-->

terça-feira, 31 de março de 2020

Drª. Gabriela Rohem: “Em nome das que lutaram por nós, lutemos por todas”

Oito de março é o dia internacionalmente dedicado às mulheres. Porém, dizer isso é pouco, uma vez que não se trata propriamente de um dia de comemoração, mas sim de luta. A origem dessa data remonta ao início do século XX, quando mulheres se uniam em diversos países do mundo na luta por melhores condições de trabalho.
Gabriela com o pai Fernando, a irmã Ingrid e a Mãe Juliane
Dizer que a data é comemorativa seria reduzir sua importância histórica na luta das mulheres, as quais, ainda hoje – mais de 100 anos depois –, disputam pautas tão semelhantes às que foram trazidas à tona no passado.

Ainda precisamos falar acerca da desigualdade salarial e da sobrecarga de funções imposta às mulheres, que acabam por administrar família e trabalho. Ainda precisamos falar sobre questões elementares como o corpo da mulher pertencer somente a ela e a mais ninguém.

Historicamente a sociedade tratou mulheres como coisa que pertencia sempre a um homem. Primeiro a seu pai e depois a seu marido. Nunca humana e nunca pertencente a si mesma. Ela tinha uma função socialmente imposta de devotamento à família, no cuidado do marido e dos filhos. Há algo de errado nisso? Sim, quando é uma imposição e não quando é uma escolha.

Ao romantizarmos uma mulher, estamos dizendo como ela deve ser, quando, na verdade, o direito de ser e estar não pertence a mais ninguém senão a ela mesma. Houve muita luta para ouvirmos hoje que “lugar de mulher é onde ela quiser”. Compreender essa frase é perceber que a escolha é somente da mulher. A escolha é dela se quiser ser jogadora de futebol e a escolha também tem que ser dela se quiser ser dona de casa. Ela tem que poder escolher as próprias roupas. Ela tem que ter a fala respeitada. Ela tem que ter o corpo respeitado, independentemente da roupa e da hora que sai de casa.  O “não” dela tem que ser respeitado.

Essa cultura de desrespeito às escolhas, à fala, ao “não” da mulher sustenta também a violação de seus corpos. No Brasil, hoje, registra-se um caso de agressão à mulher a cada quatro minutos. Enquanto você lê esse texto, contabilizamos mais uma vítima. Nesse período de quarentena em decorrência da pandemia do coronavírus, os números de casos de violência doméstica no Rio de Janeiro cresceram 50% (cinquenta por cento), segundo dados do Plantão Judiciário noticiados pelo G1.

Parece-nos que ficar em casa, em família, pode ser uma ameaça para as mulheres. Mas o problema não é a quarentena. O problema é o agressor e a sociedade que ainda reproduzem, em alguma medida, a ideia de que a mulher pertence à outra pessoa e, por isso, seu corpo poderia ser agredido.

Mudanças de mentalidade não são rápidas. Trata-se de um trabalho de formiguinha, dia após dia, alterando hábitos na fala, nas atitudes, conversando com as pessoas ao redor e, com o tempo, podemos ver as diferenças na sociedade.

A legislação também é uma importante aliada para fomentar mudanças de comportamento. A popularmente conhecida Lei Maria da Penha é um considerável exemplo de lei que criou mecanismos visando a coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Recentemente, em 2015, uma nova lei incluiu no código penal o crime de feminicídio, isto é, o homicídio praticado contra a mulher por motivos de discriminação de gênero, cuja pena é maior do que o homicídio comum.

O avanço da legislação é importante porque reconhece a necessidade de tratamento específico dos crimes cometidos em função de gênero. Entretanto, a luta das mulheres ainda tem muito a avançar, afinal só faz sentido se falar em feminicídio enquanto há uma sociedade que ainda não respeita as mulheres.

Bom será quando não precisarmos mais falar sobre isso, mas, enquanto for necessário, falar será o melhor presente às mulheres. Não vejo problema em dar flores, o problema é não respeitar a mulher, seu espaço e suas escolhas nos outros 364 dias do ano.

Que março seja um marco para nos inspirar! Força, mulheres!

* A autora do texto, Gabriela Rohem, é Advogada, Membro da Comissão da Jovem Advocacia e Membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil / OAB-RJ
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Carlinhos Barrias - Bar dos Amigos

 


PARCEIRO


Studio Fênix - Visite


Itaocara Seguros

Core Contabilidade



Postagens mais visitadas

Arquivo do blog

Referências

Unordered List

Support