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quarta-feira, 27 de março de 2019

O QUE EU NÃO PRECISO NESTA SEMANA DA MULHER - Texto: Day Ribeiro


O Dia Internacional da Mulher não deveria ser sobre distribuir flores e champanhe na porta do shopping, ou sobre namorados e maridos apaixonados importarem-se em comprar um bombom, porque você é a mulher mais perfeita do mundo.
Nunca entendi porque na primeira semana de março a mulher ganha contorno de santa. Não quero ser santa, não quero status de beleza inatingível ou bondade suprema por oito dias no ano. Não quero celebrar a versão romantizada da psique feminina, como da Ismália que enlouqueceu, da Capitu de olhos de cigana oblíqua ou da Iracema de cabelos negros como asa de Graúna. Mas sim homenagear a mulher real, que se frustra, que comete infração no trânsito, que tenta algo novo no cabelo, se arrepende e põe a culpa no cabeleireiro, aquela que tem reuniões infernais, que ouve piadinhas sem graça, que se refaz.

O dia 08 de março nunca foi sobre a fragilidade feminina, ou sobre a delicadeza e a suavidade, mas sobre a tenacidade que levou a milhares de mulheres às ruas, em busca de condições trabalhistas justas, direito ao voto, direito a um lugar na sociedade maior e mais significativo que meros adereços vivos. A semana da mulher honra a coragem daquelas que se fizeram ouvir no passado: nós somos relevantes. Graças a elas, você que lê este texto pode votar, dirigir, escolher sua profissão, divorciar-se, ou simplesmente dizer à sua filha com segurança: você pode ser o que quiser, o que sonhar.

É pela minha admiração por estas heroínas sem feriados, estátuas ou nomes de rua, que eu não quero, motivada pela vaidade, e ensoberbecer com as homenagens emotivas das campanhas de cosméticos, me deixarem cativar por lisonjas masculinas sobre a curva do meu sorriso.

Por elas, e por mim, darei voz esta semana à minha identidade como mulher: ativa no mercado de trabalho, mãe, esposa, leitora, consumidora de livros, sapatos, chocolate (nem sempre nesta ordem). Sou salto 15, sendo a diva que você quer copiar, mas também um pé de boi, quando o trabalho me chama, e às vezes sou uma condessa falida e descalça, sou Dandara, Leila Diniz, Zuzu Angel, Zilda Arns e também, porque não? Sou Marielle Franco.

Esse poder de escolher quem eu quero ser nesse mundo, desse empoderamento de nossa personalidade, com toda sua complexidade, feminilidade e ainda assim, força, é de que se trata a semana da mulher. A lembrança de que enquanto tivermos voz, haverá ouvidos e esperança de mudança, mesmo que elas não venham a tempo de serem testemunhadas por nossos olhos.

A semana da mulher é sobre aquelas que lutaram, foram presas, excluídas e exiladas pelo sufrágio feminino, suas vozes foram ouvidas e nossos olhos testemunham mulheres em alta patentes políticas, errando ou acertando, tal quais os homens. Porque muitas modelos, atrizes e artistas não se importaram serem tachadas de prostituas, é que hoje mulheres ligadas à arte constroem grandes carreiras. Porque Pagu, Bertha Lutz abriram caminho falando sobre a sexualidade feminina, você pode ler 50 Tons de Cinza dentro do metrô. Porque Maria da Penha, não se calou diante da última surra, hoje temos uma lei que protege a mulher da violência doméstica. E tantos outros exemplos...

Mulheres fortes, firmes, decididas. Em homenagem a elas, se quiser agradar, me dê um cacto. Uma planta forte, que sobrevive em ambientes áridos, como eu, como você, como todas as mulheres que ousaram descobrir-se.


Este texto está sendo publicado, como contribuição da nossa Leitora, Aline Vieira, uma mulher de grande destaque, como profissional, mãe e cidadã, no nosso Município. 

Ao tomar conhecimento da nossa série, publicada neste mês de março, em homenagem às mulheres e ler o texto da escritora Day Ribeiro, não teve dúvidas na importância de refletirmos sobre estas palavras.

Muito obrigado Aline e parabéns Day Ribeiro, pela riqueza e conteúdo de suas ideias.


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