Vivemos um tempo em que dizer que uma
mulher é ou está "plena" é um grande elogio. Ou seja, conferimos a
ela um termo que reporta à totalidade, àquilo que é inteiro, a quem nada falta.
Ingrid com o Pai Fernando e as mulheres da família |
No entanto, tentar caber neste termo é fazer o esforço - fadado ao fracasso - de carregar nos ombros o peso de tantos imperativos que recaem, inclusive e principalmente, sobre o corpo.
Ninguém pode ser tudo e, ao tentar sê-lo, termina sendo nada daquilo que quer.
Com o namorado Lucas Lopes |
É com seus corpos que as mulheres pagam:
Quantos filtros, photoshop, exageros estéticos;
Quantos projetos abandonados;
Quantos choros na frente do espelho;
Quantos assédios;
Quantos abusos;
Quantas interdições sociais e culturais da circulação por espaços;
Quanta dor...
Quanta romantização dessa dor!
A Itaocarense e Psicanalista, Ingrid Rohem |
Como é alto o preço que se paga por ser mulher - ou por tentar corresponder a uma das versões prontas.
Referir-se a elas no plural é uma forma de lhes fazer mínima justiça.
"A mulher" forte, incansável, invencível, que dá conta de tudo, superpoderosa, guerreira, com instinto de cuidado e zelo, sobretudo materno, é UMA mulher inventada.
"A mulher" nem existe.
Ao lado de sua avó materna, Dona Zelina |
Mas existem sujeitos que por sua plasticidade constituem versões de mulher.
Mas que, por tantas vezes, são capturados por imperativos que tentam forjar aquilo que é impossível de atingir. Nada mais são do que versões, como outras tantas, as quais tentam elevar ao estatuto de "Amélia" - a mulher de verdade.
Por tentarem ser plenas, as mulheres sofrem.
Muito chamego com a avó paterna, Dona Orma |
Que a força - tão referida como característica das mulheres - não lhes sirva para carregar rótulos, imperativos e estereótipos.
Que elas lutem pelo direito de "des-ser", ou dito de outro modo: que se descolem de tudo que é dito "instintivo" nas mulheres e passem a se definir por aquilo que escolhem construir para si ao invés de tentarem caber em modelos prontos.
A mulher talvez seja uma miragem.
E na tentativa de alcançar sua solidez, substancia e consistência, tem sorte quem consegue se guiar pelo desejo que encontra em si mesma.
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