Mãe de dois
filhos, recém-separada, Auristela Araújo se viu na necessidade de ter um
emprego fixo e estável. Decidiu fazer a inscrição para ser Telefonista da
Prefeitura de Rio das Ostras. Mas na fila, soube que estava sendo criada a
Guarda Municipal. Como o número de vagas era maior, resolveu prestar concurso
para a Guarda. Passou, treinou, foi efetivada e está faz Vinte Anos envergando
a farda, com máximo orgulho e felicidade.
Nova Voz On Line – Sempre quis trabalhar numa corporação militar, como a
Guarda Municipal?
Auristela Araújo - Meu sonho era me formar Contadora, como a minha mãe, e trabalhar na
área. Minha Mãe sempre foi um grande exemplo a ser seguido. Mulher maravilhosa.
Então, queria ser igual a ela, inclusive na profissão. Mas a vida me levou para
outro caminho.
Nova Voz On Line - Como surgiu a Guarda Municipal de Rio das Ostras em sua
vida?
Auristela Araújo - Sai do Rio de Janeiro recém-separada. Já era mãe do Igor, que hoje faz
faculdade de história; e da Marcela, minha filha que agora já está formada, em
administração, e é casada. Mas, naquela época, ambos eram bem pequenos. Para
criá-los, precisava trabalhar em algo fixo. Foi quando soube do concurso de Rio
das Ostras. Eu morava em Conceição de Macabu. Na verdade, fui fazer a inscrição
para telefonista da Prefeitura. Lembrando agora, parece incrível, pois mudei de
ideia em cima da hora. Já estava na fila, quando percebi que o número de vagas
era maior ao cargo de GUARDA. Foi a melhor coisa que fiz. Não consigo me
imaginar trabalhando sentada, atendendo telefone. Nada contra quem é
telefonista. Só não é o meu perfil. Amo o que faço. Sou uma das fundadoras da Guarda
Municipal de Rio das Ostras.
Auristela com o filho Igor, no casamento da filha Marcela |
Nova Voz On Line – No processo seletivo e depois, no treinamento, ouviu
alguém dizer algo como: “vai ser Guarda?”? Como reagiu?
Auristela Araújo – Mulheres que ocupam espaços considerados
masculinos, sempre vão ouvir alguma coisa. Tive uma prima que me perguntou se
eu não tinha vergonha de usar farda e ficar trabalhando no trânsito. Ri e
respondi que pelo contrário: SENTIA-ME PODEROSA (risos). Falando sério, dentro
da corporação aprendemos muita coisa. O trânsito é apenas um dos braços da
Guarda Municipal. Todos passam primeiramente pelo trânsito e pela Guarda de Patrimônio.
Na época, o transito de Rio das Ostras utilizava cones. O trabalho era
infernal. O Major Santos e o Tenente De Paula ocupavam os cargos de Secretario
e Sub Secretário e nos davam todos os aparatos necessários para realizar um bom
trabalho, independente de sermos homens ou mulheres.
Nova Voz On Line - Pode nos contar alguma experiência curiosa, que enfrentou
trabalhando, que tenha relação ao fato de ser mulher?
Auristela Araújo – Hoje chega a ser engraçado. Mas anos
depois de estar na Guarda, numa época de troca de governo, sofri muito e fiquei indignada com essa história. Houve
uma mudança estrutural e a Diretoria que eu fazia parte, ganhou dois
departamentos. O correto seria eu ser uma das chefes, já que, por ordem de
matrícula, a minha era a mais antiga. E eu tinha qualificação. Pois bem, não
fui promovida pelo fato de eu ser mulher. Eu fazia o mesmo trabalho que os homens,
alcançava os mesmos objetivos, mas não podia comandar. Ofereceram-me outra
chefia, noutro setor e não aceitei, porque gostava de onde estava. Isso me
marca até hoje.
Nova Voz On Line – No geral, são os homens ou as mulheres que demonstraram
mais preconceito, com você, no exercício da sua função?
