

Segundo ela, para ter água em casa, tinha que andar quilômetros para buscar e ainda retornar com uma “lata” de água na cabeça. Seus filhos ajudavam, assim como os netos. Lavar roupa era na cacimba.
Carregando no ventre a nova geração, Virgínia destaca a matriarca da família, Jandira dos Santos Vieira, que completou 105 anos
Obviamente não foi fácil, mas venceu todas as barreiras enquanto esposa, mãe e avó, até que vieram morar na cidade de Itaocara. Aqui seus filhos seguiram suas vidas, estudando, casando.

Há praticamente 40 anos, exatamente no domingo de um Dia das Mães, perdeu uma das suas filhas num acidente de carro, momento este que abalou toda família e deixou minha avó sem o brilho no olhar.

Meus avós chegaram a completar 50 anos de casados, mas pouco tempo depois, meu avô faleceu. E é neste momento que “inicia” o meu apego à minha avó.

Eu tinha 9 anos quando meu avô faleceu. Então, para vovó não ficar sozinha, meus pais, meu irmão e eu fomos morar com ela. Meus pais sempre trabalharam o dia todo (por alguns anos, papai ficava fora de casa muitos meses enquanto foi garimpeiro) e, foi na figura da minha avó que me apeguei. Era ela com a qual passava quase o dia inteiro. Era ela quem fazia o nosso alimento. Era ela quem cuidava do meu irmão e eu.

Quando completei 12 anos, meus pais se separaram e, mamãe então virou mentora da casa. Trabalhava fora o dia inteiro enquanto vovó preparava o nosso alimento. Quando mamãe chegava em casa, era responsável por nossas roupas e limpeza.
Cada palavra, cada letra deste texto, é o resultado do profundo amor, da profunda gratidão, da neta Virginia, por sua avó, Jandira
Nunca tivemos uma vida de luxos. Nunca. Ainda com 11 anos, minha avó ensinou-me a cozinhar. Desde então, quando tinha oportunidade, sempre ficava a beira do fogão pegando seu jeito, seu tempero, seu “pulo do gato”. Até hoje, tudo que faço na cozinha é tentando lembrar cada detalhe do seu jeito de fazer e claro, da minha mãe.

Pouco antes da vovó completar 90 anos, caiu e teve uma fratura em seu ombro, a qual afastou-a da cozinha. Foi então que mamãe também assumiu este comando.

No mesmo ano que completou 93 anos, teve mais uma perda brusca, de mais uma filha: justamente a minha mãe Valéria. Outro acidente de carro. Tudo se repetia. Brilho no olhar? Ela não sabia mais dizer o que é isso ...

Incontáveis vezes são os momentos que ela me chama de Valéria. Dizem que meu rosto muito lembra minha mãe e, por isso, acredito que ela “se perca” nos nomes.

Na ausência física da minha mãe, minha referência de figura materna é, sem dúvida, a minha avó. Além de mãe e avó, ela é bisavó e tataravó. Ela é fortaleza, é aconchego em tempos de guerra, é colo, é amor. É meu porto seguro pelo qual sempre retorno.

Em toda minha vida, jamais imaginei que perderia minha mãe antes da minha avó. Então, sempre sonhei que minha avó conhecesse minha descendência. E assim Deus agiu: foi uma das primeiras para quem contei sobre minha gravidez. Acolheu este acontecimento com tanto amor que é impossível escrever isso sem emocionar-me. No auge dos seus 103 anos, conheceu o meu filho, o seu bisneto Emilio. Obviamente foi na casa dela a minha escolha para passar toda minha licença maternidade.

E sabem o que é mais lindo desde que Emilio veio ao mundo? É a cumplicidade dos dois. Minha avó, em seu tom baixo carinhoso dizendo “meu filhinho, meu Milinho”, conquistou Emilio com toda pureza de uma criança. Onde ela está ele está. São momentos tão intensos e incríveis que eu só sei ser grata a Deus por esta dádiva!
Vovó Jandira com seu milinho no colo
No mês da mulher, homenagear ela que, pra mim, representa fortaleza e amor, é uma honra e tanto, afinal, quem mais fará parte da minha vida e ainda, com 105 anos em sã consciência? Se eu for um pouco para meu filho do tanto que ela representa na minha vida, já será bastante.

Desejo de verdade que Deus prolongue os dias dela conosco e, quando findar aqui sua missão, então continuarei com meu coração grato por ter tido oportunidade de viver com ela tantos momentos e sentimentos incríveis!

Obrigada por esta oportunidade de falar um pouquinho dela e do meu sentimento por tê-la conosco!

Feliz Dia Internacional das Mulheres!






Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Carlinhos Barrias - Bar dos Amigos

 


PARCEIRO


Studio Fênix - Visite


Itaocara Seguros

Core Contabilidade



Postagens mais visitadas

Arquivo do blog

Referências

Unordered List

Support