A
Professora Danielle Júlio Teixeira, que leciona no Colégio Múltiplos, no Frei
Tomás e é uma das Diretoras do SEPE Itaocara, destaca abaixo que foi necessária
muita coragem às mulheres para superar uma série de convenções sociais e
conquistar espaço no Mundo. Ela tem esperança que a nova geração de jovens
possa aprender a respeitar as diferenças, criando um ambiente de paz entre os
seres humanos, independente das suas individualidades.
A professora Danielle com as filhas filhas Luíza e Sofia |
Nova
Voz On Line
– De forma geral, que balanço faz, pensando no seu tempo de vida, sobre as
conquistas das mulheres, em meio à sociedade?
Danielle
Júlio
- Historicamente, a mulher foi subordinada ao poder masculino, tendo,
basicamente, a responsabilidade nas atividades referentes ao lar. Um processo
de lutas por direitos ao longo dos anos estão sendo travadas na sociedade. A
minha geração pôde vivenciar, aqui no Brasil, a criação de delegacias voltadas
para crimes contra as mulheres e, também, a vitória com a Lei Maria da Penha,
que pune os homens onde as mulheres sofrem as maiores atrocidades: em seus
lares.
Nova
Voz On Line
– A partir da sua formação acadêmica pode explicar aos nossos leitores, se as
mulheres, ao longo de toda história humana, sempre tiveram papel secundário, ou
isso é recente, em termos históricos – especialmente a partir da Revolução
Industrial?
Danielle
Júlio
- A minha formação acadêmica me leva a um instinto investigativo. Sempre
procuro ter base para expor meus pensamentos. E é “interessante” ver que as
mulheres, sempre tiveram um papel secundário e, às vezes até coagido, sendo
apenas enfeites dentro da casa do seu “senhor”.
Nova
Voz On Line
– Quais as consequências disto?
Danielle
Júlio
- Esta compreensão acorrentou, culturalmente, a mulher moldando sua existência
conforme as possibilidades apresentadas. Porém, com a advento da Revolução
Industrial, as duas Guerras Mundiais e os avanços científicos e tecnológicos,
surge o espaço para a mulher, principalmente, porque o trabalho da mulher foi
essencial para o sustento do lar.
Nova
Voz On Line
– Tinham um papel social definido?
Danielle
Júlio
– Sim, contudo não podemos esquecer grandes mulheres da História, que
ultrapassaram as barreiras das convenções sociais de sua época e de seu tempo,
se tornando exemplos até os dias de hoje. Gostaria de citar Cleópatra, Rainha Estrategista,
com alto nível de instrução e poder de persuasão; Joana D’arc, de origem pobre,
heroína na Guerra dos Cem Anos. Foi mártir e canonizada em 1920; a Rainha
Elizabeth I, chamada pelos historiadores de Rainha Virgem, que levou a
Inglaterra a um apogeu econômico no séc. XVI. No Brasil, tivemos Maria Quitéria,
que vestida de homem, lutou pela Independência do Brasil e a lendária Anita
Garibaldi, que ao lado do seu marido, lutou em Farroupilhas e depois na Europa,
contra a invasão da Itália pelo Império Austro-Húngaro. Pessoas realmente
extraordinárias que não foram detidas pelos preconceitos da época.
Nova
Voz On Line
– Muita gente critica o feminismo. Mas concorda que ele teve papel importante e
ajudou muito a criar uma nova consciência em relação às mulheres?
Danielle
Júlio
- As mulheres foram vistas como apêndice masculino por muito tempo, sempre de
forma inferior. O feminismo vem lutar para provar que homens e mulheres merecem
direitos iguais. Por volta da década de 40, o feminismo dá seus primeiros
passos e, com isso, passa a se pensar na possibilidade de um futuro diferente,
se comparado a milênios de inferiorizarão, submissão e desqualificação.
Nova
Voz On Line
– Por que mulheres empoderadas intimidam, não só os homens, mas também outras
mulheres?
Danielle
Júlio
– Curioso é que fui criada num lar conservador e machista. Porém, o patriarca
(meu pai) sempre nos ensinou o valor do trabalho, para que fossemos, do ponto
de vista financeiro, independente dos nossos cônjuges.
Nova
Voz On Line
– Interessante.
Danielle
Júlio
– E é verdade, isso assusta o sexo masculino. A mulher que luta, que sai cedo,
que ajuda ou sustenta a casa, as mulheres que conhecem e reconhecem o seu
valor, talvez gerem nos homens medo de perder o controle. Talvez a nova geração
perceba que amor não tem relação com controlar.
Nova
Voz On Line
– Mas e as mulheres que também se opõe ao feminismo?
Danielle
Júlio
– Elas são frutos da cultura patriarcal decadente, que vive seus últimos
suspiros, em minha opinião. Existe uma explicação histórica de submissão, sem
contar que muitas lutas esbarram em questões religiosas. Mas gostaria de deixar
claro que ser feminista, não é lutar por promiscuidade e libertinagem. Cada uma
tem sua visão e suas lutas. No geral, ser feminista é somente saber seu papel
na sociedade e lutar por ele. Saber seu lugar de pertencimento e igualdade.
Nova
Voz On Line
– Como professora, ao analisar o universo dos seus alunos, acha que a geração
mais jovem, vai construir uma sociedade de respeito e igualdade, entre os
indivíduos, transcendendo suas diferenças?
Danielle
Júlio
– Tenho esperanças neste sentido. Não apenas entre homens e mulheres, mas entre
raças, religiões e sexualidade e etc. Estamos vivenciando um caos social, onde
o ódio e o retrocesso nos invadiram. Mas creio que esta geração de jovens tem
tudo para mostrar que podemos viver em harmonia.
Nova
Voz On Line
– A educação acadêmica tem que papel no empoderamento da mulher?
Danielle
Júlio
– A academia é o local que nos alimentamos de conhecimento. Todo aquele que
busca com sabedoria e mente aberta, torna-se livre das amarras sociais. E o
“empoderamento” é isso: você se reconhecer como agente da sua própria história,
não simplesmente ser coadjuvante. Felizmente, nas últimas décadas, houve aumento
significativo no número de mulheres em variados campos acadêmico. Essa relação
é muito relevante.
Nova
Voz On Line – Como
mensagem, o que diria para todas as mulheres, neste mês de Março?
Danielle
Júlio - Sou
uma mulher que muito cedo tive que buscar minha independência. Quis ser livre.
Acredito que liberdade é sinônimo de felicidade. Nunca me curvei às
adversidades da vida. Nunca permiti que uma oportunidade fosse desperdiçada por
medo. Nunca sofri com o machismo diretamente, mas tive que ser dura, muitas
vezes. Ser mulher é ter coragem de enfrentar essas escolhas de cabeça erguida,
com dignidade e amor ao próximo. A mensagem então para que sejamos corajosas.
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