Auristela Araújo - São os homens. O machismo ainda é
algo natural entre os homens. Por isso fundamental nos fazermos respeitar pela
postura e pela farda que usamos. Se for preciso, chamamos reforços. Mas a mulherada
da Guarda Municipal de Rio das Ostras da conta do recado. Mostramos aos homens
que ali não é uma questão de ser homem ou mulher, mas sim de estar fazendo um
serviço com seriedade e profissionalismo.
Femininas e Competentes, as Guardas Municipais de Rio das Ostras, Gil, Auristela e Mônica, se Destacam pelo Alto Grau de Profissionalismo |
Nova Voz On Line – Tem gente que acha que ser Guarda, ser Policial ou outra
profissão do tipo, tira a feminilidade da mulher. O que diria a essas pessoas?
Auristela Araújo - Diria que a mulher fardada chama
muito mais a atenção. Junto com a farda, damos nosso toque feminino. Uma maquiagem,
por exemplo. Somos notadas pelo poder da farda, agregada a feminilidade de cada
uma de nós. Somos mulheres. Mas não somos frágeis, no exercício da profissão.
Nova Voz On Line – Quando atende algum caso, relacionado à violência contra
mulher, muitas vezes praticado pelo companheiro, como se sente?
Auristela Araújo – Não é fácil. Necessário ser profissional. Tomar as medidas necessárias para resolvermos a situação. Mas muitas vezes
passa pela nossa cabeça a pergunta: o que faz um homem chegar a esse ponto? E o
que permite uma mulher passar por isso? No momento faço meu trabalho na melhor
forma possível. Jamais levo trabalho para casa. Já vi muita coisa triste:
abandono, alcoolismo, homicídio, agressão sexual, acidentes de trânsito e
muitas outras coisas, envolvendo homens e mulheres.
Nova Voz On Line – Depois de tanto tempo na Guarda Municipal de Rio das
Ostras, olhando para trás, foi uma boa decisão ter ingressado nessa corporação?
Auristela Araújo – São 20 anos de muitas histórias para
contar. Tenho orgulho da minha vida profissional. De estar na construção de uma
pequena Guarda, que se transformou ao longo dos anos, e hoje é um importante
componente da Secretaria Municipal de Segurança Pública de Rio das Ostras. O
Secretário Carvalhão tem muita experiência. Tem mostrando que estamos
trabalhando com seriedade, por uma Rio das Ostras mais segura, para o morador e
para o turista. Um filme passa a minha frente, ao sentar para responder essas
questões. Estou me graduando em Segurança Pública. Tenho muito trabalho a
fazer. Mas temos que ter em mente que a Segurança precisa estar aliada ao Esporte,
Educação e Cultura. Para funcionar, não há como isolar nenhum desses
componentes.
Nova Voz On Line – Como Mulher, Mãe e Guarda Municipal, que mensagem
deixaria aos leitores da Nova Voz On Line?
Auristela Araújo - Ser mulher é uma benção. Gerar um filho é algo inexplicável. Hoje
vivemos em um mundo, que graças ao esforço de muitas mulheres, tivemos grandes
avanços. Mas ainda falta equiparação salarial, falta o respeito por parte de
muitos homens, que ainda pensam que a mulher é sua propriedade. Acredito que o
futuro está na união harmoniosa entre homens e mulheres. A mulher pode tudo e
sempre poderá, pois não somos o sexo frágil. Se chorarmos, tenho certeza que
grandes homens, homens de verdade, também choram. Agradeço a todos os Comandos
que passaram pela Guarda Municipal, por terem sempre buscando, dentro de sua
visão, o melhor para nós. Tenho orgulho da farda que visto, tenho muito carinho
pelos meus colegas de trabalho. Muito obrigado a todos!
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ResponderExcluirParabéns, Istelinha! Você é um exemplo! É uma mulher incrível, um ser humano ímpar! Sua profissão é linda e fazer o que ama é maravilhoso!
ResponderExcluirParabéns, querida Estela!!! Que bacana sua história!!! Orgulho estarmos tão bem representadas em tão importante profissão!!! Que Deus te inspire e te abençoe infinitamente em seu trabalho e na sua vida!!!
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